PT E LULA: um recorte

ANTECEDENTES

O Partido dos Trabalhadores (PT) surgiu decorrente de um movimento social reformador. Não pretendia desconstruir o capitalismo por uma revolução e implantar a ditadura do proletariado, como no ideário marxista-leninista. Ele foi inicialmente: paulista. Paulista por ser, o Estado bandeirante, o grande ponto de industrialização dependente, na América Latina (ao lado do México e da Argentina). Uma industrialização típica da América Latina, onde o modelo era exportar via setor primário e importar tecnologia defasada.

Esta forma de industrialização tecnocrata, feita por agente estatais, é dada na ideologia nacional e desenvolvimentista. Ideologia fabricada da Comissão Econômica para América Latina da ONU (Santiago do Chile, segunda metade do século XX) - formadora de economistas autóctones. Muitos deles foram ministros da economia destas nações ou presidentes de bancos centrais latino-americanos; economistas "keynesianos" de formação e marxistas sobre as dúvidas das bem-aventuranças do capitalismo tardio.

Na ausência de uma burguesia nacional latino-americana, arrojada e capaz de liderar o processo da revolução burguesa, o burocrata precisou tomar as rédeas, após o final da 2° Guerra Mundial.

Dentro dos gabinetes governamentais e das universidades saem documentos e destinos dos fundos públicos, dentro de complexos modelos matemáticos (importados dos países centrais). Sempre foi e sempre será assim na América Latina. Prestígio sempre vem dos intelectuais dos países colonizadores. O resto é cópia. Logo, nossos economistas seguem os livros das universidades dos países desenvolvidos.

Industrialização dependente foi um termo cunhado pelos cepalinos (marxistas keynesianos).

Depois foi copiado pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso, antes de ser Presidente da República Federativa do Brasil (1994-2002) - nos tempos da Cepal. Isto veio juntamente com intelectuais da teoria da dependência (de universidades de ex-colônias).

Paulista, também, o PT, por aquele Estado brasileiro ser responsável, desde os anos 80 do século XX, por mais de 50% da população do Brasil e do Produto Interno Bruto nacional (concentrando várias fábricas, rodovias, ferrovias, universidades e densidade demográfica - densidade esta de imigrantes europeus e, depois, do êxodo rural do Nordeste do Brasil).

Uma industrialização, bom que se diga, que recebeu "as sucatas" da primeira e segunda onda do hemisfério norte.

Sendo diretos: máquinas defasadas das multinacionais do setentrional - a partir do fim da 2° Guerra Mundial.

MODELO ESTRUTURAL E SEM VOLTA

A "isca" aos Estados latinos seria por meio de uma criação de dívida externa via novo sistema keynesiano de fomento (FMI - Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial).

Financiamentos idealizados pelos EUA no Plano Marshall, de reconstrução da economia mundial e marcação de terrenos geopolítico contra a então URSS.

Eram empréstimos de reconstrução por ter os estadunidenses acumulados enormes somas de recursos na guerra aos países afetados. A economia de guerra, que Keynes chamou de "destruição produtiva" - sendo muito boa para suas equações de pleno emprego dos fatores de produção.

Muitos economistas marxistas não vislumbravam outro caminho: o socialismo na ex-colônias do hemisfério sul.

O PT COMO FRUTO DA CEPAL

Ele, o surgimento do PT, contorna-se basicamente num momento em que a ditadura (que nasceu com um subproduto da Guerra Fria entre EUA x antiga União Soviética; a última, esfacela-se na última década do século XX) começa a ficar mais "tolerante", no Governo do General Ernesto Geisel (1974-1979).

Neste momento "aplacaram-se as perseguições às guerrilhas", feitas pelos generais Costa e Silva (1967-1970) e Médici (1970-1974). Tudo sobre o olhar da CIA. Os EUA não queriam que o modelo cubano levasse a América Latina para o lado da antiga URSS: isto no auge da Guerra Fria, da corrida nuclear e dos progressos espaciais (especialmente os satélites de espionagem).

Nascia um modelo totalitário de Estado. Ditaduras latinas que se singularizaram por concentração do processo de criação de leis nas mãos do chefe do poder executivo. Também pela perda de força do federalismo (chamado de "bonapartismo").

