"Enterrem essa praga de uma vez" a profecia do Caifás moderno -
A página do DCE-UEPG repudiou o Caifás de Ponta Grossa, que representando o pequeno sinédrio reacionário, herodiano moderno, em publicações virtuais esboçou sua fé, anticristã, tradicional e ocidental, minimizando o Estado de Direito e a prática do homicídio e em particular do assassinato como instrumento de campanha política. Ora, qualquer pessoa independente do grau de escolarização captará essa mensagem oculta na manifestação irascível ainda que num português desesperador. A desumana, injusta e antidemocrática exultação do assassinato da adversária reflete limitações teóricas, morais, espirituais e intelectuais, resultantes da complicada formação universitária, denunciada por Darcy Ribeiro, em “A universidade necessária”. A pobreza de estudos em Ciências Sociais na maioria dos cursos universitários de graduação e pós-graduação. É possível chegar aos graus máximos da laudatória universitária, sem mínimos conhecimentos históricos do pais. A leitura de tanta bobagem pode nos remetar às palavras de Jesus, "e naqueles dias o amor de muitos esfriará". Nelson Werneck negando o diálogo com os torturadores tem uma expressão curiosa, os que “perderam a condição humana”, já que pessoas espiritualmente elevadas não comemoram morte de alguém. Ainda que se discorde de Caifás, estejamos longe de desejar sua passagem para o Hades. É episódio infeliz que ensina o tipo de democracia que a “Elite do atraso” tanto defende quando fora do poder, e quantos de nós a incorpora no vocabulário, temendo ser crime não defendê-la. À essa elite, fascista, é tudo retórica. Por isso sequestrou as cores da bandeira republicana, muito embora esteja eiçada de monarquismo e do pior, que é o nosso, cuja palavra e cor da democracia e da liberdade de pensamento é a mesma que foi para os discípulos do Fürher até que golpeou o Estado alemão. Se para isso servir tanta bobagem destilada por um comentário mais apropriado ao próprio autor, já valeram a pena. Marielle é um símbolo, mártir, de todos que estão inclusos ou que defendem mudanças nas condições materiais, sociais e culturais do nosso povo, de um progresso pleno, que sentem-se na obrigação solidária de falar “de injustiças sociais, de espoliação do trabalhador...do seu salário de fome, da ganância dos fazendeiros...“, nas palavras sábias de Werneck Sodré, da entrega das nossas riquezas naturais, científicas e culturais, da luta pelo tratamento igualitário entre as pessoas, contra a discriminação em todos os sentidos. Com Marielle estão os que enfrentam a guerra movida contra uma cultura escravocrata, machista, arianista que dominou o Brasil desde 1500 a 1889. Caifás nos importa pouco, sociologia política e História não são a sua especialidade. É hilária sua incursão em outro terreno pedregoso, a Teologia quando nele tenta arranjar-se com novo conceito, o de "organizações escatológicas", quem tenha lido a Bíblia, adquirido noções elementares de Escatologia (parte da Teologia Sistemática que estuda os acontecimentos finais e certos para a crença cristã no coroamento da dispensação gentílica, como a volta de Jesus e a instauração do reino milenar, uma espécie de era comunista). Sem base científica, apela-se ao vocabulário religioso. O único acerto do nosso Caifás, (João 11:1-51), é sua profecia sobre a morte de Marielle, lida como em seu original, com sinal trocado, referindo-se ao enterro do Boso, Nabucodonozor moderno, com reino breve, "Enterrem essa praga”. A praga que será enterrada, isto é, a elite do atraso, da vazajato, do apego ao escravismo, o neofascismo brasileiro, a família miliciana, os defensores da ideologia do colonialismo, os associados do Comandante Queiróz e do astrólogo Olavus. Que essa praga será enterrada, nenhuma dúvida, a Argentina, a Hungria, Portugal, demonstram. Que venham os tempos de progresso, de respeito internacional, de justiça social. Vale a pena, já que se fala em escatologia, repetir com Tertuliano (Teólogo do seculo II d.C.), que o sangue dos mártires e a semente de uma causa. O de Marielle foi. Semente, semen que se multiplicará em tantos outros heróis e defensores de uma sociedade plural, libertária e justa. A curiosidade era enorme para saber quem foi o autor dessa falta de humanidade, quem era Caifás. A afirmação do historiador Nelson Werneck Sodré, em História da História Nova, é mais que oportuna, "seus nomes ficam, piedosamente esquecidos".