Moro versus procuradores: Triste Fim da República de Curitiba

Certa manhã, ao saber de rumores de que Moro seria ministro de Bolsonaro, os jovens procuradores da Lava Jato sentiram medo.

31 de outubro de 2018:

"Isabel Groba – 09:24:41 – É o fim ir se encontrar com Bolsonaro e semana que vem ir interrogar o Lula.

Jerusa Viecili – 09:25:20 – Concordo com tudo, Isabel!

Laura Tessler – 09:25:27 – Tb!

Laura Tessler – 09:26:01 – Pelo amor de Deus!!!! Alguém fala pro Moro não ir encontrar"

Não temeram só que a imparcialidade das operações estivesse em xeque, mas que de estiveram durante todo este tempo sendo usados por um juiz de ambições políticas.

1º de novembro de 2018:

"Ângelo – 10:00:07 – Cara, eu não confio no Moro, não. Em breve vamos nos receber cota de delegado mandando acrescentar fatos à denúncia. E, se não cumprirmos, o próprio juiz resolve. Rs.

Monique – 10:00:30 – Olha, penso igual.

Monique – 10:01:36 – Moro é inquisitivo, só manda para o MP quando quer corroborar suas ideias, decide sem pedido do MP (variasssss vezes) e respeitosamente o MPF do PR sempre tolerou isso pelos ótimos resultados alcançados pela lava jato

Ângelo – 10:02:13 – Ele nos vê como “mal constitucionalmente necessário”, um desperdício de

O silêncio da omissão incomodava estes jovens heróis, que acreditaram estar salvando o Brasil da corrupção. A indicação de Moro por Bolsonaro ao ministerio da justiça rasgou o véu do templo: a medida que tudo se encaixava também jogava a baixo a missão moral da Lava Jato. Problemas antes ignorados e falhas perdoaveis agora se mostram consideráveis pela nova situação:

1 de novembro de 2018:

"Monique – 10:03:43 – E essa fama do Moro é antiga. Desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele já atuava assim. Alguns colegas do MPF do PR diziam que gostavam da pro atividade dele, que inclusive aprendiam com isso.

Ângelo – 10:04:30 – Fez umas tabelinhas lá, absolvendo aqui para a gente recorrer ali, mas na investigação criminal – a única coisa que interessa -, opa, a dupla polícia/ juiz eh senhora.

Monique – 10:04:31 – Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados".

A República de Curitiba se olhou naquela manhã de 2018 no espelho e viu aterrorizada a imagem da República do Galeão refletida:

"João Carlos de Carvalho Rocha – 08:10:31 – Ele se perdeu e pode levar a Lava Jato junto. Com essa adesão ao governo eleito toda a operação fica com cara de “República do Galeão”, uma das primeiras erupções do moralismo redentorista na política brasileira e que plantou as sementes para o que veio dez anos depois"

Incialmente pensaram ser um conjunto de erros de um simplório interiorano qua havia elogiado a vitoria de Bolsonaro. Temiam que tal ato corroborasse a versão da defesa e da esquerda sobre os propósitos políticos da Lava Jato.

"Alan Mansur PRPA – 20:21:05 – Esposa de Moro comemorando a vitória de Bolso nas redes

José Robalinho Cavalcanti – 20:21:29 – Erro crasso.

José Robalinho Cavalcanti – 20:22:09 – Compromete moro. E muito

Janice Agostinho Barreto Ascari – 20:25:30 – Moro já cumprimentou o eleito. Como perde a chance de ficar de boa, pqp

Luiz Fernando Lessa – 20:25:56 – esse povo do interior

Luiz Fernando Lessa – 20:26:02 – é muito simplório"

Depois comecaram a ver que, o que parecia ser um método eficaz de combate a corrupção e o que parecia ser um erro do juiz, era na verdade um plano:

"Monique Cheker – 11:28:23 – E a “escadinha” disso tudo foi terrível: Moro ajudou a derrubar a esquerda, sua esposa fez propaganda para Bolsonaro e ele agora assume um cargo político. Não podemos olhar isso e achar natural"

Mesmo antes da Lava Jato, moro se mostrava tendencioso. Ao cair em suas mãos denúncias cuja a magnitude estava além dos processinhos triviais da Vara que ocupava, viu ali muitas oportunidades.

Encontrou procuradores obedientes, que acreditavam que o método convencional de investigação não era suficiente para conter crimes relacionados a corrupção. Viam na sua proatividade as portas abertas para um novo caminho.

Moro foi ganhando fama e reconhecimento. Aparentemente realizou em parte o sonho de muitos juízes, ainda idealistas, de que brechas e jeitinhos não absolviriam criminosos de alto calibre.

Na verdade, nunca foi um idealista. Abraçou a verdade crua e nua de que não existe imparcialidade na justiça e tratou logo de escolher seu lado.

Não tardaria que ao escolher um lado, a política lhe acenasse com vôos mais altos, como ministro do STF ou mesmo, pela popularidade alcançada, a presidência da República.

Fica claro que os procuradores não viam sentido em Moro aceitar ser ministro da justiça quando poderia aguardar e pleitear um dia um STF. Como sempre a ingenuidade política destes jovens que pareciam acreditar em imparcialidade os impediu de ver o óbvio em Sérgio Moro.

Maquiavel ja nos ensinava sobre as qualidades de um homem que geralmente conquista e permanece no poder: ousadia para se arriscar(aproveitar a sorte e as escassas oportunidades quando surgem), frieza (as regras da política não coincidem necessariamente com as da ética) e manter o povo sempre do seu lado (uso da mídia e cuidado com a opinião publica - vazamentos estratégicos e seletivos).

Usar bem os recursos (alianças, brechas e parceiros) que tem em mãos e se livrar deles quando se tornarem um peso ou dificultador: promotores, cargo de juiz etc.

Com os cuidados da Globo e Estadão com estes escândalos e cegueira antipetista de muitos, se Moro não se tornar ministro do STF, vai acabar tendo que se contentar com a presidência da República.

Como nos volta ensinar Maquiavel, o governo conquistado pela sorte pode não ser por esta mantido - no caso Bolsonaro que sem ajuda da Globo e da Lava Jato estaria dormindo em alguma comissão da Câmara dos Deputados ao invés de vender colar de Niobio como presidente.

Moro conquistou metodicamente o poder, aproveitando oportunidades e as canalizando para o seus projetos. O acaso lhe deu oportunidades e ele soube fazer delas o que precisava para suas ambições.

A Lava Jato gerou desemprego e prejuizos muito superiores aos roubos e desvios apurados, comprometendo inclusive nosso PIB. Tudo isto para tirar a "esquerda" do poder e entregar acidentalmente à extrema direita o governo.

Era para ser um Serra ou Alckmin, mas exageraram a dose. A descrença na política, explorada por diversos grupos politicos e a própria midia afetou inclusive os adversários tradicionais do PT.

Moro esperou o momento certo, por isto não melindrou FHC e se calou diante de impropérios do Bolsonaro durante a campanha. Cooperou contra um inimigo comum (Lula) do PSDB (ainda poupou FHC), MDB e bolsonaristas. Teria um bom trânsito se qualquer destes três grupos vencessem.

Fonte das citações:

https://theintercept.com/2019/06/29/chats-violacoes-moro-credibilidade-bolsonaro/

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 29/06/2019
Reeditado em 29/06/2019
Código do texto: T6684502
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