Bonapartismo, segundo os pensadores marxistas, tendo por base a atuação de Napoleão Bonaparte, na França, no começo do século XIX - para "acalmar" as agitações jacobinas. Agitações da pequena burguesia e do operariado oriundas da Revolução Francesa de 1789 e outros movimentos: Coluna de Paris, socialista (na passagem da primeira onda de industrialização para segunda).

AS DITADURAS NA AMÉRICA DO SUL

Dados do livro "Brasil: nunca mais", sobre este momento histórico, estimam que 2 mil pessoas desaparecem entre 1967-1974, segundo dados da ANISTIA INTERNACIONAL.

Segundo o sociólogo Marcelo Ridenti, no livro “O Fantasma da Revolução”, a maioria dos desaparecidos eram pessoas anônimas, que, diferentemente do que acontecia com artistas ou políticos, não eram exiladas (expulsas do Brasil, devendo solicitar vistos em consulados de países democráticos, naquele momento), mas simplesmente mortas!

Assassinadas em centros de tortura do Estado (DOI-CODI - Departamento de Ordem Institucional, do Exército Brasileiro e OBAN - Operação Bandeirantes, da Governo de São Paulo), sendo muitos deles estudantes universitários, jornalistas e líderes sindicais combativos (já que haviam os cooptados).

O general Geisel era do grupo apelidado de Sorbonne. Composto por militares mais familiarizados com estudos de Humanidades e Economia: militares intelectualizados. Estes militares eram oriundos de altos estudos na ESG (Escola Superior de Guerra, ligada ao Pentágono do US ARMY), implantada na primeira metade dos anos 50 do século XX. Isso para pensar os conceitos da Doutrina de Segurança Nacional, que já tinha consciência do marxismo cultural de Antônio Gramsci e seu poder de penetração entre intelectuais de todas as áreas (educação, mídia e artes).

Fora isso, nos Estados Unidos, nos anos 50, a ojeriza ao "comunismo soviético" tinha chegado às artes, quando o senador republicano, Joseph McCarthy, acusa Charles Chaplin, inglês de nascimento, de ser comunista. Isto por causa dos seus filmes, sendo Chaplin "nocivo aos EUA", por não ser americano (inglês de nascimento, repito: logo, perderia o visto).

Os militares da ESG eram treinados no WAR COLEGE do US ARMY. Isso porque o Brasil consumia muitos dos armamentos já sucateados dos norte-americanos, desde a 2° Guerra Mundial. Isto aconteceu com o estreitamento dos laços entre militares brasileiros e americanos. Era por causa da convivência com o 5° Exército dos EUA, nas batalhas de Monte Castelo, no norte da Itália, fundamentais para queda de Mussolini (ditador italiano, aliado de Hitler, na 2° Guerra Mundial).

Os generais do 8/1/2023 não tinham experiência em guerra! Castelo Branco tinha! Foi oficial em Monte Castelo, na Itália e era subordinado aos generais americanos.

Este grupo "Sorbonne", basicamente formado no momento que um oficial do Exército do Brasil vai ao posto de Major, precisando fazer curso de Estado Maior.

Ele tinha outro líder um general que era um geógrafo estrategista: Golbery do Couto e Silva.

Este general de infantaria era leitor de vários cientistas sociais e filósofos políticos, sendo que Golbery pretendia realizar a transição do poder entre os generais de 1964 para os civis. Poder este através da democracia indireta. Isso somente, segundo ele, após o Brasil passar por ajustes geopolíticos, como a construção de hidroelétricas no rio Paraná, que fizessem o Brasil deter a soberania do cone sul. Isto entre os países que fizeram a Guerra do Paraguai (1864-1870), numa espécie de "sub-imperialismo" brasileiro.

Por esse motivo, a Argentina de Milei não é uma ameaça ao Brasil. Muito pelo contrário. Milei cometeu um erro ao não se alinham com Lula. O Chile é um rival histórico da Argentina e os portenhos precisam do Brasil, por causa das rivalidades com ingleses pelas Malvinas.

A Venezuela, por ser petrolífera e ter ligações com a China e a Rússia, também dependem do Brasil, mas não tanto como a Argentina. Por isso, Maduro é estratégico!

Fora isso, estava em curso, na Ditadura de 1964-1984 (apoiada pela CIA): os planos nacionais de desenvolvimento.

