Linguagem neutra, o auge da civilização.

Dizem as línguas viperinas das criaturas lupinas que a linguagem neutra está, em praça pública, para disputa intelectual séria e acalorada, seus defensores a dá-la instrumento apropriado para se chegar à extinção de preconceitos. É natural. Um avanço, um progresso da linguagem, do vocabulário, o destino infalível da língua de todo povo moderno. O símbolo de superioridade civilizacional. O ponto áureo da civilização humana. Os indivíduos que a rejeitam e que lhe torcem o nariz são seres antiquados, da era medieval, incivis, que merecem o ostracismo, a viverem à margem da sociedade perfeita que os vanguardistas labutam, diuturnamente, com o suor do rosto e com o sacrifício do próprio sangue, se necessário, para erigir, se preciso for contra tudo e contra todos. E ai daqueles que ousam ver má intenção nos bons cidadãos que lutam para impô-la, via legal, a todos os filhos de Deus. São cancelados, como se diz hoje em dia. E o que há de natural em tal linguagem neutra? Se é natural, por que as pessoas comuns não a usamos naturalmente sem que sejamos obrigados a fazê-lo, sob coação?! Corruptelas são naturais. Quem nunca falou "bêudo" em vez de "bêbado", "vuô" em vez de "voou" não nasceu ainda. Refiro-me, claro, aos brasileiros. Segundo consta, e não sei se procede a informação, os portugueses são mais cuidadosos do que os brasileiros no uso que fazem da última flor do lácio.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 20/08/2022
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