A "fazenda dos animais" na propaganda eleitoral

A FAZENDA DOS ANIMAIS NA PROPAGANDA ELEITORAL
Miguel Carqueija

“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.”
(George Orwell, “Animal farm”)

Uma coisa que sempre me irritou na época de campanha eleitoral é a distribuição do tempo na propaganda de televisão. De fato, e isso transparece mais no horário de propaganda para cargo executivo (prefeitos, governadores e presidentes), quando apenas uma pessoa (melhor dizendo, a chapa, pois o vice entra) pode ganhar. Realmente, quanto mais o partido ou a coligação do candidato dispuser de cadeiras legislativas, mais tempo pode dispor.
A coisa chega ao cúmulo de certos candidatos só dispuserem de segundos de propaganda. Neste ano de 2018, entre os especialmente prejudicados encontra-se aquele que provavelmente é o melhor candidato, José Maria Eymael, da Democracia Cristã. Um homem expriente, que participou da Constituinte e defende abertamente a família.
Enquanto isso Geraldo Alkmin, do PSDB, tendo costurado muitas alianças, consegue uns 30 por cento do horário, o suficiente para postar vídeos compridos, ainda que ridículos. Isso embora seu partido tenha arruinado o país com o Plano Real e a imposição do sistema neoliberal, de extinção dos direitos do povo.
Se somarmos ao tempo do PMDB, do PT, do PDT e do PSOL, veremos que a esquerda recebeu, de longe, a parte do leão, no horário de propaganda, que aliás é apresentada como gratuita mas obviamente ão é gratuita, pois alguém paga.
Estamos em plena “fazenda dos animais” de Orwell, ou na Revolução dos Bichos, título colocado no Brasil ao livro em questão. Isso não é justo, pois aumenta a chance de vitória de quem já está em boa posição prévia. Não posso aceitar que o Brasil seja regido pela fazenda dos animais, pela revolução dos bichos. Isso é contrário á democracia. Precisamos urgentemente de uma reforma do sistema eleitoral. O voto deveria ser voluntário e as pesquisas eleitorais deveriam ser proibidas. E, importante também seria acabar com a fazenda dos animais, dando chances equitativas na propaganda em rádio e televisão.
NOTA – O romance “Animal farm”, do autor britãnico George Orwell, é uma fantasia alegórica passada numa fazenda onde os animais, liderados pelos porcos, se rebelam contra o jugo humano e fazem a revolução, expulsando os homens e instituindo um regime comunista, com grandes promessas e o lema, mostrado num cartaz, de que “todos os animais são iguais”. Após anos de trabalhos insanos e opressão contínua alguns dos bichos se lembram do cartaz, que havia sumido. Resolvem procurar e o encontram jogado num canto qualquer, mas os dizeres haviam sido ampliados, agora diziam: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.” Esta é a lógica seguida entre nós na propaganda eleitoral.

Rio de Janeiro, 10 de setembro de 2018.