Planos focados na energia nuclear, nos satélites, na construção de armamentos, dentre outras medidas - que os EUA temem que o Brasil repasse, atualmente, para o Irã.

Infelizmente, as medidas de formação de uma indústria bélica brasileira, de base nuclear, demandaram altos recursos públicos e acabaram ruindo com os dois aumentos do preço do petróleo: 1972 e 1978, legando hiperinflação nos anos 80, socorrida com empréstimos internacionais do FMI e EUA.

O Brasil era para ter bomba nuclear a ser testada na Base Aérea da Serra do Cachimbo, entre Pará e o Mato Grosso.

Nos anos 80, por causa da Crise do Petróleo com a OPEP querendo prejudicar Israel (o tampão dos EUA no Oriente Médio - protegendo o Canal de Suez indiretamente) o Brasil não conseguiu crescer nem 1 por cento no PIB.

Isto por causa do endividamento público, devido ao paradigma keynesiano: o único que pode nos industrializar na ausência de uma burguesia originária (que nunca houve no século XIX, salvo um: Mauá).

ONDE NASCEU O LULISMO PETISMO

Os salários da classe trabalhadora era "corroído" pela inflação, causando conflitos entre empresários, governo e empregados - dando alimento a formação e fortalecimento do PT (que nasceu diferente do trabalhismo do "varguismo" do PTB - no começo dos anos 50 do século passado).

O Brasil já era urbano, industrial - mas apenas no Sudeste, em 1980.

Os tecnocratas de Brasília tentaram fomentar a Zona Franca em Manaus. Carajás, no Pará (para vender ferro e manganês ao Japão em franca industrialização).

Conforme está expresso no seu livro “Geopolítica do Brasil”, para Golbery o Brasil é um triângulo com sua base voltada para o Hemisfério Norte.

O que produz uma necessidade de controle da soberania na Amazônia florestal e marítima.

Dentro do triângulo existem círculos, que formam o Nordeste, a Amazônia e o Centro-Sul, exigindo uma intervenção geopolítica que integre e não entregue o Brasil.

Daí a descoberta de petróleo do pré-sal ter contribuído para o Golpe de 2016. Retirar a influência dos aliados da Venezuela chavista da área do petróleo brasileiro. A América do Sul está entrando na área da OPEP e pode se aliar aos interesses árabes. Isto deixa os EUA e a Europa muito preocupados!

CONTEXTO DO PETISMO E FORDISMO

O PT é um fenômeno do proletariado urbano brasileiro - ainda num modelo fordista. Um acúmulo de operários de linha de produção (manufatureira - acumuladora de trabalhadores, no que Marx chamaria de subordinação formal do trabalhador assalariados ao capital; não real, com o uso da ciência em prol do desemprego estrutural).

Operários insatisfeitos com inflação e acumulados, claro que daria poder ao sindicalismo.

Um sindicalismo dentro de um processo de industrialização tardio de base cepalina. Sem a participação do empresariado e do operariado na sua constituição espontânea, mas induzida nos laboratórios de modelos matemáticos de macroeconomia.

Fenômeno que mostra sua face 180 anos depois do começo da Revolução Industrial Europeia. Naquele momento, as "trade unions" deram motor ao socialismo. A Igreja católica lança sua Doutrina Social. Logo, no século XX, a primeira metade foi invadida pelo sindicalismo fascista, na Itália. O mundo entra num caos com a superprodução na Crise de 1929, mostrando o brilhantismo de Keynes na intervenção estatal. Mostrando a pujança da industrialização na URSS.

O proletariado brasileiro, ainda infantil em relação aos países industriais originários, já estava numericamente relevante, dentro do Estado mais rico, que é São Paulo.

Proletariado sem origem regional. Já misturado e formado por populações dos mais diferentes lugares (Nordeste, em especial) - porém, com uma burguesia oriunda de imigrantes italianos. Uma burguesia de avós fascistas.

Nasceu na região mais industrializada do Brasil: o ABC paulista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul - às margens das rodovias que descem para Baixada Santista), que, conforme o sociólogo José de Souza Martins era uma zona rural de SP, nos anos 50 e 60 do século passado.

A teologia da libertação aglutinou o proletariado que nascia do campesinato do antigo colonato cafeeiro.

