Batalha do Jenipapo

Há exatos 195 anos , às margens doutro riacho, desta vez o Jenipapo, em território piauiense, no município de Campo Maior, um aglomerado de patriotas piauienses, maranhenses e cearenses ousaram sem o mínimo conhecimento de guerrilha, emboscar as tropas portuguesas comandadas pelo major João José da Cunha Fidié, Comandante das Armas, sediada em Oeiras, então capital da Província do Piauí. Fidié retornava da Parnaíba, onde fora sufocar um levante separatista.

Eram brasileiros diplomados em pega de gado, roceiros e artífices, empunhados suas foices, enxadas, porretes, facas, fações e algumas espingardas. Seus combustíveis eram o inconformismo, a indignação e a vergonha na cara para não se sujeitarem as manobras da Coroa Lusitana.

Ora, estávamos no dia 23/ 03/1823, portando, seis meses após o tal Grito do Riacho Ipiranga. Se o Brasil já era independente de Portugal, essa tal independência vinha em lombos de jegue manco.

Pouco se tem falado e menos ainda ouvido. Tudo se teria perdido se não fossem os esforços de historiadores como Monsenhor Joaquim Chaves, Abdias Neves e mais recentemente Adrião Neto que publicou por sua conta e risco A EPOPEIA DO JENIPAPO, já na sua 2ª edição.

Vendo esse episódio hoje, pelo retrovisor era estrategicamente imponderável uma vitória de nossos patrícios. A carnificina era iminente e não deu zebra. Quem não recuou morreu. Nunca se vira antes nem depois, tanto sangue humano derramado e tantos cadáveres espalhados pelo chão com os feridos. Foi de sobra a maior e mais trágica batalha pela Independência do Brasil. Precursora de outro movimento separatista eclodida em Pernambuco dezesseis meses depois, em 2 de julho de 1824 com o nome de Confederação do Equador. De prático, tivemos o reconhecimento de dividir as tropas invasoras e levar o combate para um segundo tempo em terras maranhenses. Neste segundo entrevero, Fidié capitulou e retornou preso para Oeiras.

Segundo o incansável escritor Adrião Neto, 542 dos nossos homens ficaram prisioneiros e 200 mortos e feridos. Do lado lusitano foram 63 feridos e 19 abatidos o que mostra a estratosférica diferença de poder de combate.

Quando me lembro disso, sou forçado a perguntar-me: valeu a pena morrer por esse ideal? Quando vejo o Brasil dominado por uma quadrilha de bandidos engravatados, travestidos de Parlamentares; quando vejo o país governado pela pior corja de ladrões de toda a história; quando vejo bandidos pés rapados comandando crimes de dentro das cadeias; quando vejo bandidos ocupando as ruas armados até os dentes, roubando e matando impunimente; quando vejo o magistério desmotivado e não apenas isso, mas solapado; quando vejo policiais acuados, tombando em guerra campal sem apoio do Judiciário; quando vejo juízes como Nicolau dos Santos Neves roubando milhões do Fórum do Trabalho; quando vejo juízes tornarem-se “pop star”, pelo simples cumprimento do dever, enquanto outros distribuem habeas corpus a rodo, concluo que foi realmente um desastre tantas mortes por nada.

Há de se louvar a coragem de meia dúzia de magistrados, da Polícia Federal, do Ministério Público, da Procuradoria Geral da República e de parte da imprensa que ainda que amaçados publicamente, de futuras retaliações por parte de um ex-Presidente da República, réu condenado, não abdicaram de seu múnus. Só mesmo no Brasil, um réu sobe em palanques cheio de pabulagens, usando palavras torpes para agredir os contrários.

Sinceramente, o Brasil de hoje não causa orgulho a nenhum cidadão de bem. Espero que daqui a cinco anos, pelo bi-centenário dessa batalha histórica, eu ainda com vida ou os meus patrícios possam festejar com orgulho essa data.

PS.: Peço desculpas, pois eu tinha prometido pra hoje neste mesmo batcanal, mais um episódio da série Cosias Que Só Acontecem Comigo. Prometo voltar na sequência...

Um Piauiense Armengador de Versos
Enviado por Um Piauiense Armengador de Versos em 13/03/2018
Reeditado em 09/01/2019
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