A LETARGIA DA ESQUERDA BRASILEIRA NAS ANÁLISES E INTERVENÇÕES NA REALIDADE

O Brasil completará 523 anos da invasão europeia nas terras de Pindorama.

A República Federativa do Brasil chegará aos 134 anos.

De 1500 (Século XV) até os atuais 2023 (Século XXI) quando que efetivamente o Povo Brasileiro chegou ao poder e ao governo da nossa Nação?

Não vou me alongar, nesta reflexão, não será uma dissertação, uma tese, apenas um modesto artigo, pois não quero cansar os leitores, sem a pretensão de chegar a qualquer conjectura e/ou conclusão acerca dos cenários e das conjunturas pretéritas, e atuais, que retardam a chegada da Classe Trabalhadora ao poder neste país.

Claro, que por toda a nossa história, colonial-monárquica e republicana, o povo sempre se levantou, contra as classes dominantes e opressoras, contra os escravocratas, contra as oligarquias agrárias, contra a monarquia, contra a república dos latifundiários, contra o patrimonialismo, contra a herança maldita das capitanias hereditárias, e seus reflexos na meritocracia do individualismo, que no capitalismo colonialista brasileiro é o carro-chefe da elite do atraso, que segue hegemônica, na detenção do poder econômico-político brasileiro.

Que o povo luta, e resiste, é fato histórico.

A reflexão, que pretendo estimular, é por que a Esquerda Brasileira, que começa a se estruturar no Brasil, a partir das primeiras décadas do Século XX, a partir das iniciativas industrializadoras, que fomentou a migração popular, para os centros urbanos, e forjou uma nova classe operária, e média, não conseguiu organizar as massas, operária e campesina, para o rompimento, com as estruturas colonialistas-feudais, que seguiram no poder, e no governo, por toda a Primeira e Segunda República, que só foram fraturadas, com o Estado Novo (1937-1945), um golpe de estado pequeno-burguês, que se tornou populista, ganhando amplas massas populares, no que se denominou a Era Vargas, que inaugura a Terceira República Brasileira?

Por que a Classe Operária e Campesina, a Classe Trabalhadora Brasileira, foi levada a ser liderada, pela pequena-burguesia, pela Classe Média, que viu a oportunidade de dividir o poder, e governo, com a Burguesia?

O artigo não vai se aprofundar na narrativa de que houveram algumas tentativas de levantes esquerdistas no Brasil, como a Caravana da Esperança, liderada por Luiz Carlos Prestes (1925-1927), a Intentona Comunista (1935), a Guerrilha do Araguaia, entre fins da década de 1960 e a primeira metade da década de 1970, e todas as resistências populares, contra o golpe militar e durante a ditadura civil-militar (1964-1985), pois todas essas lutas de resistências, importantes, gloriosas e meritórias, não obtiveram a massiva adesão das massas populares e não lograram o êxito de derrotarem a burguesia brasileira.

A redemocratização do Brasil, a partir de 1985, foi obtida por meio de um amplo acordo, e pacto social, entre as forças democráticas progressistas, a esquerda democrática moderada e a burguesia, por meio do Movimento Diretas Já - Democrático-Progressista (1983), que possibilitou a Assembleia Nacional Constituinte (1987), a Constituição Federal de 1988, e as eleições diretas (1989).

Contudo, de 1989, com a Nova República, até hoje (2023), a burguesia brasileira jamais abriu mão do seu poder de exploração e dominação do Povo Brasileiro, o que mantém a nossa democracia frágil, e sujeita as tentativas de golpes de estado e retrocessos político-sociais.

Penso que são esses dois eixos a base desta reflexão, que aqui quero estimular, e o quanto custou/custa, aos trabalhadores, essa "tutela" pequeno-burguesa, sobre as nossas lutas libertárias anti-capitalistas.

Creio, que alguma parcela, da Classe Trabalhadora e Média, já se deram conta que a Esquerda Brasileira é majoritariamente dirigida pela pequena-burguesia e, portanto, insiste, e resiste, em ser moderada e anti-revolucionária, não liderando o rompimento com o Capital, se perfilando ao lado do discurso e do gerencialismo da "Democracia Burguesa", que sustenta o Capitalismo, e embute no cerne a oposição ao Comunismo, e até mesmo ao Socialismo Democrático.

A experiência que tivemos, no período Lula-Dilma (2003-2016), a única de fato de Centro-Esquerda, na história política brasileira, foi esclarecedora do quão segue atrasada, conservadora, colonialista, exploradora, dominante, escravizadora, reacionária e racista, a elite, e parte da classe média, brasileira.