No ABC, a pouco tempo de distância do porto de Santos, pela sistema rodoviário Imigrantes, estão às fábricas metalúrgicas que abrigaram as principais montadoras de automóveis, num país, desde JK, presidente na segunda metade dos anos 50 do século passado.

Precisam do aço de Volta Redonda, no RJ, construído com dinheiro dos EUA, injetado na CSN.

Segundo Benedito Rodrigues de Moraes Neto, as indústrias metalmecânicas (metalurgia) ainda estão na fase de manufatura (conforme o capítulo XII de O Capital de Karl Marx). Elas têm apenas alguns dos processos de trabalho mecanizados; logo, conforme Marx, concentrando homens ao invés de máquinas na divisão de tarefas.

Lula, por esse motivo, falou para 50 mil metalúrgicos em 1980. Hoje, com robótica, falaria para 8 mil.

Sendo assim, este setor (não totalmente automático, como nas indústrias de fluxo, com composição igual a de um organismo vivo diante do trabalho humano) depende de uma classe trabalhadora numericamente vultosa.

Perigosa, quando concentrada e capacitada intelectualmente pela Igreja, Unicamp e pela USP.

Dar velocidade na produção de automóveis em 1980 eram 3 dias, por exemplo. Hoje são 24 horas com robôs.

Muito embora o sistema de esteiras fordistas sejam predominantes no chão de fábrica, o robô esvaziou a linha.

A coisa só piora com o desenvolvimento da robótica, que nos anos 90 desempregou os pintores e soldadores de carrocerias dos automóveis, retirando poder dos sindicatos, por meio da tecnologia.

Depois do Golpe de 2016, Temer faz a pior reforma na CLT, destruindo os sindicatos.

Dessa forma, a religião e os movimentos sociais de minorias tomam o lugar da pauta do trabalho!

Vide: o fascismo bolsonarista!

Os robôs conseguem imitar a flexibilidade das mãos de um ser humano, coisa até então impossível e que deu forma à administração de empresa fordista taylorista.

A classe proletária assalariada diminui seu tamanho?

Quem é o novo sujeito de uma economia que nunca será afastada do financiamento estatal?

A inclusão perversa pelas atividades ilícitas está formando uma burguesia trapo?

LULO-PETISMO

Na mesma Região do ABC paulista, houve uma grande migração, nos anos 60 e 70, de retirantes da seca do Nordeste, dentre os quais, o pernambucano, Luís Inácio Lula da Silva.

O Nordeste do Brasil viveu sempre no abandono, após a consolidação da República em 1889. Esse abandono gerou, na primeira metade do século XX, o fenômeno do cangaço, que o historiador britânico Eric Hobbsbawn deu o nome de "banditismo social" (numa alusão as formas de revolta e de acumulação primitiva, como as Cruzadas, que Marx salientou no capítulo XXIV de O Capital).

Com a invenção da tecnologia fabril, o excedente seria extraído na linha de produção, não mais pilhado.

Ele, Lula, conseguiu concluir o curso de torneiro mecânico nas escolas do SENAI (fundado nos ideais do nacional desenvolvimentismo de Getúlio Vargas, numa tentativa de formar mão-de-obra para os produtos derivados da Companhia Siderúrgica Nacional, implantada em 1945).

Luís Inácio LULA da Silva, no final dos anos 70, transformou-se num líder carismático (conforme a sociologia weberiana). Isso ligado ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Foi assim, comandando vultosas greves, que eram amplamente divulgadas nos meios de comunicação do Brasil e do Mundo, como um exemplo de luta operária na América Latina (o que era praxe na Europa, desde as "trade unions", no século XIX), que nasceu o PT. Florestan Fernandes viu nele o que Marx profetizou na obra O Manifesto do Partido Comunista de 1848.

Intelectuais e membros da Igreja Católica, adeptos à Teologia da Libertação, de Frei Leonardo Boff, de inspiração marxista, passam a estimular LULA.

Passam, com base no conceito de intelectual da classe de Antônio Gramsci, para criar um partido político. Um partido que nascesse das entranhas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, amplamente apoiado, via CUT, por sindicatos de trabalhadores da Alemanha (fugindo do peleguismo bajulador patronal do sindicalismo celetista de Getúlio Vargas; este, moldado na Consolidação da Leis do Trabalho de 1943).

Mas seria este partido o partido visto por Lênin? O partido que expropriaria os meios de produção da burguesia?

