Lula, e Marina Silva. E o Rio Amazonas. E o meio-ambiente. E o petróleo.

Veio-me ao conhecimento: defenestraram a Marina Silva, aquela senhora que é, para algumas pessoas, uma criatura adventícia oriunda ou de um planeta qualquer do sistema solar, ou das redondezas da constelação de Órion, e, para outras, um exemplar de uma espécie de tartaruga; para outras, ainda, ela é a encarnação do espírito da Terra. Eu, que desconheço a taxinomia que Lineu popularizou, calo-me a respeito, e adoto a tese que, assim me parece, e também a poucos outros primatas evoluídos - não tão evoluídos quanto o César, reconheço -, é a mais sensata, talvez a única que o seja: é a Marina Silva uma fêmea da espécie humana. Deixando pra lá tal questiúncula, que não é o tema destas palavras, poucas - e se porventura o leitor a ela quiser se dedicar, que o faça com a seriedade que o assunto exige -, digo: a Marina Silva queria porque queria impedir a Petrobrás de extrair petróleo de um ponto localizado nos arredores da foz do Rio Amazonas, mas foi voto vencido. Daquele determinado local, que, além de o desconhecer, não sei onde fica, a maior empresa brasileira - ainda é a maior?! - irá tirar quatrilhões de litros de ouro preto líquido (ou fluídico, não sei). E o que penso a respeito?! Penso que, respeitando-se regras ambientais apropriadas, e não as estabelecidas para se atingir objetivos políticos e econômicos desta e daquela turma de espíritos-de-porco; atendendo-se, penso, normas que a ciência em inúmeros campos concebeu para o exercício correto à atividade de extrair do solo, do emerso, e do submarino - mesmo que estejam nas proximidades, aquele, do Olimpo, e de Atlântida, este -, o petróleo tão necessário à conservação e ao funcionamento da civilização tecnológica que está a devorar o espírito dos homens, pode-se empreendê-lo sem nenhum problema. Pode-se tirar, se assim o desejarem, petróleo das nuvens e das estrelas. É o que penso. Não vejo, eu, um ignorante em tal assunto, mal em se extrair petróleo de onde quer que seja, pois, presumo, atualmente há conhecimento e tecnologia que permitem, reduzindo-se o impacto ambiental, toda e qualquer atividade humana. Ora, toda atividade humana implica, em certa medida, na alteração do ambiente. Acredito ser uma insensatez acabar com todo um campo econômico porque gente inescrupulosa, a agir de má-fé, e sem medir esforços para concretizar os seus objetivos criminosos, e que tampouco se preocupa com as consequências nefastas deles resultantes, provoca estragos no meio-ambiente. Seria o mesmo que dar fim à profissão de cabeleireiro porque um cabeleireiro, que se antipatiza com um certo cliente, arranca-lhe, sem querer querendo, fora, à tesoura, uma orelha. O exemplo, reconheço, é grotesco, grosseiro, ridículo; ilustra, no entanto, à perfeição, acredito, o meu argumento. Neste caso, pergunta-me o leitor, e eu lhe respondo, qual é o meu objetivo ao escrever estas palavras: expor a, direi, hipocrisia daqueles que até ontem condenavam o combustível dito de origem fóssil, o petróleo, e pediam-lhe a substituição por outra fonte de energia, a limpa, a verde, renovável, afinal é o petróleo poluente se queimado pelos automóveis e a atividade para a sua extração é de imenso impacto ambiental.

