Desmentindo mitos anticomunistas (01): Alemanha Nazista e URSS eram aliados?

Desmentindo mitos anticomunistas (01):

Alemanha Nazista e URSS eram aliados?

Ao pesquisarmos sobre o histórico pacto de Ribbentrop-Molotov, provavelmente iremos nos deparar com vídeos e textos na internet associados ao astrólogo Olavo de Carvalho, o atual “guru” da nova direita brasileira e de uma das três camadas do governo de Jair Bolsonaro, os chamados olavistas. Em tal material, Olavo vai defender uma antiga “tese” revisionista histórica de que o “Pacto de Não Agressão”, o mesmo sobre o qual começamos a falar nesse texto, era uma forma de firmar aliança entre a Alemanha Nazistas e a União Soviética. A partir disso, essa mesma “tese” vai trabalhar em cima de delírios pseudo-argumentativos, tentando igualar Adolf Hitler ao líder da URSS, Josef Stalin, como se ambos fossem “irmãos gêmeos”, no sentido figurado, indicando que em termos de governabilidade, objetivos, visão de mundo, ambos fossem o espelho um do outro.

Pois bem, essa tese é totalmente falsa. Mas para explicar o porquê, vamos trabalhar ambos os pontos apresentados nela.

Em primeiro lugar, é uma completa bobagem comparar o perfil pessoal de Hitler e Stalin. Ambos eram indivíduos completamente diferentes.

Adolf Hitler, ao desenvolver a estrutura do Terceiro Reich, antes de colocar em prática seu plano de assumir o poder na Alemanha no processo de derrubada da Repúblicar de Weimar, defendia uma estrutura social de acordo com a realidade material do sistema capitalista, mantendo então as relações baseadas na exploração da mais-valia e da propriedade privada dos meios de produção. Isso em relação a Alemanha, enquanto, no que se referia a outros países, tanto da Europa como de outros continentes, todos seriam subordinados a economia alemã, aos moldes da realidade dos países da América do Sul que se encontram na condição de capitalismo periférico, apesar de a relação entre o império nazista e todos os outros países pretendia ser bem pior, envolvendo também a escravidão dos povos eslavos e o possível genocídio das populações miscigenadas e dos povos africanos. Tudo isso pode ser encontrado tanto em alguns discursos de Adolf Hitler pela internet, como em seu livro Mein Kampf (Minha Luta). A partir disso, podemos entender que Hitler era um ultranacionalista imperialista, além de um eugenista e supremacista branco que tende a enxergar outros povos, se não os alemães, como inferiores, e isso é importante de ser reforçado para o momento de comparação com Stalin.

Outra característica de Hitler é que o mesmo rejeitava em todos os sentidos o marxismo como teoria política e o bolchevismo como base prática de um processo revolucionário.

Enquanto isso, Stalin era um marxista-leninista. Defendia um processo revolucionário baseado na superação do sistema capitalista e a construção de uma sociedade socialista baseada economicamente na coletivização dos meios de produção, abolição da propriedade privada e um Estado baseado na Ditadura do Proletariado. Sua visão para o mundo era de expansão da revolução socialista a partir de um bloco comunista forte o suficiente para defender a manutenção desse processo diante os ataques do imperialismo. Para isso, ele precisava desenvolver as forças produtivas não só da Rússia, mas de todos os países do leste europeu inclusos na União Soviética e posteriormente em todo o bloco soviético que incluía a própria URSS e nações independentes que eram suas aliadas política e economicamente. No que se refere a outros povos, Stalin jamais enxergou mestiços, asiáticos, africanos e outros europeus como inferiores, pelo fato de que, sendo comunista, automaticamente, Stalin era (isso era esperado dele) um materialista. O materialismo trabalha com a realidade concreta e isso não inclui pseudo-ciência desenvolvida no ocidente para justificar o racismo e a xenofobia. A grande prova disso é que, após a Revolução Russa, os assassinatos em massa de povos judeus promovidos pelo antigo regime czarista acabaram de vez. A população numerosa de muçulmanos e imigrantes do oriente médio foi reconhecida como cidadã e sua religião deixou de ser proibida. Nisso, os poucos negros, asiáticos e latinos que viviam na União Soviética também tiveram seus direitos de cidadãos naturalizados na Rússia, sem nenhum tipo de segregação. Em outras palavras, Stalin é entendido como um comunista e internacionalista revolucionário que rejeitava teses pseudo-científicas e não fazia distinções raciais entre os indivíduos humanos.

