O PERFIL DO MITO

Vemos diariamente políticos, jornalistas e cidadãos na internet e redes sociais, comentando política e uma grande parcela, seja por antagonismo ideológico ou curiosidade científica, tentando definir a personalidade do presidente que o destino nos impingiu em 2018.

Reflexionando sobre o tema, lembrei e tomei a liberdade de homenagear o mineiro de Cataguazes, LUIZ RUFFATO, escritor laureado que, após objetiva pesquisa, teve a genial ideia, publicada pelo jornal O RASCUNHO, que permito-me transcrever, ipsis litteris

Essa alocução, atribuída a Quintus Severus Lauriacum, e datada de fins do século 1 ou começo do século 2 , encontrada na seção de manuscritos do Museu do Vaticano em 1948, provavelmente refere-se a um cônsul que administrava alguma província do Império Romano – acredita-se que Nórica ou Rétia.

O Autor, de quem nada sabemos, lamenta a gestão obscurantista e totalitária do governante, cujo nome se perdeu no tempo, e revela.

Abaixo, transcrevo o trecho que sobreviveu, cuja tradução deve-se ao grande latinista, padre Antônio Queiroga da Silva (1893-1961), publicado na antologia Codice Hieronymianum (Petrópolis: Vozes, 1960 , p. 123-125).

“E porque nascera de gente pobre (proletarii), odiava a gente pobre, para que não o confundissem com seu passado.

E porque fora repudiado pela gente remediada (plebei), odiava a gente remediada e punia-a com pesados impostos (gravibus tributa) e perda de direitos (detrimentum iurim).

E porque fora ridicularizado pela gente rica (patricii), adulava a gente rica, porque queria ser como eles.

E porque, soldado medíocre (miles mediocriter), fora desligado das legiões militares (legionibus militum), odiava os militares e tudo fazia para humilhá-los em público.

E porque, despido de inteligência (ingenio exuti), fora desmerecido pelos companheiros (comitibus), odiava as ciências, as matemáticas, as letras, as artes, a filosofia.

E porque, filho de estrangeiro (peregrino filius), fora tratado com desdém (in fastu negas), odiava os estrangeiros, sobretudo os africanos (Africani) e os nativos (nativus).

E porque, mau amante (malum amans), fora repelido pelas mulheres, odiava as mulheres e incentivava a crueldade contra elas.

E porque, inseguro de sua virilidade (virilitatem), odiava e perseguia todos aqueles que praticavam amores não convencionais (amet ligula).

E porque, sendo preguiçoso (otiosum), odiava os que trabalhavam e buscava maneira de prejudicá-los.

E porque, possuído de espírito bélico (spiritus bellum), lançou suas milícias (militias) contra o povo.

E, porque, sacrificando a todos os deuses (sacrifice omnibus diis), menosprezava cada um deles.

E, porque odiasse o gênero humano (homines), nos legou a tirania (tyrannide), a violência (violentiam), a peste (pestis), a guerra (bellum);

Porque, pretendendo desprezar a morte , desprezava na verdade a vida.

Óh, deuses, lançai línguas de fogo (lingua ignis) sobre o Inominável (Innominabile) e seus seguidores (sectatores) para dizimar todos aqueles que, ressentidos, pregam o ódio, arrogantes, exaltam a ignorância, estúpidos, vangloriam a força física.

Pois nada mais grave que a ignorância arrogante de um estúpido que, ressentido, prega o ódio entre seus semelhantes.”

Luiz Ruffato
Enviado por Um Velho na Janela em 14/11/2021
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