O Ditador

É fácil identificar um ditador, mesmo sendo eleito democraticamente. Seus gestos são de um tirano, sempre raivoso, acusador, só ele e tão somente ele tem e está com a razão. Os bons estão todos de seu lado, entremente apenas ele pode dar ordens. Acredita nas suas mentiras, entende que é o “sélebro” do mundo, por isso a ninguém é dado o direito de raciocinar, pois ele pensa por todos.

Um ditador adora longos discursos repletos de verborragias, nunca se satisfaz com a simplicidade. É dado a jactanciar-se à miúde, de ser bajulado, de ser fotografado. Se lhe fosse possível escrever seu próprio epitáfio, decerto não caberia na lápide. Nunca está só, as hienas e chacais lhe protegem. Pra isso são alimentados com tapinhas às costas e sorrisos pálidos. Sua voz está sempre carregada de censuras e não admite ser contrariado, ai do desditoso que ousar trocas um Ç por dois SS, a menos que isso lhe venha a auferir lucros. Seus adversários costumam ser assassinados misteriosamente e as “personas non gratas” desaparecem ainda mais misteriosamente, do nada, como fumaça ao vento.

O ditador dita a dor, é inclemente, cruel, assassino, embora chame para si a autoria máxima do bem comum. Como ser divino não procede de ninguém e todos, absolutamente todos são beneficiários de sua magnânima generosidade. Julga-se pais dos pobres. Sem ele a terra rodopiaria ao contrario. Cabotino por natureza, biltre por devoção, solerte por intuição. Pensa que é o sol, donde emana toda luz, calor, melanina e vitamina D. A um só tempo é sombra de refrigério e energia que aquece aos miseráveis. Está acima de tudo, porque ele é a lei. Não desgruda de chavões anacrônicos como: burguês, imperialismo, proletariado, capitalismo selvagem, sistema dominante... Ignora que ele é o sistema. Finge benevolência, aliás, fingir é seu hobby, fraudar, manipular, adulterar são seus passatempos.

Pasmem, em alguns casos, na contramão da lógica, até defendem a democracia, contudo no seu covil desmente tudo descaradamente. Um ditador não tem carácter algum e seu único lema é o monopólio do poder e dos aplausos. Tanto suborna como se faz subornar. Uma de suas características é ser areligioso, mas se for para ludibriar o povo nem pensa duas vezes em acender duas velas: uma a Deus, outra ao diabo.

O ditador é de per si tão enfadonho que faz perguntas para ele próprio responder. Costuma ter resposta para tudo e neste emaranhado de bazófias, fala coisas sem eixos e nexos.

Quando um ditador se encontra com outro ditador torna-se impossível distinguir o mais falso. É um elemento deslumbrado, autossuficiente, crítico feroz dos que pensam diferente, arrogante, irascível. Na verdade, Ele é um deus superior a qualquer outro deus, compara-se ao Deus Supremo e ainda desafia algumas vezes.