Mas falemos sobre o pacto em si.

É necessário analisar o contexto em que ele surge:

Em 1939, com a declaração de guerra entre os países Aliados (Estados Unidos, França e Reino Unido) e do Eixo (Alemanha, Áustria e Itália), a URSS, que se encontrava em pleno processo de industrialização de base, para desenvolvimento de suas forças produtivas, entendia que essa era uma guerra travada por nações imperialistas, tendo como a principal força de impulso de uma guerra mundial, a Alemanha Nazista, que tinha como objetivo, atacar os Aliados, e por rejeitarem o imperialismo, os soviéticos não eram favoráveis a essa guerra e por isso a boicotaram até onde poderiam. Nisso, também é importante levar em consideração que, em termos bélicos, a URSS não tinha condições materiais de enfrentamento com a Alemanha Nazista, apesar de seu numeroso exército vermelho e do conhecimento estratégico militar de Stalin. Assim, o tratado foi proposto pelo governo soviético na época e em várias de suas cláusulas, era reforçada a idéia de que se tratava de um pacto onde um não iria intervir militar e politicamente no outro e também não se ajudariam em nenhum aspecto, seja ele: econômico ou militar. O que selou esse pacto, além das assinaturas de ambos os representantes dos dois países foi à divisão da Polônia em ocidental e oriental, sob o comando de ambos os países. Todavia, em momento algum, ambos colaboraram mutuamente. Tanto que, posteriormente, a Alemanha viria a quebrar o pacto invadindo a URSS na Operação Barbarossa.

Para considerações finais, é necessário que as esquerdas compreendam esse tipo de tese defendida pelos setores “intelectuais” reacionários como parte de uma narrativa iniciada no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, após a Segunda Guerra, que buscava desmerecer a admiração conquistada pela URSS no mundo inteiro por serem os principais responsáveis pela derrota do nazi-fascismo, algo que era consenso na época. Muitos podem, de fato, concordarem que soa absurdo a hipótese de igualar Hitler e Stalin, URSS e Alemanha Nazista, mas também não contestam idéias que serviram de base para esse tipo de revisionismo histórico, como é o caso do conceito de “totalitarismo” da filósofa Hannah Arendt que, provavelmente, também serviu como base para a defesa de outra tese absurda também muito famosa: a de que o nazismo seria de esquerda. Ou seja, historicamente, as forças reacionárias tentam jogar seus podres para o outro lado a partir de uma narrativa falsa.

É necessário que a esquerda como um todo busque analisar documentos históricos que trabalhem a partir de um método de análise materialista dos fatos históricos e o menos ocidentalizado possível, para não cair na realidade fictícia construída pelo grande capital.

Fontes:

https://www.marxists.org/portugues/losurdo/2016/03/29.htm

https://riorevolta.wordpress.com/2013/05/14/o-marxismo-citado-no-mein-kampf-de-adolf-hitler/

https://br.historyplay.tv/hoje-na-historia/hitler-e-stalin-firmam-pacto-entre-alemanha-e-urss

http://makaveliteorizando.blogspot.com/2014/11/ser-negro-na-uniao-sovietica-e-nos.html

https://sanderlei.com.br/2019B-PDF-Livros/03B/S07/Mein-Kampf-Minha-Luta-pt-BR-Adolf-Hitler-PDF-Download-BRi.html
Gabriel Craveiro
Enviado por Gabriel Craveiro em 25/07/2019
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