Seria um partido de tecnocratas? Um partido que diante da perda da hegemonia da classe assalariada fabril daria lugar aos movimentos sociais pós-modernos?

Dessa forma, setores da intelectualidade brasileira (ligado às universidades federais) unem-se, lá em 1980, aos sindicalistas do ABC e da CUT, sendo a última: uma central com ampla adesão de todos os maiores sindicatos brasileiros, inclusive de funcionários públicos.

Mas pauta trabalhista dos funcionários públicos é igual ao dos proletários de fábrica do Sudeste?

Professores estaduais, policiais militares e metalúrgicos formam uma classe apenas? Para, juntos, fundarem um dos maiores partidos políticos da América Latina: o PT?

RELIGIÃO E POLÍTICA NA LUTA DE CLASSES

Fenômeno relevante é a organização das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), por conta da penetração do marxismo, dentro dos seminários católicos latino-americanos, a partir do Concílio de Medelín, nos anos 60, entre os bispos latino-americanos.

De outro lado, há também o crescimento do neopentecostalismo nas periferias brasileiras - cujo século XXI vê passar o número de católicos, nunca antes visto neste país de colonização lusa!

O catolicismo latino-americano assume uma posição em prol dos "pobres das periferias" e suas lutas, criando-se, no ABC, a Pastoral Operária, um dos embriões do PT.

O novo neopentecostalismo nasce da falência dos serviços públicos e do desemprego estrutural: em nome da teologia do empreendedor. Da formação de uma classe média entre os mais pobres, já consumidores, por financiamentos de 24x, dos bens industriais do mundo globalizado!

PT E O PRESIDENCIALISMO DE COALISÃO

O PT, durante os anos 80, foi um partido que contou com ajuda dos seus membros, numericamente vultosos, inclusive monetária, para que lançassem candidatos ao Poder Legislativo. Isso principalmente com uma atuação marcante na Assembleia Nacional Constituinte, de 1988, que acabou prolatando o modelo sindical dos tempos de Getúlio Vargas.

O PT nasceu basicamente de líderes sindicais, professores, jornalistas, artistas, estudantes, religiosos engajados nas comunidades eclesiais de base – adquirindo uma base muito sólida de correligionários, que muito o ajudaram nas eleições disputadas dos anos 80 e 90, no corpo a corpo das ruas.

O PT não consegue penetrar no movimento neopentecostal! Talvez pelo fato da Igreja Católica, na teologia da libertação, ter dado ao PT apoio. A perseguição a Edir Macedo, nos anos 90, também pode ser uma destas causas.

Nos anos 90, LULA e o PT realizam uma mudança na orientação política, que era a de chegarem ao Poder Executivo, não mais somente ao Poder Legislativo, com deputados e senadores, mormente. A bancada petista parlamentar era temida e respeitada, sendo causadora de várias comissões parlamentares de inquérito, contra seus adversários, no fim do século XX.

O projeto de LULA e do PT, nos anos 90, hegemoniza-se com êxito em vários Estados e Municípios brasileiros, dando margem à atuação de esquemas de desvio de dinheiro público, amplamente esclarecidos pela Operação Lava Jato, na segunda década do século XXI.

O ex-deputado federal José Dirceu foi o maior mentor (segundo ele: comprar a burguesia para fazer o bem do povo. no modelo de "presidencialismo de coalisão").

José Dirceu foi adepto da luta armada contra o Golpe de 1964, vivendo até a Lei de Anistia de 1979, na clandestinidade (morando em Cuba, num primeiro momento; vivendo com documentos falsos e cirurgias plásticas: num segundo momento, no Paraná).

Este esquema de "presidencialismo de coalisão" (criado pelo PMDB, durante o Governo José Sarney, na segunda metade dos anos 80 do século passado) acabou transformando uma parte do PT numa "organização criminosa especializada em arrumar brechas na Lei 8666/93", a qual disciplina compras estatais, conforme os editoriais da imprensa.

Mas a bem da verdade: o PT não criou nada novo!

Outra verdade: os mais pobres entraram no orçamento!

PT, PSDB E PMDB

LULA, o PT e o PMDB assumem o Poder Executivo, que era a Presidência da República Federativa do Brasil, em 2002, após 8 anos de Governo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).

O sociólogo "tucano" (símbolo do PSDB), que escrevera vários livros de inspiração marxista, opera um projeto de desmonte do Estado keynesiano brasileiro.

