Mulheres não existem.

Vivendo, e aprendendo. Até há pouco tempo, eu acreditava que, dentre os humanos, além de homens, existiam mulheres. Agora, hoje, neste exato momento, estou certo de que eu não estava certo e de que me induziram a acreditar numa falácia criminosa meus professores de ciências, e biólogos, e cientistas de outras áreas do conhecimento, e que o que os meus livros didáticos do primário e do secundário ensinaram-me está errado, redondamente errado. Agora sei: não há mulheres. Pessoas de alta moralidade, que sonham com um mundo sem preconceitos, pessoas que estão a erigir uma civilização na qual ninguém é discriminado por causa de suas singularidades físicas e psicológicas, e anímicas e atávicas, e espirituais e pragmáticas, e físicas e metafísicas, e cognitivas e mnemônicas, e intelectuais e sensoriais, pessoas que, denodadamente lutam para fazer do mundo um mundo melhor, o outro, descobriram, usando de poderes intelectuais que lhes são exclusivos, que não há mulheres, criaturas, estas, que nunca existiram. Até o momento em que tais pessoas, as que estão a iluminar a condição humana, descobriram o que descobriram, uma verdade encoberta até então pelo véu da ignorância, acreditava-se que era apropriado usar o substantivo "mulher" para designar, e identificar, as criaturas bípedes e implumes por tal substantivo designadas e identificadas. Hoje, sabe-se que estava-se em erro. As pessoas de intelecto privilegiado estão a eliminar da cultura linguística humana uma asneira enormemente colossal. Agora, entende-se, e corretamente, que o substantivo apropriado para se designar, e identificar, as criaturas anteriormente, e equivocadamente, substantivadas com "mulher", é "menstruador". Sim. "Menstruador." Tal substantivo está, desde sempre, desde que o mundo é mundo, à disposição de todo ser humano, que, por algum razão, que não me tangencia a cachola, ignorou-o. Agora, sim, agora, que sabemos o substantivo apropriado para designar, e identificar, as criaturas que outrora designávamos, e identificávamos, com o substantivo "mulher", não temos justificativas, desculpas tampouco, para seguir a designá-las, e identificá-las, com o substantivo inapropriado. E seguindo tal linha de raciocínio, conquanto as pessoas que estão a criar um mundo melhor, o outro, no qual ninguém fere as suscetibilidades idiossincráticas de ninguém e no qual ninguêm tem a sua cosmovisão ferida, não tenha do caso dito uma palavra, obrigo-me a concluir que, se as pessoas outrora substantivadas com "mulher" são "menstruadores", então as pessoas que se lhe opõem, no espectro sexual, os outrora substantivados com "homem", são "não-menstruadores". Vivendo, e aprendendo. Assim, o ambiente social, substituindo-se "mulher" por "menstruador" e "homem" por "não-menstruador", respeitando-se as novas descobertas, que põem fim a preconceitos linguísticos milenares, torna-se menos discriminador e mais acolhedor para as pessoas que não contam com o beneplácito da gente comum, ignara, bruta, incivil.

Oxalá o edifício da sociedade perfeita esteja concluído ainda em minha vida. Quero testemunhar tão maravilhosa obra. Estou certo que comigo de tal desejo compartilham bilhões de menstruadores e de não-menstruadores.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 09/07/2023
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