Antes de prosseguir, um comentário: não sou geólogo, biólogo tampouco; e aqui digo poucas palavras acerca do que me chegou ao conhecimento: o petróleo, defendem certos estudiosos, não é produto da decomposição de matéria orgânica depositada, na terra, há milhões de anos; não é, em outras palavras, mais populares, resultado do apodrecimento de gigantescos cadáveres de dinossauros; é o petróleo produto mineral abundante, fruto da queima, no centro da Terra, de minérios - sei lá eu quais - que, sob forte pressão e calor de fazer mármore suar, transforma-se a tal ponto que se torna em coisa irreconhecível, o petróleo. Existirá petróleo enquanto houver minério para ser queimado e no centro da Terra um forno. E há quem jura, de pé junto, que é o petróleo esgotável, irrenovável (ou, se é, é num intervalo de milhões de anos de decomposição de matéria orgânica; então, o petróleo que hoje se consome esgotar-se-á dentro de pouco tempo, e renovar-se-á, daqui não se sabe quantos milhões de anos, assim que nossos corpos, os nossos, de bilhões de seres humanos, partidos desta para a melhor, enfrentarem todos os processos químicos e biológicos e físicos que os cadáveres dos dinossauros enfrentraram até serem reduzidos a petróleo).

Agora, já encerrado o comentário, digo: estou a ver hipocrisia em muita gente que, hoje, ou calada a respeito da decisão do governo em explorar petróleo, em águas profundas, na foz do Rio Amazonas, ou a apoiá-lo, discreta, ou indiscretamente, ontem berrava aos quatro ventos, em defesa heróica do meio-ambiente, contra os combustíveis fósseis, que eram, dizia-se, poluentes, e pedia pela extinção da exploração de petróleo, e pela sua substituição por fontes renováveis de energia, e condenava ao fogo do inferno a indústria petrolífera, e defendia, com unhas e dentes, a ferro e a fogo, a Amazônia, e o oceano, e a vida marítima... e as tartarugas. Não há tartarugas nas proximidades da foz do Rio Amazonas?! De lá mudaram-se de mala e cuia?! Pergunto-me quais argumentos científicos persuadiram os dignos e nobres e admiráveis defensores da natureza a mudarem de postura, assim, tão rapidamente, sem mais nem menos.

Se o atrito entre gentes do governo Lula e a ministra Marina Silva não é apenas jogo de cena; se a Marina Silva é uma sincera defensora do meio-ambiente - e desconheço-lhe a biografia, e tampouco me disponho a fazer de Marina Silva um julgamento moral -; se Marina Silva é autêntica em sua postura, pergunto-me se há razões, e razões de sobra, razões técnicas, científicas, para se proibir a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, e se Marina Silva não possui uma postura exageradamente pró-natureza, e anti-indutrial, anti-civilização, injustificada. Se é este o caso, tem Marina Silva, unicamente, uma cosmovisão que a faz distorcer, involuntariamente, o ambiente real, em defesa de uma idéia pré-concebida acerca da vida na Terra - esta é a ressalva que cabe ao caso, e sem julgamentos morais. Mas se toda a história não passa de um jogo de cena, cabe a nós nos perguntar com qual propósito o executaram. E pergunto-me, a atanazar-me uma pulga atrás da orelha direita e, atrás da esquerda, a atazanar-me um carrapato, ambos tagarelas incorrigíveis, insuportáveis, tão incorrigíveis, tão insuportáveis, que falam mais do que cada qual a sua boca, se está Marina Silva a ver, no atual governo, coisas - a respeito das quais ela para o público nada pode falar - que redundarão, num futuro próximo, da política ambiental do atual governo, uma desgraça monumental, assim pretendendo, digo, numa linguagem chula, tirar o seu da reta. Não sei, sinceramente, o que pensar a respeito. Não tenho bola de cristal; poderes telepáticos, tampouco, pois não me agraciou a natureza com genes mutantes.

Só sei que, aqueles que passaram os anos de 2.019, 2.020, 2.021 e 2.022 a louvarem a natureza, a recitarem poemas de amor à Amazônia, a vilipendiarem o (assim dizem) Inominável, estão, agora, uns, em silêncio, ou a fingirem que não sabem o que sabem, ou, sabendo o que sabem, não tocam no assunto, e outros a, desconversando, a se perderem em circunlóquios e palavreado de entorpecer os próprios sentidos e os de quem se dispõe a ouvi-los.

E assim caminha a humanidade...

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 03/06/2023
Reeditado em 08/06/2023
Código do texto: T7804232
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