PIB X IDH- O TERRITÓRIO E O MAPA

 

Lula e seus apoiadores devem ter ficado muito preocupados ao ver as multidões que se reuniram em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, em apoio ao adversário Bolsonaro. Foi uma multidão imensa, que vista como efeito-demonstração, parece, de fato, assustadora para quem pensa que já ganhou as eleições para a Presidência da República.

É um fato que precisa ser levado na devida conta. O bolsonarismo, mesmo que perca essa eleição, como indicam as pesquisas, não desaparecerá da cena política brasileira e certamente será uma pedra no sapato petista durante um eventual governo Lula. A presença de Luciano Hang no palanque do Presidente, por si só, é um claro indicador dessa situação. O empresário catarinense, cujas lojas estão presentes em todos os cantos do país, é um dos mais lídimos representantes do PIB nacional. E ele não está sozinho nessa confraria dos grandes capitalistas apoiadores de Bolsonaro.

Bolsonaro pode ser visto como o candidato do Brasil bem-sucedido. Até a religião que ele adotou, o chamado evangelismo neopentecostal, tem muito a ver com essa imagem. É uma religião cujo evangelho é uma verdadeira cartilha de autoajuda, desenvolvida mais para incentivar a prosperidade econômica dos fiéis do que a sua espiritualidade.

Tudo isso seria ótimo se fosse real. Se o Brasil fosse só Copacabana, Avenida Paulista e Explanada dos Ministérios. Se não tivéssemos as Paraisópolis, as Cracolândias, as Rocinhas e outros lugares onde milhões de brasileiros convivem com a miséria, a doença, a ignorância, a desnutrição, o crime e todo tipo de desassistência que um Estado ausente e descomprometido com o bem-estar dos seus cidadãos, promove.

Mas como diz o filósofo Alfred Korzybski, o mapa não é o território. O Brasil real pouco tem a ver com as multidões que se reuniram nesses locais no dia Sete de Setembro. Até porque a grande maioria dos brasileiros sequer tem condição de frequentar esses locais.

Isso explica por que Lula, apesar de todos as acusações que se levantam contra ele, está na frente das pesquisas que indicam quem será o próximo presidente. É que ele se apresenta como o candidato dos pobres. Embora essa imagem possa ser falsa, é assim que a grande massa do povo o vê. E desse ponto de vista o embate político que ora se trava no país, torna-se, claramente, um confronto entre o PIB (Produto Interno Bruto) e o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

Como diria Delfim Netto, o mago financeiro da Ditadura Militar, esse é um falso conflito, já que um não sobrevive sem o outro. Se por um lado é preciso alavancar o crescimento econômico, por outro de nada adianta um PIB gigantesco se apenas uma ínfima parcela do povo dele usufrui. Não podemos nos deixar enganar com as imagens e as narrativas que ambos os lados tentam nos impingir. O Brasil real só será feliz com o crescimento dos dois índices. Ganhe quem ganhar que o próximo governo não se esqueça disso.