Lula disse uma verdade, e jornalistas apressam-se, celeremente, açodados, para dizerem que o que ele disse não é bem o que ele disse. E agora, José?!

Lula disse com todas as letras do seu rico repertório, uma cornucópia de abundantes figuras de retórica, e com outras que os homens sapiens e as mulheres sapiens jamais desconfiaram que

existem, com sua voz argentina, conquanto não seja ele um argentino, com o talento que herdou de Demóstenes, que o Flavio Dino é um comunista e que ele, o excelentíssimo senhor Lula, está extraordinariamente feliz, sentindo-se no sétimo céu, ao tê-lo nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal. E mal havia encerrado a sua festiva manifestação pública, os bolsonaristas e os olavistas, grupos, ambos estes dois, que, não se bicando, vivem de se estapearem, trataram, como quem diz "Ouviram?! O que foi que eu disse?! O comunismo não acabou! Os comunistas vão destruir o Brasil!", de esculachar os esquerdistas. E desavergonhadamente, e constrangedoramente, jornalistas apresentaram-se ao proscênio do teatro político nacional para explicar o que o Lula disse: o Lula não disse o que disse com a seriedade que se pede ao se dizer o que se diz publicamente se se está a falar de uma coisa, tal qual o comunismo, deveras importante e que envolve infinitas singularidades e contrastantes interpretações que decorrem, as singularidades e as interpretações, da inabarcável complexidade da coisa da qual se diz o que se diz sem a seriedade que se pede ao se falar dela, sem a ciência de sua existência e da possibilidade da sua concretização, isto é, da implementação de uma política, a comunista, que, sabe-se, não é de realização possível, no Brasil, afinal, não existindo o comunismo, e desde que lhe decretaram os comunistas a sua morte, não pode haver comunismo, nem comunistas, nem um ministro comunista, nem idéias comunistas, pois o comunismo não é possível de fincar raízes no Brasil porque o comunismo não pode se estabelecer devido às peculiaridades culturais e históricas da sociedade brasileira e às idiossincrasias ontológicas do homem brasileiro.

Se entendi bem o que os jornalistas disseram, foi isso. Se não entendi, paciência.

Com toda franqueza, neca de pitibiriba, nadica de nada, nem uma vírgula entendi do que os jornalistas que se precipitaram a declarar que o que o Lula disse foi mal interpretado pelos brasileiros, e coisa e tal, e que ele, ao dizer o que disse, alimenta uma paranóia bolsonarista, aquela que ensina que o comunismo, não estando morto, ameaça a existência do Brasil.

O quão servil, o quão boçal, o quão pusilânime, o quão asquerosa, é a pessoa que se presta a fazer um papel tão constrangedor, tão patético, o de sair em defesa do... Do Lula?! Os jornalistas que disseram que ele disse o que disse apenas por brincadeira estão a defendê-lo, ou estão a receber ordens do chefe dele?! Já não entendo mais nada! Aliás, eu já não entendia nada, mesmo, e agora, após presenciar episódio tão vergonhoso, que faria as delícias de Aristófanes e Moliére, entendo menos ainda.

E não posso encerrar este farelo sem dizer que os fazoéles, ao conhecerem o teor das palavras presidenciais do molusco mais famoso da terra dos papagaios e das maritacas, gelaram de medo, certos de que teriam de se explicar, especial, e principalmente, os militantes dados a sabido que entendiam que o comunismo deixou de existir assim que puseram o muro de Berlim abaixo.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 20/12/2023
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