Os poucos avanços que os trabalhadores obtiveram, nos dois governos de coalizão (2003-2016), liderados pelo Partido dos Trabalhadores, apesar de insuficientes para superarmos as ignomínias históricas, foram rechaçados por uma conspiração feroz da elite do atraso, que associada a uma parcela conservadora, da classe média e do lumpesinato, motivaram as manifestações de 2013, a conspiração burguesa, a adesão à guerra híbrida, a Operação Lava-Jato, o golpe de 2016, a deposição da presidenta Dilma Rousseff, a prisão arbitrária e política do presidente Lula, a criminalização da esquerda, com a subsequente retomada do poder, e do governo do Brasil, pelas forças atrasadas e reacionárias, da burguesia nacional, e internacional, nos desgovernos Temer-Bolsonaro (2016-2022).

O retrocesso foi notório.

Entreguismo recorrente, implementação do ultraliberalismo econômico, aceleração da implantação do Estado mínimo, apologia ao conservadorismo de costumes, ao neonazifascismo, ao pseudo-fundamentalismo religioso cristão, desregulamentação e precarização brutal do trabalho, desmonte da previdência e da seguridade, sucateamento do SUS, desmantelamento da educação e da cultura, desemprego em massa, desmobilização dos movimentos sociais, do sindicalismo e do ativismo progressista da sociedade organizada, desalento e volta da fome, que assola cerca de 30 milhões de brasileiros.

Toda a crise econômico-social foi agravada pela pandemia Covid19, que se espraiou pelo mundo, desde 2020, que no Brasil nos levou ao fundo do poço, seja pelo negacionismo da ciência, estimulado pelo desgoverno, seja pelas consequências de todas as desarticulações socioeconômicas intrínsecas a uma sociedade levada aos pés da barbárie, da distopia e do caos.

As eleições de 2018 foi uma modesta resposta progressista, e relativa, diante da polarização política, que possibilitou o povo brasileiro, sobretudo, a Classe Trabalhadora, impor uma frágil vitória sobre o conservadorismo e o atraso das forças burguesas reacionárias, que esperamos não seja uma 'vitória de Pirro'.

Lula vence as eleições (2020), e inicia o seu governo III, num cenário, e numa conjuntura, ainda mais complexa, do que governou, entre 2003-2010, sem maioria no Congresso Nacional, num cenário onde a burguesia segue financiando a direita conservadora e a extrema-direita golpista-reacionária, com a população polarizada, grandes massas do lumpesinato atuantes, inexistência de uma Esquerda Revolucionária Popular, e a manutenção, da recorrente tutela, sobre a Esquerda Moderada (e dividida), pela Classe Média, Pequeno-Burguesa, capitaneada por uma Frente Democrática-Progressista, integrada por vários partidos políticos, de centro-esquerda, e parte da direita democrática, que defendia uma terceira via, que reedita um novo governo de coalizão, que tem, como cabeça-de-chapa, o Partido dos Trabalhadores.

Novamente, o governo Lula III, terá grandes desafios à frente, que já estão se delineando, sintomaticamente, e a "intentona golpista", de 8 de janeiro de 2023, inaugurou a nova 'tempestade fascista', e reafirmou que a guerra híbrida e a conspiração anti-esquerda e anti-democracia popular não cessaram.

A elite do atraso segue amotinada e reagindo a retomada do Estado Democrático de Direito e do Estado de Bem-Estar Social, no Brasil, não quer abrir mão de qualquer dos seus privilégios, e segue convicta dos seus domínios exploratórios hereditários sobre o Brasil e sobre o Povo Brasileiro.

Vamos finalizando, camaradas, companheiras e companheiros, com o que motivou toda esta reflexão, que provoca todos nós, a nos perguntar sempre, por que, diante desses cenários, e conjunturas históricas, sempre desfavoráveis às Classes Trabalhadoras (urbanas e rurais) e Médias, a Esquerda Brasileira segue tão lenta, nas análises, e se mantém moderada nas intervenções, sobre a perversa realidade brasileira?

O presidente Lula, neste terceiro mandato presidencial, já está diante desta realidade perversa, que não lhe dará um segundo de trégua, e nos preocupa a capacidade de mobilização, da sociedade progressista organizada, e da Esquerda Moderada Brasileira, que disporemos para apoiá-lo e intervir de fato contra todas as reações conservadoras, que seguem atuantes, e haverão de se insurgir contra a Democracia-Popular e a retomada do desenvolvimento sustentável, com justiça e bem-estar social, paz, independência e soberania do Brasil.

Marco Paulo Valeriano de Brito
Enviado por Marco Paulo Valeriano de Brito em 22/03/2023
Reeditado em 23/03/2023
Código do texto: T7746304
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