Extrema-Direita ou Extrema-Esquerda: Qual é pior?

Acredito que o discurso que mais empobrece o debate é a ideia de que pessoas de esquerda são comunistas em pleno século 21. Não há um único país comunista, entendido como compartilhamento dos meios de produção; no máximo, há líderes estatistas, conservadores, autoritários, características muito mais de direita do que de esquerda.

 

Quando analisamos as principais ditaduras no mundo, eles não mencionam que a maioria são de direita e extrema direita. Na Rússia, por exemplo, erroneamente definida como esquerda, seus líderes são conservadores de direita e o regime é capitalista, mas não permite oposição política aos atuais mandatários.

 

Seguindo um pouco mais para o leste, temos o Azerbaijão, Cazaquistão, Turcomenistão, Tajiquistão, todos com líderes de direita autoritários, exceto o líder do Turcomenistão, o segundo líder mais despótico do mundo.

 

Um pouco mais para baixo, temos o Irã, uma república teocrática conservadora, uma disrupção que ocorre quando a fé vira política pública, algo semelhante ao que Michelle Bolsonaro propôs na última manifestação de domingo. Virando um pouco para o oeste, temos a Turquia, considerada um regime híbrido sob o controle de Recep Tayyip Erdogan, também de direita, e na Hungria, Viktor Orbán.

 

Descendo um pouco, temos as monarquias do Golfo: Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Omã, todas autoritárias e conservadoras. Saindo da Península Arábica, temos o Egito, sob uma ditadura militar de direita.

 

Na África, há também diversas ditaduras de líderes supostamente conservadores e pragmáticos na economia, sendo Uganda a mais violenta. Na Ásia, há ditadura na Tailândia. As que são comumente ditas como de esquerda, como Coreia do Norte e Venezuela na América do Sul, têm governos com características de extrema direita, como autoritarismo, nacionalismo, restrições contra estrangeiros e pragmatismo na economia.

 

Tendo isso em vista, fica claro que a distinção correta não é entre esquerda e direita, mas sim entre ditador e democrata. O argumento de xingar alguém de esquerda de comunista é raso. Afinal de contas, as principais ditaduras do mundo são de direita, reconhecida por sua tendência autoritária, como nos casos do Movimento 5 Estrelas na Itália, Marine Le Pen na França, Beatriz von Storch, neta de um nazifascista, na Alemanha, Trump nos EUA, e aqui no Brasil, Jair Bolsonaro, que admitiu recentemente ter conhecimento da minuta de um golpe de estado e fez uma reunião para discutir como ele seria executado. Não irá demorar para os hermanos, com Milei, seguirem a mesma tendência.

 

No Brasil, é errado dizer que há uma polarização, pois claramente existe um líder de extrema direita, que é Bolsonaro, mas não há um correspondente de extrema-esquerda. O mais próximo é o PSOL, mas é um partido irrelevante nacionalmente. O PT, com a principal figura de Lula, é muito mais de centro-esquerda, mas na economia, a postura é nitidamente pragmática.

 

 

Antigamente, a ameaça comunista era retratada no cinema como o desconhecido, o subversivo, e os regimes autoritários do passado causaram muitas mortes, como na Rússia, Alemanha, Japão, Itália. Mas a questão não é que eles eram comunistas, mas sim que tinham a convergência de serem autoritários. Hoje em dia, o comunismo não existe, e a real ameaça é a extrema direita nacionalista corrupta e autoritária.