O DÓLAR DO LULA

 

Na cabeça do Lula o dólar é um obstáculo que impede os países do BRICs de deslancharem no comércio internacional. Por isso propõe que as trocas comerciais entre eles sejam pagas nas respectivas moedas nacionais, o que os livraria da incômoda tarefa de acumular divisas em dólar.

Seria interessante se fosse exequível. Mas até o mais ingênuo estudante do primeiro ano de economia sabe que essa proposta é de uma ingenuidade (ou ignorância) formidável. Desde que a civilização existe sempre houve um padrão monetário para regular as trocas comerciais entre diferentes povos. Já foi o sal, de onde vem a palavra salarium, já foi o gado (pecus) de onde saiu a palavra pecúnia, já foi o ouro e hoje é o PIB da nação mais rica do mundo que regula o “real state” que garante esse padrão.

Lula quer mudar uma prática que já tem milênios de idade. Ele sabe que a sua proposta é ingênua e jamais encontrará respaldo entre os parceiros. Seria interessante comprar fertilizantes russos e semicondutores indianos pagando em reais. Mas quando eles quiserem comprar carne, aço e automóveis no Brasil, duvido que os nossos exportadores queiram receber rupias e rublos em troca de seus produtos. Isso também vale para a China, Japão, Inglaterra, Alemanha, e demais países. Pergunte-se aos exportadores estrangeiros se gostariam de trocar a moeda padrão das suas transações internacionais pelas moedas dos países subdesenvolvidos que compram ou vendem para eles.

Pior que isso ainda seria quando os exportadores de comodities, que é o nosso caso, começassem a fazer contas baseadas nas vantagens comparativas que são postas em cima de transações envolvendo produtos básicos com outros de alta tecnologia. Quantos bois um pecuarista brasileiro teria que trocar por um jatinho fabricado na Suécia? Ou quantas sacas de café ou soja valem um moderno computador? O uso de um padrão monetário comum esconde a distorção das vantagens comparativas, mas será que a troca, pura e simples em moedas de cada país, conseguiria fazer isso? Mesmo que fosse só para os países do BRICs? Quem gostaria de receber em rublos, rúpias e que tais? 

Lula não é ingênuo e sabe que grande parte das moedas desses países não tem lastro nenhum. São mais voláteis que éter e acetona. Ele já foi mais centrado e cuidadoso com suas ideias. Propostas como essa o fazem parecer mais com a Dilma do que com o Lula do seu primeiro mandato. Talvez o tratamento que ele fez contra um câncer na garganta tenha afetado seus neurônios. Ou os constrangimentos que a Lava a Jato lhe infringiu tenha reforçado seu papel de vítima e agora ele resolveu encarnar de vez um papel que sempre teve vontade de fazer: o de Messias redentor. Ele precisa tomar cuidado com isso pois o Gólgota dos políticos é sempre a vaidade e a sanha pelo poder. A cruz, o martelo e os pregos a oposição já tem. Falta só um Sinédrio para condená-lo. E isso o Congresso não está longe de encarnar.