UM PAÍS SURREAL

 

Acabo de voltar de umas férias no nordeste do país, para onde fui em busca de sol, praias e comida saborosa. Achei tudo que procurava. Esse lado do Brasil continua a ser o paraíso turístico de belezas admiráveis e de um povo de simpatia inigualável, como sempre foi.

Pena que o animal político que habita em mim não consegue descansar nem nas férias. Perguntei á várias pessoas como estava a temperatura política por lá. Todos foram unânimes em mostrar sua felicidade pelo Lula estar de volta à lide. “Ele até pode ser um ladrão, como muita gente do sul diz que é, mas ninguém fez mais pelo Nordeste do que ele”, foi a resposta que todos deram.

Pensei logo no velho pressuposto que guia a carreira de muitos políticos: os fins justificam os meios. O que conta são os resultados e não a forma como são obtidos. Paulo Maluf que o diga. Não importa que roube desde que faça. A ética e honestidade tornam-se secundárias diante dos benefícios que se recebe, ou que se crê tenham sido feitos.

Bolsonaro não está sendo bem-visto pelas bandas onde andei. Por todos foi referido como um demagogo fanfarrão. O calote que ele deu nos precatórios para alavancar seu nome entre os simpatizantes do Lula parece que não vai beneficiá-lo muito por lá. Nem sempre o pressuposto de que é preciso fazer um pouco de mal para atingir um bem maior funciona.

A não ser para quem já tem o cérebro lavado pela seita. Ao descer no aeroporto de Guarulhos vi um senhor vestido com uma camiseta com os dizeres: “Intervenção militar com Bolsonaro no poder.” Lembrei que o combate à corrupção foi o mote que o elegeu. E de certo ainda é a crença que leva esse senhor e outros que pensam como ele a andar pela rua divulgando ideias tão paradoxais como essa, mesmo depois da opção partidária que o presidente fez.

Mas política é como futebol. Nosso time pode estar a caminho da segunda divisão mas nós continuamos a apoiá-lo até o amargo fim. Por isso é uma atividade tão envolvente. Ela é tão paradoxal quanto ilógica. Principalmente no Brasil. A corrupção do PT elegeu Bolsonaro. Agora, a incompetência política e administrativa que ele está mostrando em sua gestão, aliada ao comportamento intolerante e fascista dos seus apoiadores mais radicais vão por de volta o Lula no Planalto.

Quem consegue entender tamanho bizarrismo? Talvez, só mesmo Gabriel Garcia Marques ou Dias Gomes, que sempre viram a América Latina como um paraíso surrealista habitado por personagens de romances e novelas do realismo fantástico. Mas ambos já morreram e levaram para o outro lado da dimensão onde vivemos o porquê dessa visão. A nós, sobrou a opção de tentar entender a realidade estapafúrdia que estamos vivendo em meio a tantos personagens que parecem ter saído de alguma de suas obras.