O país das tragédias anunciadas

O país das tragédias anunciadas
Miguel Carqueija

Desde muito jovem ouço falar nessas coisas, o que a minha memória mais antiga me mostra é Orós, o açude que rompeu no Ceará. Mas eu ainda não acompanhava a questão das responsabilidades. Depois da queda do viaduto Paulo de Frontin, aqui no Rio de Janeiro, comecei a tomar conhecimento das indenizações não pagas, as vítimas não ajudadas, essas coisas.
Isso se tornou lugar-comum. São as inundações gigantes, os deslizamentos (como em Petrópolis) que deixam populações desabrigadas. Aí passa-se o tempo e a gente descobre que não cumpriram as promessas de alojamento, de aluguel social...
Prédios enormes que pegam fogo (Joelma em São Paulo, Andorinha no Rio), ou que desabam, a boate que incendiou, a ciclovia que desabou, o aeroporto desastroso, incêndios, inclusive o do circo em Niterói, e recentemente o do Museu Nacional no Rio...
Forma-se a indignação geral, nacional, midiática — mas providências que é bom nada, e as tragédias mesmo anunciadas continuam acontecendo.
Antes de Brumadinho houve Mariana, em pleno governo do PT. E o que o PT fez? Agora veio a claro a real situação de nossas barragens.
Pessoalmente, e como a Vale é reincidente, entendo que o Governo Federal precisa realizar a intervenção nessa empresa e afastar seu presidente, que declarou que a construção fôra feita com todos os requisitos de segurança. E sabemos que isso não é verdade. Acredito que existem diplomas legais que permitem a intervenção federal, afinal estamos diante de crime ambiental que ainda não acabou (fora as mortes, o próprio Rio São Francisco está ameaçado de contaminação). Isso é crime de lesa-pátria, afinal de contas. E que tal responsabilizar também FHC pela venda da Vale? Não sou socialista, não sou contra “a priori” as privatizações, mas o governo neoliberal do PSDB não tinha credibilidade para fazê-las. E a Vale em especial bem poderia ter continuado a ser estatal, visto o seu controle do subsolo, das riquezas minerais estratégicas. Ou pelo menos tinha que haver fiscalização. Sabemos (na época foi bastante denunciado por Hélio Fernandes) que a Vale foi vendida a preço vil. As privatização à la FHC serviram para acertas contas do governo mas em nada beneficiou o povo, que foi ferrado por aquele governo apátrida.

Rio de Janeiro, 4 de fevereiro de 2019.