Os arquivos-X e o negacionismo

Hoje vivemos um período muito interessante na nossa história. Uma grande parcela da população acredita em teorias da conspiração, nega os avanços da ciência, questiona a esfericidade da terra, credita a pequenos grupos o domínio do planeta, duvida das instituições democráticas. Sem saber que são estas instituições que por exemplo, lhes garante o direito a tais expressões de pensamento. Eu, por exemplo acreditava que movimento anti-vacina era apenas uma coisa que se estudava em saúde pública, como um movimento que aconteceu no inicio do século passado. Mas não. O negacionismo está aí. Em meio a uma pandemia, duvidamos da serventia das vacinas, e muitos de nós acreditam que ela faz parte de uma conspiração de um grupo que quer colocar em nós alguma substância estranha, que segundo as últimas informações que lí nos torna magnéticos (deve ser o chip chinês).

É importante tentar entender as origens desse pensamento. Como se tornou tão lógico em nossas cabeças aceitar essas ideias. Passamos a desprezar o método científico como se este fosse uma amarra, ou um véu que nos impedisse de ver o que realmente está movendo as cordas que fazem a marionete se mexer.

O conspiracionismo sempre fez parte da nossa cultura. Essa ídeia de que “eles não querem que você saiba a verdade” sempre esteve alí. Nas religiões, nos livros de Von Daniken com seus alienígenas, nas pirâmides do Egito. Mas eu acho que uma série de televisão contribuiu muito para a disseminação desse iluminismo ao contrário que vivemos nos dias atuais.

Nos anos noventa o canal FOX lançava no ar a série “X-files”, os arquivos –X. A série que logo virou um fenômeno nerd conquistou fans pelo mundo todo (inclusive este que vos fala, que teve a ideia de escrever estas linhas ao re-assistir a série). Era encabeçada por dois agentes do FBI. O primeiro agente era um sujeito que acreditava em todas as teorias da conspiração possíveis, governos secretos, chips implantados em humanos através de vacinas (imaginem vocês) e outros fenômenos para normais. O segundo agente, era uma médica, cética, que acreditava no método cientifico e estava lá para ser o contra argumento ao primeiro agente. Pois bem, Fox Mulder ( o primeiro agente) sempre era retratado como tendo razão, e as suas teorias, por mais absurdas que fossem terminavam por demonstrar que o método científico estava errado. E isso perdurou durante varias temporadas (sete que prestam), e em seguida deixou pelo mundo uma série de órfãos de tais ideias.

Não creio que a Fox seja a responsável pela eleição do Bolsonaro. Mas acho desde então tais pensamentos passaram a ser expressos com mais entusiasmo, e tais crenças muitas vezes até sinônimo de intelectualidade. Ela romantizou estas ideias, jogou um certo brilho sobre elas que não tinham antes. ou talvez eu esteja delirando, buscando explicações delirantes no melhor estilo Fox Mulder.

SilvaMD
Enviado por SilvaMD em 19/06/2021
Código do texto: T7282153
Classificação de conteúdo: seguro