A história de Dr. Arimatéia em Dueré

Por volta de janeiro ou fevereiro de 1994 chegam, a Dueré, Dr. Arimatéia Macêdo e sua Família. Veio decidido a morar e trabalhar. A pequena Dueré está localizada ao Sul do Estado do Tocantins, à direita da BR 153, para quem viaja no sentido norte/sul. Situada a aproximadamente 230 km de Palmas, Capital do Estado. É repleta de belezas naturais. A hospitalidade e receptividade do Povo são notórias. A perspectiva de futuro desta Região é muito grande.

O Dr. Arimatéia nasceu em Aurora, e criou-se em Juazeiro do Norte. É formado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Saúde da Família pela Escola de Saúde Pública do Ceará. É filho de um fotógrafo e sua mãe é funcionária pública estadual aposentada. É casado com Dona Janilda Macêdo e tem três filhos. Chamam-se Coêlho Neto, Eveline e Januário Neto.

A Comunidade os recebeu muito bem. A sua missão era trabalhar como médico assistindo a sociedade, e conseqüentemente dar o sustento aos seus familiares. Ao chegar deparou com um Posto de Saúde equipado para sua finalidade, porém insuficiente para o porte da cidade.

Além de Dr. João Edilson, já morava aqui o médico-veterinário Dr. Carlos Tabajara. Ambos já desenvolviam um trabalho de conscientização no intuito de engajar o povo em luta por melhores condições de saúde.

Ao começar a atender a comunidade, como médico, Dr. Arimatéia viu nos olhos e nas atitudes do Povo um sonho a realizar. As pessoas sonhavam com um Sistema de Saúde que resolvesse a grande maioria dos problemas que os angustiavam. As condições locais para atendimento não credenciavam a nenhum profissional a realizar nem mesmo a assistência a um parto normal. Ou seja, os filhos de Dueré nasciam e se tratavam em Gurupi distante a mais de 50 km.

Após vários bate-papos informais com os moradores, dentre eles pessoas ilustres como Sadoc Lima, o ex-prefeito Deocleciano Coêlho, a ex-vereadora Constância Rodrigues Gomes, o pedreiro José Carvalho da Cunha (Baiano), enfim a grande maioria dos duerenses, Dr. Arimatéia passou a entender que aquela gente tinha um sonho maior. Almejava ter um Hospital. Já eram descritos inúmeros casos que tinham tido resultados diferentes do esperado, devido a falta de um hospital.

Reuniram-se Dr. Tabajara, Dr. Arimatéia e Dr. João Edilson. Resolveram conversar com o povo. Apenas as pessoas pobres e carentes que precisavam da obra se engajaram na campanha. Alguns políticos locais ficaram contra a bela iniciativa dos duerenses, porém estes não recuaram. Aqueles argumentavam que “não havia condição de Dueré ter um hospital, nem era necessário”. Inclusive o Governo Estadual já havia enviado anteriormente uma verba para a edificação de um hospital, porém o dinheiro foi desviado. A primeira iniciativa esbarrou no baldrame.

Como não receberam o devido apoio das autoridades constituídas da cidade, convocou-se o povo para uma grande reunião no Amazonas Clube. Foi exposto o que a comunidade queria ouvir. O cirurgião-dentista João Edilson colocou muito apropriadamente o que deveria acontecer. Dr. Tabajara também foi muito enfático. O Dr. Arimatéia apresentou seus argumentos e a proposta para a construção do tão esperado hospital. A comunidade acatou e respeitou a sugestão para o início da empreita. O povo era detentor deste desejo há muito tempo. Ia-se, a partir daquela reunião e tantas outras que se sucederam, construir um hospital em regime de mutirão, através das doações da comunidade. Foi o que aconteceu.

As obras começaram em abril 1994, após uma avalanche de doações. Os fazendeiros, interessadíssimos, foram os mais generosos com seus repasses. O povo não ficou atrás e fez sua parte. Doava-se desde um ovo até dezenas de milhares de tijolos, e uma boa soma em dinheiro.

Desta maneira, e com a entrada na parceria da Imprensa escrita, falada e televisada, do Governo Estadual, e do povo das cidades vizinhas, em aproximadamente um ano e três meses do início da construção, já se fazia atendimento médico dentro do próprio hospital (foto). Inclusive neste primeiro edifício já funcionava uma Farmácia Básica com uma quantidade razoável de medicamentos.

No ano seguinte (1995), o Estado do Tocantins trocou de Governo. O Prefeito passou a ser do mesmo lado do governador. Neste instante ocorreram dois fatos importantes. Um deles foi a rescisão do contrato do Dr. Arimatéia com a Prefeitura local. A outra foi a sua transferência para o município de Peixe, cidade às margens do Rio Tocantins distante 120 km de Dueré, dificultando a continuidade da construção. Mas em isto o fez parar. Continuou-se o trabalho pelo povo. Nos dias de folga e nos finais de semana Dr. Arimatéia, juntamente com sua família, se fazia presente. O povo foi à luta sem descanso.

Foi uma peleja incessante, porém gratificante. As coisas foram se estreitando e as perseguições aos doadores se intensificando. De maneira que em 09 de janeiro de 1996 a Polícia Militar cumprindo mandato verbal não se sabe oficialmente de quem, mesmo contra a vontade popular, tomou o canteiro de obra do hospital das mãos da comunidade sem dar nenhuma explicação.

A partir daqui, e algum tempo depois, o Estado do Tocantins abraçou a edificação do hospital. Tornou-se real o sonho dos duerenses. A obra foi concluída com uma estrutura invejável. O povo de Dueré passou a nascer, e se tratar em seu próprio Município, trazendo conforto para quem ficar doente.

Em entrevista a um jornal o Dr. Arimatéia: “Eu serei eternamente grato ao povo de Dueré por ter me dado esta oportunidade de participar de sua História. Sou grato a todos, que de uma maneira ou de outra ajudaram aquele povo tão amigo e tão explorado, ter o seu próprio hospital. Este momento de minha vida é inesquecível. Entretanto, hoje eu tenho dó de ver o hospital na situação que se encontra. Quase fechado. Não funciona o Centro Cirúrgico nem a Sala de Parto. Infelizmente o Hospital transformou-se num Ambulatório.”

Atualmente ele é pré-candidato a prefeito de Dueré a convite do Partido Democratas. Defende transparência, participação popular, e acima de tudo honestidade e respeito para com os recursos públicos. Trabalha nas cidades circunvizinhas e nas folgas vem prá Dueré. Sempre prega que o povo é livre e consciente.