Também foi acusado de corrupção no processo de venda de empresas governamentais (repassadas para a iniciativa privada).

Porém, não foi tão investigado como Lula foi!

O PSDB sempre teve seus tentáculos na burguesia paulista e nos executivos de multinacionais (nunca sendo um partido de massas, como o PT). O PSDB era muito ao contrário do keynesianismo. Estava próximo do neoliberalismo de Milton Friedman, economista dos EUA que era contra os desdobramentos do "new deal", desde 1930 - com o democrata: presidente Roosevelt.

Estado populista, este inaugurado pelo nacional desenvolvimentismo, advindo de Getúlio Vargas, seria objeto de ataque do Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

O processo de desmonte do "keynesianismo" (socialização da dívida estatal com gastos de fomento social e econômico) não era somente de FHC, na segunda metade dos anos 90 do século passado, mas de todas as economias industriais. Temos como exemplo os EUA, nos anos 80, com o presidente republicano Ronald Reagan, assim como, no mesmo período, com a Dama de Ferro da Inglaterra: Margareth Thatcher.

O inimigo do keynesianismo era a escola de economia monetarista (ou diminuição da dívida do Estado com gastos com assistência social para fortalecimento do valor de compra das moedas nacionais, além de desoneração do encargos das empresas para "gerarem mais empregos" - numa era cada vez mais tecnológica!).

Os políticos passam, desde o final da Segunda Guerra, a necessitarem de discursos econômicos. A religião e o nacionalismo não entram mais tão em pauta, salvo em tendências totalitárias.

Hoje: religião é mais importante que pleno emprego!

A lógica hoje é a de diminuição dos custos de produção.

Isto para o aumento da competitividade das mercadorias dos países, dentro do mercado internacional, que hoje sofre com o poder dos chineses (os quais praticam precarização das relações trabalhistas).

Dentre as medidas que comprovam que FHC queria desmontar o Estado brasileiro, de "inspiração keynesiana", temos:

1) o Plano Real: reforma do sistema monetário brasileiro, no ano de 1994, em que o cruzeiro deixa de existir e passa a ser chamado de REAL, quando FHC era ainda Ministro do Governo Itamar Franco. Itamar assumiu, por sua vez, após o "impeachment" de Fernando Collor de Mello, que já vinha privatizando e abrindo mercados, no Brasil;

2) Plano de privatização das empresas do governo: venda das empresas públicas e das sociedades de economia mista pertencente à União, através do leilão, como o do sistema de telefonia, para empresas e grupos multinacionais. Isto foi o que causou uma revolução nos mercados de acesso aos produtos de telefonia, no Brasil, criando estímulo para que a economia informacional fosse arregimentada, após o ano 2000, em todo território nacional;

3) Emenda Constitucional n. 19/1998: responsável pela implantação de uma administração pública gerencial. A emenda previa não mais o excesso de privilégios burocráticos, mas um perfil de resultados, a partir dos conceitos de eficiência do setor privado, buscando relativizar, dentre outras coisas, a estabilidade do servidor público, que passaria a ser demitido por falta de capacidade. As carreiras burocráticas estatais passam por um processo de sucateamento, desde FHC, desestimulando que os melhores quadros se interessassem pela estabilidade, via concurso público isonômico - fortalecido pela Constituição de 1988;

4) Emenda Constitucional n. 20/1998: reforma da seguridade social brasileira (saúde, previdência e assistência social), aumentando o tempo de contribuição para aposentadoria. Isto tanto do empregado tanto da iniciativa privada como do poder público, num novo processo de retrocesso de direitos sociais da classe trabalhadora (que é composta não somente pelo proletariado produtor de mais-valia, mas pelos assalariados, como são os funcionários públicos). O argumento é que a população idosa será cada vez maior, por causa do aumento da expectativa de vida e a diminuição do crescimento vegetativo - invertendo a pirâmide etária (poucos jovens trabalhando para pagar os sistema solidário de aposentadoria dos idosos ou inválidos em acidentes). Com isso, o modelo em que os mais jovens sustentariam a aposentadoria dos mais velhos (solidariedade atuarial) entraria em colapso - pois a expectativa de vida estava aumentando nas sociedade industriais. O processo era repassar a previdência aos bancos privados, na forma de capitalização ou fundos de pensões (que investiriam as massas de contribuições em ações e fundos de investimentos).

