Formadores de opinião

Assisti a uma entrevista do Lobão ao canal Antagonista. É engraçado porque ambos (o canal e o roqueiro) foram atores que participaram das campanhas bolsonaristas, e tem relação direta com a eleição do atual presidente, e ambos são desertores de primeira hora da nau capitaneada pelo ex capitão do exército brasileiro e político profissional há cerca de trinta anos. Não apenas o conteúdo que foi exibido, mas a simples situação despertou em mim alguns pensamentos que eu gostaria de expor.

Procuremos pensar em perspectiva, observar o que vem acontecendo em nosso país nos últimos anos. Desde o movimento que colocou um início a todo o processo até os dias que vivemos hoje. Quando tais indivíduos começaram a ter relevância no debate nacional? CQC, MBL, Endireita Brasil, terça livre, antagonista e diversos outros. A direita e a esquerda. Porque sim a esquerda está cheia de canais similares, que causam efeitos parecidos em seus espectadores. Henry Bugalho, Meteoro Brasil, galãs feios entre diversos outros. É importante entender a posição desses atores, o papel que eles exercem, porque eles explicam de boa maneira a enrascada em que viemos parar. Já sabemos que estes grupos vivem de narrativas. Cada um ao seu lado. Mas todos por interesse próprio defendendo a narrativa que convém a sua bolha de espectadores com o interesse mais simples do mundo. Ganhar grana seu trouxa. E a sua grana. É claro que o interesse está sempre travestido de algum ideal político. Alguns com nítida superioridade intelectual, ou maior verve, entusiasmo, mas sempre acompanhada pelos tradicionais “deixe o seu like e se inscreva no canal”, e mais recentemente pelos “super chats” (que são métodos super democráticos, nos quais você paga para ter a sua opinião lida para os outros membros do grupo). Eu, particularmente, acho que pelo menos faz sentido para o pessoal da direita, enquanto para o pessoal da esquerda isso não passa de hipocrisia pura. Geralmente ainda rola a chantagem intelectual do tipo “não podemos manter a luta sem a sua colaboração”, que é o substituto do “eu podia tá robano, eu podia tá matano”. Eles usam de algoritmos que sugerem os assuntos a ser comentados e até qual a opinião que a bolha quer ouvir. Assim, não tem como perder. É um hit atrás do outro. Sobre temas que vão desde o mais superficial (como falar da vida, relacionamento dos outros), até temas como filosofia e análise política da situação do país.

Não sei se entendem onde eu quero chegar? Mas o que acho é que de fato essa gente tem menos interesse no que vai acontecer com o país do que com os próprios bolsos. Eu tenho a impressão de que se por exemplo: Em um devaneio. O PT tivesse ganhado as eleições e os bosonaristas fossem hoje uma oposição barulhenta. Quem vocês acham que estaria defendendo a vacinação em massa e afirmando que o governo está sendo genocida e blábláblá. Não que isto esteja errado por si. Vivemos em uma sociedade capitalista. Mas esse discurso amplifica a divisão em que nos vemos metidos hoje. E não há aí superioridade moral. Na entrevista que vi por exemplo, o sujeito tem a pachorra de achar que o projeto de ditador que temos é equivalente ao governo que tivemos antes. Ele é como tanto gosta de dizer dos outros uma verdadeira anta. Ainda que tenha um vocabulário melhor que o meu que sofro pra escrever essas poucas palavras. O imbecil não consegue entender sequer a cagada que fizemos. Ele acha que agiu da única maneira possível diante dos dados que tinha a sua disposição. Ele não acha que errou. Mesmo passados os anos, com o distanciamento dos fatos ainda não consegue ter alguma clareza do ocorrido. Ainda discursa com a mesma verborragia. Cheio de razão, mesmo depois de tantas cagadas. Com a mesma certeza que exibia seu apoio cinco anos antes. Com certeza cometendo os mesmos erros com a mesma segurança do passado. Sempre na crista da onda. Cheios de certezas burras.

SilvaMD
Enviado por SilvaMD em 30/05/2021
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