IGNORÂNCIA E FANATISMO

IGNORÂNCIA E FANATISMO

Quando Cabral aportou por aqui, Portugal ainda estava na idade média. O Brasil tornou-se um grande feudo do reino português, onde todos dependiam das benesses que o poder real distribuía aos seus apaniguados. Essa fórmula durou todo o tempo do Brasil colônia e durante todo o Brasil reinado, com sua economia sustentada pelo braço escravo. Mudou um pouco com a abolição e a chegada dos imigrantes, mas não foi suficiente para dar uma nova conformação à nossa matriz econômica, que continua atrelada à produção de comodities. E também não alterou a cultura individual do povo brasileiro com respeito ao seu próprio sentimento de independência e autoestima, que está estreitamente vinculado ao patrimonialismo.
Patrimônio é sinônimo de liberdade. Quem não tem nada para chamar de seu não tem motivos para desenvolver sentimentos patrióticos. Não se pode negar que o sonho de todo brasileiro é possuir alguma propriedade, seja na forma de uma casa para morar, um automóvel, uma razoável conta bancária, enfim, algum bem de raiz que faça dele um proprietário, ou pelo menos uma pessoa que não possa ser chamada de João Ninguém, que não tem sequer onde cair morto, como diz o ditado popular. Os nossos sem-terra e sem-teto que o digam: querem uma terra para plantar ou um teto para se abrigar, mas desde que venham com escritura pública, para que possam chamar de seu.
Isso é coisa que nossa direita radical também não se deu conta até agora. Por isso não sabe que a possibilidade do estabelecimento de um sistema de governo semelhante ao que Castro implantou em Cuba, Lenin na União Soviética, ou mesmo Hugo Chaves na Venezuela é algo impraticável por aqui. Jango tentou em 1964 e deu no que deu. Lula e o PT ficaram quatorze anos no poder e nem tentaram, pois sabiam muito bem que o nosso povo jamais aceitaria esse sistema. Não tenho dúvidas que o teriam feito se não tivessem consciência dessa impossibilidade.
O Brasil é um país patrimonialista.Esse princípio está no cerne da nossa individualidade e é o fundamento da nossa sociedade. O que se deduz disso tudo é que é insano ficar incentivando conflitos ideológicos entre os brasileiros, como fazem os bolsonaristas reacionários (desculpem o pleonasmo), procurando incutir no espírito do povo o medo do comunismo, ou o que quer que seja que eles entendem por esse sistema. E como toda ação provoca uma reação igual em contrário, os radicais de esquerda jogam mais lenha na fogueira a cada ato que os “bolsonários” fazem. O problema é que, enquanto esses idiotas ficam dando combustível à essa insanidade os grandes problemas do país são relegados a um segundo plano. A grande tragédia dos dias atuais é o radicalismo. Seja ele de esquerda ou de direita. Ignorância e fanatismo sempre foram causa de grandes tragédias na História. E quem não consegue aprender com elas está condenado a vivê-las diuturnamente.