Hegel e a parábola do Senhor e Escravo

Karl Marx e Friedrich Engels: ''A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes''.

Filósofo alemão da primeira metade do século XIX, Georg Wilhem Friedrich Hegel (1770-1831) discute a questão do trabalho por meio da parábola do senhor e do escravo, narrada em sua obra Fenomenologia do Espírito, no capítulo IV.

A passagem se refere a dois homens que lutam entre si: um deles vence o confronto; o vencido tem sua vida preservada e se torna um escravo do vencedor.

Nessa relação há um vínculo de servidão e hierarquia de poder, ou seja, temos o dominante; a burguesia, e o dominado, o trabalhador.

E com o passar do tempo, o senhor vê-se, totalmente, dependente do cativo; ou, dito de outro modo, há uma inversão de papeis, pois o dominante necessita do dominado.

Uma observação necessária: por meio do trabalho, é fato que o servo restabelece sua liberdade.

Nessa perspectiva; fica claro o conceito hegeliano de alienação, que é o processo por meio do qual o homem deposita sua potencialidade ao objeto criado por ele, conforme já foi escrito.

Outra coisa, Hegel explica a realidade por meio da dialética e suas características são o trinômio: tese, que é a afirmação de uma ideia, antítese, que é a negação da tese e síntese, que é uma nova tese.

Portanto, não se pode esquecer que a dialética hegeliana tem como fundamento o movimento e a historicidade, aliás, para Hegel tudo está em constante transformação e é possível o acesso ao conhecimento pelo homem.

Como é sabido: a dialética, como arte do diálogo, não foi criada por Hegel, segundo historiadores os ''pais da dialética'' são Heráclito de Éfeso (540-480 a.C.) e Zenão de Eleia (490-430 a.C.).

Marilena Chaui, num texto, diz o seguinte: ''É particularmente com o filósofo alemão Hegel que se afirma que a História é o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e que, portanto, somos seres históricos''.

Nesse contexto, temos a chamada inversão dialética, entre as duas consciências, isto é, por meio dela fica evidente que o senhor está subordinado ao escravo para a sua sobrevivência.

De outra maneira: um está subordinado ao outro e isso revela uma situação de dependência mútua.

Então, a pergunta é: é possível existir, ou não, um sem o outro?

Pois bem, é fato que ''a consciência do senhor é, portanto, a consciência não essencial, a do escravo''; de outra forma, a meu ver, a passagem acima, trata do processo de apropriação do conhecimento e da questão do trabalho, especialmente, numa sociedade capitalista.

Um paralelo: ninguém pode negar que o capitalismo prevalece e seus pilares são a empresa privada, a liberdade de mercado e seu objetivo principal é o lucro; no entanto, sua maior anomalia é a divisão desigual de bens produzidos.

E em relação ao processo de alienação entre o senhor e o escravo, uma explicação é necessária: no início, a consciência do escravo não é ser para si, mas ser-outro, ser para o senhor, ou seja, ele tem seu ser fora da sua consciência.

Finalmente, a verdade que se impõe é a seguinte: o escravo e o senhor alienam-se, o primeiro não tem o livre-arbítrio e mantém sua vida, o proletário não detém as riquezas e um saber de qualidade, ele obedece; o senhor possui uma educação de excelência, manda e é o dono das riquezas.

Fonte

ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. FILOSOFANDO: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2016.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1997.

HEGEL, Georg Wilhem Friedrich. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 2003.