O Brasil como Bolha de autoritarismo no mapa

O Brasil como bolha de autoritarismo no mapa.

Valéria Guerra Reiter

Quem é o Brasil hoje no mundo? Um país? Ou uma terra de colonos? Com intensa precarização do trabalho: Um entregador recebe Cinco Reais para entregar comida na casa do burguês, que de papo para o ar comanda a multiplicação do capital, ou dirige seu conversível no Leblon.

E nós, escritores, professores e assalariados, o que faremos após balanço e perspectivas: iremos para a Tonga da Mironga do kabuletê? Ou atravessaremos o Rubicão?

“A revolução é uma prova de força aberta entre as forças sociais em luta pelo poder. O Estado não é um fim em si, é unicamente uma máquina nas mãos das forças sociais dominantes. Como qualquer máquina, tem os seus mecanismos: um mecanismo motor, um mecanismo de transmissão e um mecanismo de execução. A força motriz do Estado é o interesse da classe; o mecanismo motor é a agitação, a imprensa, a propaganda pela Igreja e pela Escola, os partidos, os comícios na rua, as petições e as revoltas; o mecanismo de transmissão é a organização legislativa dos interesses de casta, de dinastia, de estado ou de classe, que se apresentam como a vontade de Deus (absolutismo) ou a vontade da nação (parlamentarismo); finalmente, o mecanismo executivo é a administração com a sua política, os tribunais com as suas prisões, e o exército”.

Em 1906 este fragmento fora escrito, por Trotsky, no mesmo ano em que 200 pessoas foram mortas pelos guardas do czar Nicolau II, o episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento. As pessoas? Morreram cantando hinos em homenagem ao czar, elas estavam insatisfeitas com sua subalternidade e precariedade, porém sua fé em Deus as colocava em uma condição de paz: mal sabiam elas que a história russa já gestava sua grande Revolução.

O fragmento acima foi retirado do texto de Leon Trotsky chamado de “Balanço e Perspectivas”.Se aproximarmos o ano de 1906 aos nossos nefastos dias: veremos similaridades. O que dantes fora desenvolvimento está a quedar-se por labaredas neoliberais de forma literal, especialmente no que concerne a maior riqueza do Homem, que é o seu Meio Ambiente. Há que se perceber como a Revolução nunca é tardia para a práxis humana em seu esplendor criativo e reformista.

Oficiosamente vivemos sob a égide de um “absolutismo de ingerência" que se constitui "abusador" em várias decisões arbitrárias que já foram executadas, uma delas a redução do MINISTÉRIO DO TRABALHO, a condição de secretaria despojada entre três Ministérios: Casa Civil, Economia e Ministério do Desenvolvimento Social. Como é vexatório ver que atletas e artistas brasileiros estão sendo perseguidos. Veja o caso de Carol Solberg ( medalhista do vôlei), filha da campeã internacional (também do vôlei) Isabel Salgado: que através de um brado corajoso disse aquilo que milhões de compatriotas seus gostariam de esbravejar do Oiapoque ao Chuí...

Somos 120 milhões de brasileiros confinados em uma bolha de ódio. As trincheiras de resistência fincam suas bandeiras, como faço aqui e agora, com o objetivo de furar tal bolha obscurantista através da liberdade ética de expressão. E então eles possam fugir desta "Alcatraz" nada filosófica. Afinal, a filosofia é à base do conhecimento humano.

Lamentavelmente, a Cultura, a Educação, e a Natureza, estão na mira da repressão, de tudo que contraria a ética e a justiça, ou seja, a força. E a barbárie é um holocausto à parte. E ele ousa querer transformar a biologia dos seres em um amontoado de cinzas. As restingas, os manguezais, o mico-leão-dourado, e todos os animais em processo de extinção fazem parte de uma cadeia e teia ecológica que retroalimenta a energia vital, e caso despareçam levarão com eles: os "ratos" e o ser humano.

O mico-leão-dourado, por exemplo, é um sagui que se alimenta de insetos, ovos de aves, e de frutos; no primeiro caso, com isso a população de aves, é controlada, e em relação aos frutos, ocorre um aumento na taxa de polinização de sementes, e este complexo e maravilhoso processo auxilia no equilíbrio do bioma: Mata Atlântica. A espécie, que há décadas fora imperiosa no habitat referido, esteve à beira da falência no século XX.

Tráfico e perda do habitat, são os principais motivos que levaram ao quase desaparecimento dessa bela espécie nativa que em 1970, contava apenas com 200 indivíduos. A salvaguarda para não extinção do referido mico veio através de ações como a do primatólogo Adelmar Coimbra Filho, que tive o prazer de conhecer quando fiz minha Monografia da primeira graduação no Curso de Ciências Físicas e Biológicas (em fins dos anos Oitenta), o especialista foi criador da primeira Reserva biológica em Poço das Antas, e da AMDL (Associação Mico - Leão - Dourado) que trata do manejo e preservação da espécie.

O último censo de 2014 indicou a existência de 3.400 saguis em ambiente natural.

Hoje, não temos mais a presença física do cearense Adelmar Farias Coimbra Filho, biólogo, primatólogo e “revolucionário”, já que seu ímpeto de conservacionista propiciou uma revolta (nova volta) em torno de um poder estabelecido: o poder do ódio, da insensatez, da irreflexão. A ética deve escolher o caminho certo, e não o caminho fácil, porém aqueles que estão transformando o Brasil em uma bolha de autoritarismo querem arrancar a ética do dicionário, assim como alguns ingleses ao elaborar a Oxford English Dictionary, não faziam questão de termos como: africano, americano, no compêndio; que foi um projeto minucioso formulado em sete décadas... e até hoje se reformula...

Nós, os entrincheirados do lado Esquerdo da Bolha não podemos permitir que a Ética seja enclausurada no Museu do HOLOCAUTO brasileiro, que poderá depois pegar fogo, à guisa do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.

#LeiaBrazilevireBrasil

Valéria Guerra
Enviado por Valéria Guerra em 29/09/2020
Código do texto: T7075435
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