HEIDEGGER - O homem e sua relação com a natureza

Se as novas tecnologias são desenvolvidas para se obter uma maior produtividade por área plantada, como explicar o aumento do desmatamento para dar lugar à agricultura?

A mudança de paradigma parece ser sempre um processo demorado, a mudança político-ideológica deve ser a primeira tomada para o processo de mudança.

Há muito interesses de poder nas relações humanas, essa indagação, surge em momento oportuno, entretanto, acredito que teríamos que investigar profundamente o caso. Penso que, como claramente nos é posto, porque se temos soluções para a redução do desmatamento, não procedemos de modo a mitigar a degradação ambiental?

A resposta a esta questão, a meu ver está no choque de interesses de poder. Por um lado, quem domina, e por outro lado quem não domina. Entretanto, acredito que haverá um tempo que será impossível não usarmos as tecnologias para o uso sustentável, pois neste tempo, estaremos vivendo problemas que nos afetarão a todos de modo direto. E não será apenas uma questão de poder, mas de sobrevivência. Mas isso tudo, é claro, é hipotético, pois não posso prever o futuro. No mundo globalizado de hoje muitas coisas podem acontecer e mudar o cenário mundial.

Há outras preocupações na agenda dos países, uma possível guerra intercontinental pode mudar toda a geopolítica do planeta. E a questão desenvolvimento ambiental pode tomar vários rumos, os quais não saberemos. Para mim, empiricamente, acredito que, as relações humanas, seja em quaisquer problemática, devem partir de princípios éticos. Para os problemas ambientais já há várias soluções práticas, baratas e factíveis, entretanto, não as aplicamos, o que nos falta? Talvez a resposta seja mais complexa do que a propostas da dialética de Karl Max, talvez esteja no estudo ontológico. O estudo do ser poderia nos revelar essas tensões de poder de ordem humana?

Vejam o que afirmou Heidegger:

A formulação, hoje muito em voga, de que o homem ‘tem um seu meioambiente’ (der Mensch hat seine Umwelt) nada diz do ponto de vista ontológico, enquanto este ‘ter’ permanecer indeterminado. É que, em sua possibilidade, ‘ter’ se funda na constituição existencial do ser-em [um mundo]. Sendo essencialmente deste modo, o ser-no-mundo pode, então, descobrir explicitamente o ente que lhe vem ao encontro no mundo que o cerca, saber algo a seu respeito, dele dispor, ter ‘mundo’ (Welt). A fala ôntica e trivial ‘ter um meioambiente’ (Haben einer Umwelt), é, ontologicamente um problema. Para resolvê-lo é imprescindível que se determine, primeiro, de maneira suficiente e ontológica o modo de ser do ser-no-mundo. Pelo fato da biologia se valer desta constituição ontológica – sobretudo depois de K. E. von Baer – não se deve deduzir um ‘biologismo’ do uso filosó¬fico dessa constituição. É que, também a biologia, enquanto ciência positiva, não pode encontrar e determinar esta estru¬tura. Ao contrário, deve pressupô-la e dela fazer uso constante. Em si mesma, essa estrutura só poderá ser filosofica¬mente explicitada como um a priori do objeto temático da biologia, depois de ter sido compreendida como estrutura do ser-no-mundo. Apenas orientando-se pela estrutura ontológica assim concebida é que se poderá definir a priori, através de uma privação, a constituição ontológica da ‘vida’. (HEIDEGGER, 1993, p. 58)

Por isso penso que a resposta à estas questões da relação do homem e a natureza de seu entorno deve ser encarado filosoficamente e não apenas politicamente.