O SOFISTA BOLSONARO
 
O sal é salgado, o gelo é gelado e o mel é doce. Essas proposições não se desmentem seja qual for o contexto em que forem colocadas. Em gramática elas são chamadas redundâncias, ou seja, utilização de palavras diferentes para expressar uma mesma ideia. Em filosofia são conhecidas como tautologias, proposições analíticas que permanecem verdadeiras em qualquer discurso, já que suas estruturas lógicas são construídas em cima de uma eterna repetição do argumento.
Tautologias são as principais estruturas do sofisma, formulação linguística oriunda de filósofos itinerantes que percorriam as cidades da Grécia antiga ensinando a arte da retórica às pessoas interessadas. Platão e Aristóteles acusavam os sofistas de desonestidade intelectual, pois na opinião desses dois famosos filósofos, o que eles ensinavam era a prestidigitação linguística, ou seja, a arte de convencer as pessoas sem apresentação de argumentos válidos. Platão dizia que os sofistas não estavam interessados na procura da verdade, que era o objeto da filosofia, mas sim no mero refinamento do discurso com o objetivo de vencer discussões. Os sofistas afirmavam a não existência de verdades absolutas, já que todo argumento estava contaminado por opiniões pessoais. Como dizia Protágoras, um dos expoentes dessa escola filosófica, “o homem é a medida de todas as coisas”, o que quer dizer que cada pessoa tem sua própria verdade e é por ela que ele se guia e tudo mede.
Não sei se o presidente Bolsonaro é adepto dos sofistas, mas que ele sofisma bem, isso não pode ser negado. Sofismas e tautologias são os principais componentes dos seus discursos. O que ele disse na sua última “live” é um antêntico discurso de sofista. A afirmação de que “não há prova de que as eleições de 2014 foram fraudadas, mas que também não há prova de que não foram” é um claro exemplo de composição tautológica com estrutura de sofisma de composição. Todo mundo percebe que ele disse uma asneira, mas fica na dúvida se ele não tem razão. Aliás, é para isso que o sofisma existe: induzir o ouvinte a ver o que o emissor da mensagem quer que ele veja e não a verdade dos fatos que ela pretende mostrar. Nisso Bolsonaro está ficando especialista. Vive repetindo, com tautológica redundância, um monte de “fake news” esperando que a repetição sistemática faça delas verdades incontestáveis. Nunca prova o que diz, mas isso não é necessário, pois como diziam os sofistas, na falta de uma tese não se pode antepor uma antítese. No fundo trata-se de fazer alguém acreditar no que se diz e não transmitir uma verdade. Como nem todas as pessoas se apercebem disso, ele continua sofismando e conduzindo o seu grupo de apoiadores como no filme “Forrest Gump”, onde uma  monte de gente corre atrás do personagem do filme sem saber por que está correndo nem para onde está indo.