“QUEM COSPE PARA CIMA NA CARA LHE CAI”

 

Qualquer pessoa sensata sabe que não deve derrubar casa velha para construir uma nova no lugar sem ter os devidos recursos para isso. Toda construção requer um bom arquiteto para desenhá-la, engenheiro para administrar a obra, pedreiros, carpinteiros, encanadores, eletricistas, pintores e outros profissionais competentes para construí-la. E principalmente, recursos financeiros para bancar a construção.

Só os temerários queimam pontes e deixam para trás uma terra arrasada como estratégia para vencer seus inimigos. E todo bom político sabe que não deve fazer do adversário um inimigo figadal, porque um dia poderá ter que compor-se com ele. Aliás, bom político tem adversários, mas não inimigos. Ele sabe que a política é um jogo onde a taça do campeonato é conquistada, muitas vezes, graças a um resultado favorável de um rival.

Esse é o grande erro dos políticos que radicalizam suas posições quando em campanha e depois descobrem que nada daquilo que pregaram é possível e nem tudo aquilo que prometeram pode ser cumprido. Para o radical, só o que ele pensa é verdadeiro e só está certo o que ele quer. Alguns, como Bolsonaro, se dizem até evangélicos, mas esquecem o conselho que Jesus deu a respeito: “entra em acordo depressa com teu adversário, enquanto estás com ele a caminho do tribunal, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, o juiz te entregue ao carcereiro, e este te jogue na cadeia.”(Mateus 5:25)

Os radicais não se dão conta disso. Promovem cisões e incentivam polarizações inúteis e desnecessárias só para provar que estão certos. Desprezam a sabedoria eclesiástica que diz que “quem perturba a paz da sua casa herdará o vento”.

Inoculam nos seus simpatizantes ódio e repulsa por tudo que não se encaixa na sua visão de mundo. Depois, quando assumem o poder, descobrem que a única verdade que se sustenta por si própria é aquela que dá o resultado que o povo espera. E quando este não agrada, não tem ideologia que justifique o fracasso. Descobrem também que as ideologias são tão movediças quanto as dunas do deserto. Mudam rapidamente com os ventos da insegurança, da fome, da miséria.

É o que Milei está descobrindo agora que sentou na cadeira presidencial da Argentina. Está vendo, mais depressa do que se esperava que seu capitalismo anárquico dificilmente poderá ser implantado no país, pois para fazê-lo terá que derrubar toda a estrutura da sociedade e da economia argentina para construir o novo edifício que tão irresponsavelmente ele vendeu aos argentinos.

Já teve que baixar as calças para os peronistas, chamando Alberto Fernandez para conversar. E agora quer fazer as pazes com o Papa, a quem ele chamou de imbecil. Como diz um ditado popular, “não se deve cuspir para cima porque o cuspe pode cair na nossa cara”. Essa é uma grande verdade que não pode ser esquecida. Principalmente pelos políticos.