Quando em 2002, FHC do PSDB entrega a Presidência para LULA do PT, dentro do sistema democrático de voto majoritário, as contas públicas federais estavam todas em dia, pagas e com dinheiro em caixa, não precisando mais o Brasil pedir empréstimos para o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Isso era a praxe nos anos 80 e 90, nos quais o Brasil amargou quase 15 anos sem crescimento do Produto Interno Bruto, além de uma inflação de 80 por centro ao mês, que fazia o preço da cesta básica provocar uma epidemia de fome (perda de valor do salário real diante do salário nominal). Fome esta entre as camadas mais baixas da população.

Todavia, devido a um controle rigoroso da austeridade fiscal, por meio da edição da Lei de Responsabilidade Fiscal em 1999, setores dependentes de custeio público não conseguiram gerar pleno emprego.

PAC E KEYNESIANISMO SOCIAL

LULA, entre 2002-2006 e 2006-2010, fomenta um plano ousado.

O plano seria denominado de PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Abandonando as ideias liberais de FHC, por meio dos ideais keynesianos - o fomento do dinheiro a fundo perdido volta para setores estratégicos de pleno emprego e de assistência social.

Vai na contramão do que os demais países estavam fazendo - colocando os mais pobres, por meio de programas de assistência e fomento da cidadania inclusiva dos então invisíveis, dentro do orçamento (negros, pardos, índios, populações de rua e minorias de gênero, além das mulheres).

Dessa maneira, juntamente com um amplo programa de assistência social, criou-se novamente o clima do nacional desenvolvimentismo.

O desemprego estrutural tecnológico obrigará a existência de fundos de socorro aos nem-nem.

Clima esse nasceu do getulismo populista, somente com outro nome: LULISMO.

Este fenômeno populista cria raízes nas regiões Norte e Nordeste, bastante beneficiadas com as políticas públicas. Norte e Nordeste que passam a dar amplas votações ao PT, contra os votos do Centro Sul (conservador).

Mas o Sudeste é o mais assolado com o desemprego estrutural tecnológico!

A nova revolução 4.0 da economia informacional vem criando um totalitarismo de dados e um novo perfil de emprego altamente elitizado! Para uma aristocracia operária!

LULA E DILMA

Porém, LULA, de 2002 a 2008, não poderia ser reeleito mais uma vez.

Isso por vedação da Constituição de 1988, alterada nos tempos de FHC, já que o presidente só poderia ficar um mandato – fato que mostra que o parlamentarismo é um regime mais condizente com os problemas da economia brasileira.

Nele o Primeiro Ministro fica indeterminadamente enquanto a economia vai bem.

Dentro dos limites desta porcaria de presidencialismo brasileiro, LULA escolhe a economista. Uma economista de tradição cepalina da Universidade de Campinas, na qual fez mestrado.

Dilma como sua sucessora, dentro do presidencialismo de coalizão.

Lembrando: presidencialismo criado pelo PMDB, desde do presidente José Sarney (1985-1990).

Ela foi uma brava guerrilheira contra a ditadura (1964-1984).

DILMA ROUSSEF, que foi ministra de confiança de Lula - seria a gestora do PAC keynesiano.

Ela conhecia a pasta de planejamento da leis de orçamento da União Federal e foi uma das conselheiras da PETROBRÁS S.A., sociedade de economia mista, petrolífera, cujas ações são maioria da União (estando entre as 6 maiores empresas de petróleo do mundo).

Dilma elege-se pelo PT para o período 2010-2014/2015-2019, não tomando ciência da crise que se avizinhava: erros no planejamento e controle de preços do petróleo.

Petróleo, problema geopolítico, no mercado internacional, sempre controlado pelos árabes em confronto com os Estados Unidos.

Desde a Segunda Guerra a lição ficou: exércitos precisam de grandes estoques de petróleo! Hitler que o diga ao tomar uma surra de Stalin no inverno de 1944.

A crise atinge o PAC na metade do seu segundo mandato 2015-2018, numa eleição que apontava a divisão clara do Brasil entre habitantes do Norte e do Sul, num segundo turno acirrado com Aécio Neves (PSDB - acusado em processos judiciais como vários outros membros do PSDB), também acusado na Lava Jato.

