O governo dos pobres, dos justos, dos bons.

Em um certo país, cujo nome eu me recuso a escrever - e sei que tu, leitor, ao ler este comentário, que é curto, não saberás identificá-lo -, os eleitores, que são dezenas de milhões, do atual presidente, homem de sabedoria socrática, beleza apolínea, inteligência salomônica, astúcia ulisseia, charme donjuanesco, voz argentina - embora não seja ele um argentino -, sabem o que ele está a aprontar, e entendem que o que ele está a aprontar compete para o mal do povo que, supõem os inocentes ingênuos, ele beneficia com as suas políticas erráticas, e muitos dentre eles fazem que nada sabem, que de nada tomam conhecimento, que nada entendem, dão, em outras palavras, uma de joão-sem-braço, e outros, dotados de cara-de-pau indisfarçavelmente desavergonhado, tergiversam e emprestam às políticas dele valores outros que não aqueles que lhes pertencem. Não são inocentes. Nenhum deles. Sabem o que se passa em tal país, entendem o mal que se está a disseminar pelo atual governo. E por que penso tal?! Ora, os eleitores do presidente do país em questão são pessoas muito bem informadas, e de tal se orgulham; sabem o que em tal país se passa: assistem, diariamente, aos telejornais das mais importantes emissoras de televisão do país e lêem os títulos das matérias de capa dos principais jornais impressos e dos mais populares portais de internet, atividades intelectuais que fazem de tal gente pessoas muito bem informadas. Além do mais, não se pode negar, os eleitores do atual presidente da nação à qual estou a aludir, curiosos, e é a deles curiosidade irresistível, contra ela nada podem, vira e mexe acessam, nas redes sociais, páginas dos eleitores do político derrotado no mais recente pleito eleitoral, para saber o que eles estão a falar do atual presidente, de suas políticas, e de seus ministros, e nisso vêm a saber de coisas que a imprensa, a tradicional, que é confiável, que faz bom uso, porque não tem rabo preso com ninguém e não vive de verbas governamentais, da liberdade de imprensa e da de opinião, inexplicavelmente não publica, das quais não trata, e se delas trata esforça-se, inexplicavelmente, em vão, digamos a verdade, para emprestar um verniz favorável ao governo. Não há inocentes na história, que se está a escrever, de tal país. Os eleitores do atual presidente do país de que estou a tratar sabem o que se passa, e muitos deles estão constrangidos, daí o deles silêncio tumular acerca das políticas dele, mas um punhado deles, não sei se digo corretamente, corajosamente estão a subscrever-lhe as políticas malsãs, corruptas, criminosas, no que se revelam tão moralmente podres quanto o socrático, apolíneo, salomônico, odisseu e donjuanesco líder de voz argentina. Estou a me repetir. E repito: não há inocentes entre os eleitores do atual presidente do país que, estou certo, leitor, tu não és capaz, ao ler este meu comentário, de identificar.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 16/11/2023
Reeditado em 16/11/2023
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