MODELANDO JÂNIO QUADROS


No dia 25 de agosto de 1961 um povo surpreendido tomava conhecimento da renúncia do presidente Jânio Quadros, eleito no ano anterior com ampla margem de votos. A renúncia foi prontamente aceita pelo Congresso Nacional. Conforme revelou trinta anos mais tarde, ele não esperava que sua carta de renúncia fosse efetivamente entregue ao Congresso. Pelo menos não a original, pois segundo confessou no livro Jânio Quadros: Memorial à história do Brasil', a tal carta era “uma estratégia” para forçar o Congresso Nacional a lhe dar mais poderes para poder governar como ele queria. Eis um excerto do que Jânio disse nesse livro: "Quando assumi a Presidência, não sabia da verdadeira situação político-econômica do país. (...) Meu ato de 25 de agosto de 1961 foi uma estratégia política que não deu certo, uma tentativa de governabilidade. Foi o maior fracasso político da história republicana do país, o maior erro que cometi (....). Escrevi a carta da renúncia no dia 19 de agosto e entreguei ao ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, no dia 22. Eu acreditava que não haveria ninguém para assumir a Presidência.(...) Pensei que os militares,os governadores e, principalmente, o povo, nunca aceitariam a minha renúncia e exigiriam que eu ficasse no poder. Jango era, na época, semelhante a Lula: inaceitável para a elite (....). Renunciei no Dia do Soldado porque quis sensibilizar os militares e conseguir o apoio das Forças Armadas. Era para ter criado um certo clima político. Imaginei que, em primeiro lugar, o povo iria às ruas, seguido pelos militares. Os dois me chamariam de volta. Fiquei com a faixa presidencial até o dia 26. Achei que voltaria de Santos para Brasília na glória. Ao renunciar, pedi um voto de confiança à minha permanência no poder. Isso é feito frequentemente pelos primeiros-ministros na Inglaterra. Fui reprovado. O país pagou um preço muito alto. Deu tudo errado''.
Jânio também cultivava um espirito autoritário e convivia mal com o jogo democrático. Acreditava que a grande maioria do povo brasileiro estava com ele e queria, de fato, um executivo com autoridade sobre os demais poderes. Dizia que “forças ocultas” não o deixavam governar. Igualzinho ao Bolsonaro, que também está “se achando” a cereja do bolo. Por isso vive atiçando seus apoiadores contra os demais poderes da União. Nem se deu conta que quem o elegeu foi, de fato, o PT, graças à imensa rejeição que os petistas canalizaram com a catastrófica gestão da Dilma Roussef. Mas sua claque não passa, na verdade, de 25% do eleitorado nacional.  Que já começa a abandoná-lo, consciente da insanidade que ele vem demonstrando sofrer.
Jânio, com todos os seus defeitos, tinha postura de estadista e preparo intelectual. Já Bolsonaro é um arrivista que soube aproveitar o descrédito do povo no governo petista e vendeu uma falsa ideia de novidade política, que agora se vê, é mais velha que piada de papagaio. Essa modelagem, além de ridícula, está mais que ultrapassada.