A LIBERDADE E A IDEOLOGIA

A ideologia é uma forma esquizofrênica de alienação. De Tracy dizia que ela é uma deformadora da realidade. Ela é uma atadora do raciocínio, uma espécie de trilho mental por onde, quer fazer fluir as correntes do pensamento humano. Tende a simplificar tudo em volta da doutrina que a embasa, estreita a visão crítica, condiciona os raciocínios, amputa o livre arbítrio, limita os voos da mente, perde-se com ela, a capacidade de julgamento e por seus tentáculos, nos arrasta para os campos da intolerância, da intransigência, nos tornando refratários à opinião alheia. Ela cria um nevoeiro embaçando a luz do novo, aprisionando-nos aos velhos dogmas, para que as novas ideias e seu curso de luz sejam mudadas ou ignoradas.

Ela castra o acesso a tudo que a contraria e nos faz girar em torno dos seus axiomas, que, por força da ideologia, passamos a desposar. Tudo fora dela será negado ou rejeitado ou sempre tratado como irrelevante ou errôneo!

A ideologia nos torna simplistas, intolerantes e maniqueístas. O bem é nós, o mal os outros. Com ela, perdemos o senso da justiça e os filtros da moralidade. Tendemos a procurar por heróis cujas vozes fazem eco às nossas convicções e nos ajudam a eliminar nossas incertezas. Não mais percebemos as fronteiras do fanatismo e achamos que os de opinião contrária, são inimigos ou apenas pessoas ignorantes. Tendemos a divinizar nossos líderes, porque eles carregam as bandeiras de nossas crenças e a eles devotamos cegamente nossa fidelidade e projetamos nossas aspirações. A ambiguidade será sempre uma arma a ser usada nos limites da sua compreensão ou aceitação.

O desmerecimento das outras ideias e o ataque à reputação das pessoas contrárias, serão sempre armas de uso repetido.

A verdade passa a ter importância apenas relativa. A ideologia subjuga assim todos os princípios e constrói uma nova verdade, à feição das linhas mestres da doutrina professada, da qual seremos reféns para sempre. Aos similares tolera-se tudo. Aos não similares, tolera-se nada. A ideologia é uma seita que amordaça a forma de pensar e por isso tem uma natureza, caudilhesca.

Já a liberdade é a aversão aos dogmas. A liberdade é a negação das conclusões preconcebidas, uma espécie lira dos questionamentos, uma revolta ao aceite irresoluto e a proposição das novas visões. Incita-nos a pensar e decidir por nós mesmos. A liberdade é um cristal com alto grau de pureza. Ela precisa da transparência para se reafirmar, como o dia necessita do sol, o que lhe faz a sua magnitude e sua riqueza. A liberdade é o princípio para escolher caminhos possíveis e deles voltar, para trilhar outros se assim o desejar! A liberdade é a ausência da servidão e está ligada à nossa vontade, ao livre arbítrio, ao prazer e a necessidade de decidir. Como disse Aristóteles, liberdade é o nome que se dá ao fato de que temos o direito de escolha, por nós mesmos.

Nela baseia-se sempre a lei justa, pois onde não há liberdade não há lei e onde não há lei não há liberdade. Ela é um bem inegociável do homem.

Assim, toda vez que a liberdade é tolhida, subjugada o homem adoece, os sistemas entram em colapso. Aqueles que tentaram cortar sua jugular foram vencidos em seus intentos. A história está cheia de exemplos: Hitler, Lênin, Geisel, Stalin, Pol Pot. (Cambodja), Mussolini só para citar alguns que se voltaram contra ela com ferocidade, marcaram sua trajetória por seus fracassos ao tentar subjugá-la. Eles e tantos outros foram varridos como vilões pela história, com suas doutrinas frente a este cristal impoluto.

Saiba que tudo que a colocar em xeque ou amordaçá-la perecerá. Tudo que nela se embasar será eterno.

Concluo dizendo que a liberdade é a noiva mais importante do homem, porém a mais traída!

Celio Govedice – Pensamentos sobre a riqueza da liberdade.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 07/11/2019
Código do texto: T6789657
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