*Eleitor burro

Eleitor burro

Causa desgosto o nível de analfabetismo político da grande massa de eleitores brasileiros. Por outro lado, vejo-me compelido a bater palmas para o eleitor burro. Eleitores que brigam ardorosamente por uma bandeira, por um partido de politiqueiros fazendo politicalhas, não são burros. Inúmeros outros que perdem amigos, que agridem e esculacham com a honra alheia, sem sequer saberem onde reside o busílis da equação eleitoral, também não são burros!

Os burros não relincham por uma carga de tijolos ou de pedras, não dão

coices por um par de esporas novas, ou por uma tripla chibata de couro retorcido. Eleitores assim são piores, muito piores.

A grande massa de eleitores brasileiros sequer sabe quais as principais bancadas do nosso Congresso. Pois bem, diremos algumas poucas. Bancada ruralista, bancada sindical (não confundir com bancada dos sindicalizados), bancada dos direitos humanos (essa defende os marginais), bancada das construtoras, bancada da família (kkkkkkkkkk...), bancada da bola e do boi, bancada da Bíblia e, a mais recentemente criada, a bancada da bala. É possível que também exista, às escuras, a bancada da facada.

Bancada da Bala. Está, injustamente, associada ao deputado Jair Bolsonaro. Deveria ter como patrono “in memoriam” Ronaldo Cunha Lima, ex-governador da Paraíba que, em pleno exercício do cargo, desferiu, covardemente, três tiros à queima-roupa no seu antecessor, Tarciso Burity, no Restaurante Gulliver, na capital João Pessoa.

Bancada Ruralista. Essa é também conhecida com FPA (Frente Parlamentar Agropecuária). Tem por característica reunir-se para lautos jantares numa mansão do Lago Sul, regados a uísque importado, mas tem de tudo. Pergunto: esses príncipes estão preocupados com os idiotas que por eles dão a vida, assemelhando-se aos gladiadores romanos que se matavam no Coliseu para deleite de César?

Bancada Sindical. Essa não passa de um bando de picaretas distribuídos por vários partidos, com o precípuo objetivo de inflamar os trabalhadores rumo às greves nem sempre justas. Fomentando a tal revolta do proletariado. São espadas de fio duplo. Por um lado, insuflam os trabalhadores e, pelo outro, recebem propinas dos empresários na calada da noite, como foi citado no depoimento de Norberto Odebrecht ao juiz Sérgio Moro. Só que isso eu também vi, quando trabalhei em Alagoinhas, na Bahia. Sindicalistas saindo sorridentes de encontros com engenheiros da empresa, depois do expediente. Qual seria o motivo de tantas alegrias?

Bancada dos Empreiteiros. Preciso dizer alguma coisa? A Força Tarefa, denominada “Lava Jato”, revelou para o mundo o maior esquema de roubalheira jamais visto na história deste país. Todas as grandes empreiteiras brasileiras foram citadas como formadoras de cartel, onde fraudavam licitações e superfaturavam obras. Isso não me é novidade alguma, pois eu trabalhei e fiscalizei algumas dessas, sei como funciona.

Bancada dos Direitos Humanos. Por favor, quem souber ajude-me. Alguém, por um lapso do acaso, já viu algum membro da Comissão dos Direitos do Homem na porta de uma vítima do tráfico de drogas? Alguma família de pessoas honestas já recebeu assistência jurídica por um membro assassinado pelos traficantes?

Com certeza não, mas no dia 27/06/2017, o ex-vice-presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana, Luiz Carlos dos Santos, foi condenado a 16 anos de prisão por ligação com o crime organizado, acusado de receber mensalmente uma propina de cinco mil reais, revelando algo escabroso que já se sabia existir.

Bancada da Bíblia. Essa reúne, em sua maioria, pastores protestantes da IURD, espalhados por várias frentes. Quem não se lembra de um tal Bispo Rodrigues, Eduardo Cunha, Pastor Heleno, Silas Câmara e o “Escândalo do Cotão”, envolvendo outros quinze pastores? Desde quando essa gentinha egoísta esteve preocupada com seus fiéis defensores?

Bancada da Bola. Essa é composta por vários parlamentares, presidentes ou vice-presidentes de clubes de futebol, esparramados por muitos partidos. O único objetivo é engendrar atalhos para o perdão das milionárias dívidas de seus clubes com a Previdência Social, ou renegociação generosíssima. O futebol brasileiro é um antro de subornos e desconfianças. Não é sem fundamentos que José Maria Marins, ex-governador paulista e ex-presidente da C.B.F., está condenado nos USA, pagando milhões de dólares por uma prisão domiciliar. De todo esse dinheiro desviado, algum centavo foi parar no bolso dos torcedores, por acaso? Onde a galera está sendo lembrada nisso?

Bancada da Família. Essa é de longe a mais ardilosa, ladina e sonsa. Se

alguém pensa mesmo que essa bancada está preocupada com a família brasileira, errooooooooooooou! Essa está, sim, muito preocupada com a perpetuação dos seus familiares nas tetas do governo e do Estado. Os velhos coronéis e barões deram uma nova cara às velhas oligarquias. Esses têm preferências nos partidos e distribuem as vagas hereditariamente de avós a pais, filhos, netos e sobrinhos. Estão presentes em todos os Estados confederados. São conhecidos há décadas, mas não conhecem a família de ninguém.

É óbvio que “o poder emana do povo e em seu nome é exercido” em benefício de uma casta predadora e assassina, sem o menor grau de responsabilidade e patriotismo. Por falar, acidentalmente, em patriotismo, é possível que essa palavra já tenha sumido dos dicionários.

O Congresso Nacional se constitui de 513 deputados federais e 81 senadores da República, totalizando 594 parlamentares. 530, ou seja, 89,22% estão sendo investigados por algum tipo de falcatrua. Acobertados pelo diabólico manto da imunidade parlamentar e pela lentidão do maldito foro especial, a grande maioria será absolvida pela prescrição de prazo.

Os partidos se estigmatizam pelas ideologias. Esquerda, direita, centro- esquerda, centrão e não se sabe mais o quê. O povo é asa de xícara: Está do lado de fora.

Minhas esperanças se ancoram no desejo de que esses que hoje se estapeiam, xingam, caluniam, perdem amigos e o bom senso evoluam e virem eleitores burros. Político algum gosta do povo!

Por isso, se ligue, se plugue, se manque!