Quem matou Malcolm X?

A pergunta do título ecoa desde 21/02/1965, um domingo ensolarado, mas muito frio, quando três homens atiraram contra Malcolm X. Ele discursava ante um púlpito, diante de 400 pessoas, no Audubon Ballroom, na Broadway com Rua 166. Instantes antes, um homem havia simulado uma discussão gritando e outro atirou uma bomba de fumaça.

Uma espingarda serrada de cano duplo foi achada no local. O tiro fatal desta arma atingiu o peito com chumbo. Os três atiradores correram e desceram as escadas. Um deles levou um tiro na perna e foi capturado com uma Colt 45mm. Seu nome era Thomas Hagan, mas também usava o nome Talmadge Hayer, ao entrar para a comunidade muçulmana, na mesquita 25, em Newark, Nova Jersey.

Durante as investigações, a polícia de Nova York prendeu outros dois suspeitos: Thomas 15X Johnson (conhecido como Khalil Islam), no dia 26 de fevereiro, e Norman 3X Butler (conhecido como Muhammad Abdul Aziz), em 3 de março. Ambos eram tenentes da mesquita 7, na Avenida Lenox com Rua 166, no Harlem.

Após o julgamento, em 1966, os três acusados foram condenados à prisão perpétua, cumprindo um mínimo de 20 anos com direito a pedir condicional. Khalil Islam foi solto em 1987 e morreu em 2009. Abdul Aziz foi solto em 1985. Talmadge Hayer foi solto em 2010. Durante sua pena de 45 anos, Hayer manteve a mente ocupada e tornou-se mestre em Sociologia. Ele sempre alegou que não conhecia os outros dois acusados e que ambos eram inocentes. Em 1977, Hayer detalhou todo o plano e deu os nomes dos quatro cúmplices da mesquita 25: Benjamin Thomas, Wilbur Kinly, Leon Davis (com a Luger 38mm) e William X (com a espingarda). O advogado William Kunstler encaminhou pedido de reabertura do caso, mas o juiz Harold Rothwax considerou que não havia provas suficientes.

A descrição do acusado de atirar com a espingarda era de um homem alto, corpulento, de pele muito escura e usando um casaco preto. Thomas 15X Johnson era magro, de pele mais clara e de estatura mediana. Ele tinha um álibi sólido. Tinha ido ao médico, pois estava com artrite reumatoide e não podia se locomover por causa do risco de trombose. Morava num apartamento no Bronx, em frente ao zoológico, com a esposa e os filhos. Eles ficaram olhando as girafas com os pescoços por cima das árvores. Um vizinho bateu na porta e deu a notícia do assassinato. O outro acusado, Norman 3X Butler, tinha álibi parecido. Estava em seu apartamento, com a família, quando ouviu a notícia pelo rádio. A impossibilidade dos dois estarem na cena do crime foi confirmada por outras pessoas que telefonaram, naquela tarde, para falar com eles.

Mesmo após a soltura dos dois inocentes, William Kunstler (advogado de defesa de Hayer) continuava tentando reabrir o caso. Encaminhou petição ao Congresso com toda a descrição e informou que o nome de William X era William Bradley. Manning Marable, professor de Columbia e ganhador do Prêmio Pulitzer, confirmou o nome do assassino no livro Malcolm X: Uma Vida de Reinvenção.

Malcolm X era ligado à Nação do Islã, comandada por Elijah Muhammad e autoproclamado Mensageiro de Alá. Este era o líder religioso. A estrutura era muito hierarquizada com regras de conduta. Havia uma organização paramilitar chamada Frutos do Islã.

A Nação do Islã tinha mais de 100 mil seguidores em 47 mesquitas por todo o país. Além dos templos, a organização religiosa tinha escritórios e jornais. Os negócios prosperavam com abertura de lojas, comércios e lavanderias. Em Newark, o ministro da mesquita 25 era James 3X Shabazz, muito ligado e leal a Elijah Muhammad.

Malcom X era figura pública e líder político, porta voz da Nação do Islã. Após criticar John Kennedy, mesmo após sua morte, Malcolm X foi suspenso das atividades. A ruptura era inevitável. A crescente tensão levou Malcolm X a atacar Elijah Muhammad, com a acusação de engravidar meia dúzia de secretárias particulares menores de idade. A ira da linha radical fiel ao líder espiritual era evidente e um atentado previsível.

Dois dias após a morte de Malcolm X, a mesquita 7 sofreu um atentado a bomba. O templo ardeu em chamas e ficou destruído. James 3X Shabazz (ministro da mesquita 25) foi assassinado a tiros, em setembro de 1973. Seus executores foram posteriormente decapitados. Nunca se provou qualquer ligação direta do ministro da mesquita 25 ou da direção da Nação do Islã na morte de Malcolm X.

Em fevereiro de 2015, negando a acusação, William Bradley deu entrevista juntamente com a esposa Carolyn Kelley, poderosa ativista que conseguiu reverter a condenação do boxeador Rubin “Hurricane” Carter. No cinema, Denzel Washington representou o papel título em Hurricane (1999) e Malcolm X (1992).

No documentário “Quem matou Malcolm X?”, atualmente no Netflix, o historiador e escritor Abdur-Rahman Muhammad reafirma as acusações contra William Bradley, que apenas poderá ser julgado pela História.