Cancelaram o Dilbert. Abaixo o humor!

Há um quadrinho, o do Dilbert, que eu mal conheço, que entrou na mira dos patrulheiros da galáxia, gente que vive de infernizar os homo sapiens deste e de outros universos. Já cancelaram as distintas e abnegadas criaturas o Pica-Pau, o Tin-Tin, o Pato Donald, e o Shakespeare, o Cervantes, o Tolstói, e o James Bond, e o Borba Gato, e músicos, e cantores, e jogadores de futebol, e jornalistas, e desenhos animados, e filmes, e músicas, e estátuas, e pinturas. E agora cancelaram o Dilbert. Não sei que motivo racional alegaram para o cancelarem. Motivo racional?! Para os canceladores qualquer motivo é racional, e justo, e correto, e meritório, pois todos os motivos que eles têm para cancelarem o que eles cancelam atendem a um bem maior: o novo mundo, o possível, sem injustiças, sem desigualdades econômicas, sem preconceitos, sem racismo, sem discriminação, sem gente feia, sem gente de pouca, ou nenhuma, inteligência, sem o que quer que seja que eles entendem que no mundo ideal que eles conceberam em pensamento não pode existir. Parece-me que o humor do Dilbert, que, digo, não sei de que gênero é, incomodou, e atormentou, a turminha que deseja o bem da humanidade. Não sei se é o humor do Dilbert engraçado. Não sei. Das tirinhas dele, eu li, se muito, umas dez, e há uns dois séculos: se não me falha a memória eu as li ainda no tempo em que Dom Pedro I, aquele safadinho, ia em visita à Domitila de Castro. Mas é o humor, que, dizia um antigo filósofo do tempo dos Césares, fazendo rir os humanos, educa-os, o ingrediente que atormenta os que lutam por um mundo melhor. O humor! O humor! O humor! Por que odeiam o humor, e quem faz do humor sua virtude, sua arma, as criaturas que se têm em alta conta, se levam muito a sério, se entendem a corporificação do Bem, das Virtudes, da Verdade, da Justiça? Penso que a resposta está na pergunta, e em palavras que já escrevi: o humor, fazendo rir os homens, educa-os. Os autoritários, sejam eles governantes poderosos, sejam eles toda e qualquer pessoa de espírito hostil à divergência, refratário ao contraditório, odeiam, e odeiam de morte, o humor, venha de onde ele vier, tenha ele em mira qualquer pessoa, qualquer religião, qualquer cultura, qualquer ideal.

O mundo já conheceu Aristófanes, Swift, Boccaccio, Rabelais, Machado, Gogol, Shakespeare, Cervantes, Fielding, Daudet, e Chaplin, Cantinflas, Oscarito, Grande Otelo, Harold Lloyd, e tantos outros gênios da arte de fazer rir, cada qual ao seu modo, com o seu estilo, único e inconfundível, submissos cada qual ao seu temperamento, uns amargos, alguns doces, e outros agridoces, uns fatalistas, e mal-humorados, conquanto bons e divertidos humoristas, outros esperançosos, uns sutis, outros nem tanto, uns poéticos, elegantes (eu ia escrevendo elefantes), outros brutos, bárbaros, todos, enfim, a fazer rir quem lhes conhece a obra.

O humor incomoda, é fato. E afia a inteligência dos bípedes implumes, ninguém há de negar. Daí o desejo dos tolos, dos idiotas, dos autoritários pedirem pela sua extinção.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 30/09/2022
Código do texto: T7617522
Classificação de conteúdo: seguro