Ao Estado a exclusividade do exercício da segurança pública.

Quem nunca ouviu falar, nestas terras, as nossas, e em outras, próximas e longínquas, que ao Estado, e ao Estado unicamente, cabe a obrigação, sustentada numa idéia que faz a cabeça dos seres iluminados, superiores, em todos os aspectos que se possa considerar, aos homens comuns, de fazer a segurança de todo ser bípede implume que circula pelas ruas e avenidas e praças e no interior de quaisquer propriedades particulares e residências igualmente particulares?! Quem nunca?! Quem atende ao chamado da canção dos seres iluminados, aqueles seres que em sua maioria lamberam com a testa a capa de alguns poucos livros, e dentre os piores que os seres humanos mais sórdidos que já pisaram na face da Terra escreveram, acredita, piamente, que está a ir em favor de uma idéia que irá erigir, em nosso mundo, o paraíso, e mal sabe que está a fincar em solo firme os alicerces de um edifício infernal.

Não me escapa à cabeça um pensamento que a orbita há um bom tempo: se é da responsabilidade exclusiva do Estado a segurança pública, do público, e consequentemente a proteção da vida de todo ser humano, então é o Estado o responsável, e o único, pelas tragédias que vitimizam as pessoas que estão sob a sua jurisdição.

A concentrar o meu texto nas coisas destas terras que os lusitanos cultivaram, digo: após uma tragédia que vitimou, no Rio de Janeiro, quatro pessoas, é dever de todo crente na omnissapiência e onipotência do Estado concluir que o Estado falhou, tem limites, e é seu campo de ação estreito, e não pode abranger todos os recantos do território do Brasil - que, de tão vasto, nenhum ser humano é capaz de vê-lo por inteiro (quem está no Chuí não sabe o que se passa no Oiapoque e quem está no Oiapoque não imagina o que se dá no Chuí) -, e tampouco é capaz de saber quais são as vontades, os pensamentos, os desejos, as ambições, enfim, tudo o que se passa na cabeça de cada um dos humanos que estão sob a sua proteção. Mas, quê! Os crédulos estatólatras pedem por mais concentração, nas mãos do Estado, do poder de exercer a força. Mal sabem tais pessoas, ingênuas, inocentes (estou a falar de pessoas de bom coração, é claro), que é o Estado uma abstração, uma idéia que ainda no tempo das cavernas brotou da cabeça oca de um neanderthal cujo nome de batismo a História não registra; que é o Estado uma quimera, uma fantasmagoria, que pode ser detestável, de pôr de cabelos em pé todo e qualquer bípede de trinta e dois dentes, descendente de Adão e Eva, ou camarada, gentil, amigável, amável. O Estado não faz nem fa nem fu, mas quem move as dele engrenagens, sim. O Estado não é nem bom, nem mal; nem moral, nem imoral, nem amoral. Quem está em suas entranhas, alimentando-o, animando-o, sim, tem valores, tem ambições, tem propósitos. Não se sustenta, por mais que insistam os que têm o Estado no altar, a tese que ensina que é o Estado o mantenedor da paz e da ordem. O Estado é um fenômeno social, da civilização, pode, a depender de quem lhe grava no cérebro as diretrizes, ir ao encontro das pessoas ou de encontro a elas. E quanto maior é a violência a que se assiste em um país, e maior a insegurança da população, e mais estão as pessoas sem arrimo, mais perdidas do que barata tonta após uma chinelada bem dada no lombo, e pior é o sistema educacional, e o de saúde, mais ineficiente e incompetente é o Estado, melhor, as pessoas que lhe movem as engrenagens - ou eficientes e competentes, se se entender que é o objetivo delas fazer o povo comer o pão que o Diabo amassou. A observar os homens que ocupam-se das coisas do Estado, parece que têm eles, em sua maioria, natural inclinação para o exercício do poder de vida e morte sobre as pessoas; que têm eles a predisposição de querer impôr suas veleidades, suas idiossincrasias, sejam estas quais forem, à população, independentemente se esta as quer, ou não.

Suspeito que fui um pouco além da minha intenção inicial.

Então, para encerrar: estamos a ver a multiplicação de assassinatos, no Brasil, neste 2.023: a Bahia está em pé de guerra; em São Paulo, o Estado, com suas forças de segurança, atuou para conter, em cidades litorâneas, poderosos grupos criminosos; no Rio de Janeiro, uma ação criminosa redundou na morte de quatro médicos (ou três, as informações que me chegaram são desencontradas); há poucos dias, noticiou-se o assassinato de dentistas não me recordo em qual estado da federação; e o Rio Grande do Norte enfrentou uma onda de violência de assustar todo cidadão. E quem nunca ouviu falar do novo cangaço, que há décadas está a aterrorizar os brasileiros de cidades do interior, do sertão?! E quem não sabe que é a criminalidade que no Brasil cresce como erva-daninha produto da cultura bandidólatra, de culto aos criminosos, que na literatura, na música, na televisão, no cinema, nas obras de intelectuais são enaltecidos como heróis?! E quem não sabe da ação de homens do Estado que têm uma visão-de-mundo compatível com a cultura que tem no bandido agente da construção de um mundo perfeito, o melhor?! E os criminosos avançam. Até quando?! Creio que apenas homens do Estado, se dotados de valores que se identifiquem com os valores mais caros aos homens bons, e atuando em favor deles, podem melhorar o atual estado de coisas no Brasil, que vai de mal a pior. Porém, por enquanto, e sabe-se lá por quanto tempo ainda, seremos obrigados os brasileiros a convivermos com homens-da-lei que morrem de amores pelos bandidos, e com políticos iníquos, que encontram nos bandidos aliados, e com intelectuais que ensinam que há lógica no assalto e que são os bandidos criaturas angelicais que, não contando com a compreensão da sociedade, voltam-se compreensivelmente e justificadamente contra ela... Em ambiente tão favorável aos bandidos há quem acredite que são as armas que matam, principalmente as cujos proprietários são homens honestos, e que os policiais são os vilões da história e, portanto, devem agir sempre de mãos atadas, e que as leis devam ser mais amigáveis com os criminosos, e que... A coisa não irá melhorar tão cedo, vê-se.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 08/10/2023
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