Bandidolatria.

É fácil, no Brasil, o acesso dos bandidos às armas. E em outros países, inclusive nos ricos e prósperos, que não enfrentam criminalidade tão elevada quanto à que se vê no Brasil, e com a qual muitos brasileiros estão, dir-se-ia, habituados, e a entendem uma força da natureza contra a qual nada se pode fazer, e lutar contra ela nada mais é do que dar murro em ponta de faca, é a situação diferente? A bandidolatria, no Brasil, sabe toda pessoa que pensa com a cabeça, rola solta, é chique, é coisa fina entre os bem-pensantes, entre doutores da área de humanas que morrem de amores pelos criminosos de todos os estilos e naipes. Têm os criminosos acesso fácil às armas porque não há policiamento ostensivo em todo o território nacional. Bandidos estão, em todas as esferas da sociedade brasileira, fazendo e acontecendo, contando com a aliança de sabe-se lá quantos milhões de brasileiros. Há, em nossa sociedade, corrompida, certa, direi, complacência com os criminosos. Não é de hoje que os criminosos têm acesso fácil às armas; é a história de décadas. E tampouco é de hoje a idolatria que muitos artistas e jornalistas e intelectuais devotam aos bandidos. Pede-se pela desmilitarização dos policiais - em outras palavras: que os policiais não façam uso de armas letais, isto é, de armas-de-fogo: que usem estilingues e zarabatanas (e tem de ser a munição dos estilingues bolhas de sabão e a das zarabatanas palitos de espuma de sabonete); mas não se pede pelo desarmamento dos bandidos. Enquanto predominar, nos altos escalões do poder e da intelectualidade e da arte, e dos meios de comunicação, que nada comunicam, a mentalidade favorável aos bandidos - coitadinhos todos eles! todos eles vítimas da sociedade malvada, que sem pena nem dó os oprimem, os maltratam, infligem-lhes sofrimentos sem fim - o Brasil será um moedor de carne humana. De uma coisa é certa: as pessoas que compram, no mercado legal, armas-de-fogo, não as alugam aos criminosos para que eles participem da atividade lúdica de assalto a bancos, e a carros-forte, e a lotéricas, e de outras brincadeiras inofensivas.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 24/10/2023
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