LAVA JATO E PODER JUDICIÁRIO COMO NOVO BONAPARTISMO

A Lava Jato foi uma operação da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e das Varas da Justiça Federal, em estados de Centro Sul do Brasil, que caiu no gosto da imprensa e da opinião pública.

Desde o Mensalão (ação penal 340 no STF), Roberto Jeferson já destilava ódio contra o PT (pois foi advogado de Collor).

Porém, termina com vícios processuais, no STF, após o fim do governo de Jair Messias Bolsonaro (uma cópia de Donald Trump, republicano, na América do Sul - ambos com várias dificuldades de governo, por causa da pandemia do vírus Covid-19). Ambos sem boa assessoria de imprensa e relações com o parlamento: dois elementos importantes na opinião pública (embora a sociedade da internet tenha mitigado a grande mídia televisiva capitalista).

Basicamente, uma parte da elite do Sudeste, juntamente com a sua classe média urbana, estava descontente com o aumento da carga tributária para os programas de distribuição de renda e correções das desigualdades históricas.

Uma explicação para esse erro de avaliação política foi o fato de DILMA ter confiando muito nas reservas de petróleo, prometidas pelo PRÉ-SAL. Isso sem contar que o barril do produto começou a cair de preço, levando com ele as contas do Governo, que só subiam de gastos e não arrecadavam a contento.

Pelo menos, esta era versão da imprensa brasileira.

Diante do quadro, Dilma é acusada de levantar empréstimos de bancos do governo para cobrir o rombo orçamentário, diante da farra de distribuição de programas assistenciais. Programas estes responsáveis pela sua reeleição em 2014. Com isso, o Tribunal de Contas da União, informa o Congresso Nacional que a Presidenta infringe a Lei de Responsabilidade Fiscal de 1999, cometendo crime de responsabilidade do chefe do Executivo, por gestão temerária e manuseamento de prejuízo.

Sociologicamente, a luta de classes no Brasil passa a ser entre Norte (acumulação primitiva e conflito fundiário) e Sul (capital financeiro). Basicamente: a concentração regional da renda que o PT buscou aplacar. Sem falar na necessidade preservação da Amazônia como bioma que leva chuva às lavouras do agronegócio do Centro-Oeste.

As mudanças geopolíticas mudam todo atenção: entre as quais, a questão do aquecimento global e supremacia chinesa.

Outra é a emergência da China, no oceano Pacífico - que no século XIX foi humilhada por vários países - mas deu a volta por cima na Revolução. Tem o maior exército do mundo, atualmente, além de arsenal nuclear. Não depende mais de nada em termos de tecnologia ocidental e passou o Japão em PIB.

A Rússia, humilhada atualmente, com Putin, não aceita o fim da sua hegemonia entres importantes fornecedores de matérias-primas da desfeita URSS, no fim dos anos 80 (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e sua hegemonia no leste europeu e parte do oriente).

O bolivarianismo cresce, especialmente na Bolívia e na Venezuela, fazendo estes países a adotarem políticas ditas socialistas. São países que não pertencem ao domínio do Brasil no estuário do rio da Prata, dominado desde a Guerra do Paraguai (1864-1870)

BREVE CONCLUSÃO

Os ecos da Guerra Fria, com o fim da Segunda Guerra, parecem contrariar a tese sobre o fim da História com a queda do socialismo no leste europeu.

Países emergentes, como Brasil, passam a fazer uma união como os BRICS (união entre Rússia, Índia, China, Brasil e países árabes), desafiando a doutrina Monroe dos EUA (hegemonia ianque e domínio da ex-colônias europeias).

O maior problema do Brasil, e rendo homenagem ao saudoso sociólogo da USP: Francisco de Oliveira - é de que ainda vivemos, no capitalismo brasileiro, resquícios da acumulação primitiva. E é especialmente no Norte: na Amazônia, onde esta todo o destino do Brasil na próxima divisão internacional do trabalho.

FILMES RECOMENDADOS:

ENTREATOS, um documentário sobre a campanha de Lula em 2001-2002.

LULA: O FILHO DO BRASIL, de Bruno Barreto.

FILME, ELES NÃO USAM BLACK TIE, de GIANFRANCESCO GUARNIERI.

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 30/01/2024
Reeditado em 20/04/2024
Código do texto: T7988578
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