PREDADORES OU DESBRAVADORES?

 

 

Gosto dos filmes de faroeste e conheço bem os personagens que colonizaram o oeste americano. Sei que David Crockett, Daniel Boone, Paul Bunnyan Jr, por exemplo, são os correspondentes americanos dos bandeirantes paulistas. Eles devastaram florestas, dizimaram índios e fundaram povoados nas inóspitas terras do Kentucky e Tennessee levando a civilização dos brancos aos selvagens da pradaria, da mesma forma que Borba Gato, Raposo Tavares, Dias Paes e outros fizeram pelo Brasil afora. Para tanto tiveram que matar alguns milhares de selvagens, mas isso é o de menos. A implantação da civilização e dos valores cristãos justificam a eliminação dos povos que não entendem a grandeza desse projeto.

Não há diferenças conceituais entre David Crockett, Daniel Boone, Kit Carson, Búfalo Bill e outros desbravadores americanos e os bandeirantes que levaram a civilização para o interior do Brasil. A diferença é que a mídia americana (especialmente Hollywood) os transformou em grandes heróis. O Brasil não aprendeu ainda a usar esse extraordinário recurso que é a literatura, o jornalismo e principalmente o cinema para fabricar mitos. E assim, quando muito, nossos grandes desbravadores ficam registrados numa placa de rua, ou rodovia, uma estátua em praça pública ou uma citação nos livros de História. Mas quem lê livros de História hoje em dia?

Isso também não tem muita importância. Hoje não há muita gente que os consideraria heróis. Mesmo nos Estados Unidos, muita gente torce o nariz quando alguém fala desses caras. “Foram grandes predadores, assassinos de índios e destruidores da natureza”, há quem diga. E foram mesmo.

Se mal fizeram, há também os que acham que fizeram bem. Depende de quem olha. Se olho de branco ou de índio; se de membro da FIESP ou integrante do Green Peace. Se mora num apê da Avenida Paulista ou numa cabana no Pantanal. Se tem interesses em Wall Street ou se é um hillbilly das montanhas do Tennessee. 

Tudo é questão de ponto de vista. Entendo os americanos idolatrarem os seus predadores (ou desbravadores). Afinal, os Estados Unidos são um dos poucos países que ainda não assinaram o Protocolo de Kyoto, que compromete o país que o assina a desenvolver uma política de respeito à natureza e preservação do meio ambiente. Os Estados Unidos e agora a China, são os que mais sujam o planeta. Mas o american way of life, que agora está sendo copiado pelos chineses (o Japão já o faz desde a última guerra mundial), tudo justifica. E no Brasil há quem gostaria de ver o Pantanal e a Amazônia toda convertida em pastos e plantações, produzindo proteína e grãos que nunca chegam à mesa dos brasileiros, porque são todos exportados.

O cadáver gera os próprios vermes que um dia o consumirão. Mas também, o que importa isso enquanto ele acha que ainda está vivo?