Uma reflexão sobre o futuro

Uma reflexão sobre o futuro

Publicado no jornal Pioneiro, Caxias do Sul, 13 de junho de 2020

Uma revolução radical está acontecendo, conduzida por ninguém, irreversível e inesperada, imposta pela natureza e pela história, motivada pelo Covid 19.

Muitas pessoas acham que após a pandemia voltarão a fazer exatamente o que faziam antes. Não será assim, o mundo já está mudando sem estar preparado para a mudança. Relações familiares, práticas religiosas, atividades politicas, economia, ordenamentos jurídicos, organização e funcionamento das sociedades serão outros.

Um pressuposto moral permanecerá: o valor humano da solidariedade fundado na crença do Transcendente.

As religiões históricas terão papel relevante na construção do novo mundo, principalmente as Cristãs, aquelas que serviram de alicerce para a edificação da Civilização Ocidental, hoje paradigma para todo o planeta.

A alternativa que resta à desnorteada humanidade é de reconstruir as relações sociais com fundamento na virtude da solidariedade, que deverá ser precedida por uma conversão das mentes e dos corações. Acontece que a ganancia pelo poder e pela riqueza está tão arraigada que essa conversão prévia, aos valores do cristianismo, será uma difícil obra coletiva, sem a qual nenhuma mudança acontecerá. Talvez o medo de um futuro catastrófico e trágico, para todos, sirva de estimulo...

O individualismo não cederá espaço à solidariedade por um passe de mágica. O consumismo desenfreado não será facilmente substituído por um modo de vida mais austero. O emprego desestruturado pelo progresso das novas tecnologias, não tem uma proposta de resgate. O aquecimento da atmosfera coloca a vida em risco progressivo. A inaceitável injusta distribuição da renda gerada faz com que alguns poucos usufruam as maravilhas do progresso, dominando a politica e a economia, impedindo que milhões de marginalizados tenham acesso aos benefícios do progresso a que chegamos, vivendo entre a pobreza e a extrema miséria.

Esses desafios estão aí para serem resolvidos, com um amplo debate presidido pela crença na solidariedade, se a humanidade quiser continuar a existir.

Eurico de Andrade Neves Borba, 80, aposentado, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, mora em Ana Rech.