Representação política como parâmetro da divisão do Brasil

Dia 02 de outubro, eu e outros milhões de brasileiros tivemos um encontro mais íntimo com a democracia. As ruas estavam poluídas com santinhos. Evitei ir cedo para que não fosse intimado a ser um mesário na ausência de alguém. Apesar de ser na zona rural, o meu colégio eleitoral estava com uma fila menor que em outros lugares, porém, lenta.

A biometria, a grande quantidade de candidatos e a dificuldade de algumas pessoas em votar atrasou o meu voto em cerca de três horas. Apesar da impaciência geral, o momento foi levado com bom humor. Não houve nenhum evento desagradável. Foi uma eleição tranquila e com uma novidade: confirmar duas vezes os votos de governador e presidente.

Após o término das eleições, acompanhei a apuração dos votos que, só não seguiu mais rápido devido ao atraso em algumas sessões eleitorais no Brasil afora. Antes das oito horas da noite alguns cenários estavam bem definidos em eleitos e segundos turnos. Interessante notar que no que diz respeito à Presidência da República, as pesquisas confirmaram o favoritismo do ex-presidente Lula. Embora isso me traga reticências.

O petista liderou a disputa, porém, de maneira apertada, com poucos votos de diferença em relação ao atual presidente Jair Bolsonaro, que tenta se reeleger. Lula sofre atualmente do Efeito Ciro, só consegue maioria de votos no Nordeste, seu reduto político e base eleitoral fidelizada, não expandindo votos em outras regiões do país. O PT, mesmo no Nordeste, amarga maus resultados na região, elegendo poucos legisladores e levando governadores coligados para um segundo turno. Lula terá que mobilizar e tecer novas alianças pelo Brasil, caso contrário, poderá perder a eleição.

Falando em rosa murcha, que Ciro foi esse? Após quatro tentativas fracassadas a eleição presidencial, Ciro Gomes saiu menor do que nunca em 2022! Dos 12% das eleições anteriores, sua malfadada campanha eleitoral o fez cair para cerca de 3% dos votos válidos, sendo superado pela Simone Tebet do MDB, o para-raios da terceira vaia, digo via. Ciro conseguiu perder apoio no Ceará, do PDT e até dos seus irmãos.

Os cargos legislativos parecem ser o tendão de Aquiles de um possível governo Lula. O bolsonarismo aumentou a sua bancada legislativa, mesmo no Nordeste. No segundo turno, Lula e o PT terão que conviver com o desânimo da população, uma nova e cara rodada de negociações, e a violência política da extrema-direita. Não será uma campanha eleitoral fácil.

Ciro Gomes e Simone Tebet podem ter dividido votos, mas qual a desculpa para as estratégias políticas e composições equivocadas do PT nessa eleição? A supervalorização do cargo Executivo em detrimento do Legislativo produz um déficit na governabilidade. Governar sem bases sólidas ainda será um problema para o ex-presidente Lula.

O Brasil continua a manter a sua divisão sociopolítica. Não digo isso com qualquer sentimento de triunfo ou estímulo as contendas regionais. Mas, está mais que claro, o Nordeste, parte do Norte e do Sudeste segue à esquerda do futuro, e o resto do Brasil ruma à direita do passado. Nenhum desses brasis se encontram no meio do caminho.

Caliel Alves
Enviado por Caliel Alves em 03/10/2022
Reeditado em 03/10/2022
Código do texto: T7619404
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