A estátua e o juramento

As surradas chuteiras haviam sido democraticamente penduradas por seus eleitores, por conta dos menos de doze mil votos registrados no último pleito eleitoral. Tudo indicava que chegara ao fim, pelo menos temporariamente, sua longa carreira pública. Mas eis que por uma impensável obra do destino, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o coloca de volta ao cenário político nacional, alçado ao cargo de deputado federal. Ao iniciar a oitava temporada na Câmara, destacou que “... não vim para dividir, vim para somar, para construir pontes para o futuro...” e ainda “ ... quero ser um soldado das causas desse país...”, entre outras assertivas puramente ufanistas.

O discurso do recém-empossado parlamentar paranaense seria capaz de emocionar o mais insensível do mais indiferente telespectador. Com essas e outras pueris declarações, tentou vender a imagem de extremada dedicação aos interesses maiores da nação, sentimentos típicos presentes apenas naqueles que carregam consigo valores infinitamente superiores aos apresentados pela imensa maioria dos políticos dessa maltratada nação. Ainda mais comovente e instigante foi sua inusitada manifestação perante a estátua do saudoso deputado Ulysses Guimarães instalada no Salão Verde, entrada do plenário da Casa Legislativa, que incluiu uma conveniente e midiática inflexão “... estou aqui de volta, conto com sua iluminação...”. O agraciado parlamentar tem motivos mais do que suficientes para que seu coração, sua alma e principalmente sua algibeira sejam tomados pela felicidade irreprimida com o retorno aos trabalhos legislativos, mais ainda com o estímulo das vultosas prerrogativas mensais, inerentes aos que ocupam as cadeiras estofadas do legislativo federal.

Sua retórica pretensamente patriótica revela nas entrelinhas a busca pela legitimação como integrante daquela instituição, mas sua pífia desenvoltura nas urnas não é ignorada pelos eleitores e foi uma demonstração inquestionável da necessidade de oxigenação dos quadros do legislativo. Ocorre que além de transmitir a imagem de extasiado, o versado deputado mostrou a incoerência que acompanha os que almejam incansavelmente o poder e consequentemente, suas benesses. Ao acenar jubilosamente e sem constrangimento algum para o governo atual, evidencia uma desconexão total com suas origens partidárias e ideológicas. Sua incongruência atual faria ruborizar o sábio e habilidoso estadista, reconhecido por sua retidão e ética no serviço público, representado na estátua reverenciada publicamente.

O pagador de impostos assiste de camarote aos acontecimentos e se convence cada vez mais de que os políticos desse País não têm compromisso algum com o bem estar da coletividade, pelo contrário. Imaginam-se ocupantes vitalícios dos cargos que lhes foram confiados através de um aval meramente transitório, exatamente por aqueles que esperam em contrapartida o cumprimento integral do juramento por ocasião da posse, que é “manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro e sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil". Pois que estejam realmente empenhados em cumprir com suas obrigações legais, morais e institucionais. Simples assim. Sem embromação, demagogias nem hipocrisias. E sem conversas com estátuas.