GÊNERO E RELIGIÃO, PODER E IDENTIDADE: A LIDERANÇA DA MULHER NA IGREJA EVANGELICA

Resumo

Trata-se de uma analise histórica das práticas relacionadas ao ministério feminino e a sua liderança dentro das igrejas evangélicas, apontando a construção de uma imagem mais positiva e afirmativa das mulheres, bem como os limites dessa redefinição da identidade do gênero feminino no universo do protestantismo.

Palavras- chave: Gênero, Religião,Poder, Identidade.

Introdução

Trabalhar a relação das mulheres com as religiões e destas com as mulheres é está sobre um campo minado, onde o discurso masculino continua fundamentado desde a criação e fundamentado sobre a base patriarcalista. Na verdade, as religiões são um campo de investimento masculino. Historicamente, os homens dominam a produção do que é 'sagrado' nas diversas sociedades. Discursos e práticas religiosas têm a marca dessa dominação. Normas, regras, doutrinas são definidas por homens em praticamente todas as religiões conhecidas. Embora hoje a sua presença seja marcante na liderança as mulheres continuam ausentes dos espaços definidores das crenças e das políticas pastorais e organizacionais das instituições religiosas. O investimento da população feminina nas religiões dá-se no campo da prática religiosa, nos rituais, na transmissão, como guardiãs da memória do grupo religioso. Portanto, a discussão do gênero e a religião se estendem por todas as instituições religiosas no ocidente.

História da presença feminina nas instituições religiosas do Ocidente

Entre as religiões e as mulheres, as relações têm sido sempre, ambivalentes e paradoxais. Isso porque as religiões são, ao mesmo tempo, poder sobre as mulheres e poder das mulheres.

Poder sobre as mulheres: as grandes religiões monoteístas fizeram da diferença dos sexos e da desigualdade de valor entre eles um de seus fundamentos. A hierarquia do masculino e do feminino lhes parece da ordem de uma natureza criada por Deus. Isso é verdade para os grandes livros fundadores – a Bíblia, o Corão – e, mais ainda, para as interpretações dos teólogos e conservadores.

Os dois sexos, masculino e feminino, pertencem ao padrão da criação à natureza de Deus. Homens e mulheres trazem em si, igualmente, a imagem de Deus, e, em conseqüência, a dignidade deles é igual, a natureza complementar dos dois sexos visa à cooperação enriquecedora, não só na procriação e na vida familiar, mas também nas amplas atividades da vida e em comunhão com toda comunidade.

Quanto aos gêneros homem e a mulher e a natureza de Deus, Grenz (1998, p. 186) escreve:

Em vista os seres humanos refletirem a natureza de Deus mediante a comunhão, cada pessoa participa da imagem de Deus apenas no contexto da vida em comunidade. Só na comunhão com os outros podemos mostrar como Deus é, pois, Deus é a comunhão com os outros a relação eterna o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Em resumo, a criação da humanidade à imagem divina significa que os seres humanos - homens e mulheres – devem refletir a dinâmica relacional do Deus cuja representação somos chamados a ser. A natureza social da nossa criação á imagem divina emerge a esfera das relações dos gêneros. A imago Dei inclui o homem em comunhão com a mulher. Como notamos, homens e mulheres são diferentes no processo reprodutivo. As diferenças estão até nas maneiras básica em que vemos a nós mesmos e ao mundo. Homens e mulheres pensam de forma diferente; abordam o mundo de forma diferente. Essas perspectivas fundalmentamente diversas com relação aos outros, à vida e ao mundo significam que cada sexo precisa do outro a fim de cumprir as varias dimensões da vida humana. Esta compreensão da imagem divina constitui um forte fundamento para a participação dos homens e mulheres em todas as áreas da Igreja.

No passado, a discussão sobre o lugar das mulheres nas Igrejas concentrou-se em grande parte na extensão em que o domínio masculino impedia a liderança feminina. Em épocas mais recentes, porém, certos historiadores têm levantado uma pergunta mais difícil. Eles não só querem saber por que os homens dominaram tradicionalmente a vida da Igreja, mas também por que as mulheres reapareceram repentinamente na liderança. Segundo (Grenz 2006, p.40):

O fluxo e refluxo da participação na liderança não flutuam simplesmente de acordo com as mudanças na exegese bíblica ou da interpretação predominante de determinadas passagens da Escritura. Pelo contrario, o padrão também pode ser traçado em relação à institucionalização da igreja (o desenvolvimento de estruturas organizacionais), às influencias da cultura circunjacente e da teologia da liderança operante na Igreja. Assim sendo, os movimentos de renovação inicialmente abre a porta para maior envolvimento feminino, apenas para fechá-la á medida que se tornam subseqüentemente institucionalizados e buscam a responsabilidade na cultura mais ampla [...] Maria L. Boccia descreve esse padrão, que se repete sempre na historia da Igreja: Quando a liderança envolvia a escolha carismática de lideres, da parte de Deus, mediante a dádiva do Espírito Santo, as mulheres foram incluídas. Com o passar do tempo, a liderança é institucionalizada, a cultura patriarcal secular se infiltra na igreja e as mulheres são excluídas [...]

A presença das mulheres na Igreja é refletida pelo reavivamento e a restauração onde faz desaparecer a diferença entre os gêneros masculinos e femininos. No século XVII houve dois grupos reformadores radicais que deram oportunidades especiais às mulheres para que ministrassem: os batistas e os quakers . Houve mulheres que pregavam entre os batistas na Holanda, na Inglaterra e em Massachusetts nos Estados Unidos. Sendo assim, uma congregação londrina tinha cultos especiais em que as mulheres pregavam, as quais, às vezes, atraiam multidões de mais de mil pessoas. As atividades das mulheres que serviam como ministras, entre algumas facções de crentes do século dezessete, induziram à publicação do primeiro livro em inglês em defesa da participação feminina no ministério cristão. Este livro foi escrito por Margaret Felle onde declarava que as mulheres têm o direito de participar de todos os aspectos da vida cristã, porque o Espírito Santo dá poder tanto a homens como as mulheres. Fazer objeção ao ministério feminino é desprezar o ensino do Apostolo Paulo de que: “Não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28) .

De fato, nenhuma das diferenças entre os seres humanos confere vantagens no que se refere à Salvação. Paulo não elimina tais distinções, como a diferença entre homem e mulher, mas mostra que elas não conferem status preferencial em termos da nossa união com Cristo.

Algumas das mulheres lideres do movimento quaker eram encorajadas pelo ensino de pessoas como Margaret Feel. Foram capazes de partir para o trabalho missionário, saindo da Inglaterra para lugares como Estados Unidos e Turquia. Uma das primeiras a chegar às colônias foi Elizabeth Hooten que fez duas viagens missionárias à nova Inglaterra após ter completado 60 anos de idade. Os puritanos eram contrários aos trabalhos dos quakers, eles perseguiam a Sra. Elizabeth Hooten de maneira desumana, com prisão, fome, pancadas, exílio no deserto. As principais Igrejas protestantes do século dezessete permaneceram inflexíveis na oposição ao ministério feminino, a maior parte foi obrigada pela controvérsia que se levantaram durante a Reforma, a definir seus credos doutrinários de modo mais preciso.

E criaram seus sistemas doutrinários copiando assertivas relacionadas à filosofia de Aristóteles.

Tal fato produziu uma era conhecida pela Ortodoxia. Embora que havia crentes que viviam em total devoção a Cristo, muitas pessoas sentiam-se desencorajadas pelo que consideravam ortodoxia morta, que enfatizava a doutrina correta às expensas de uma fé cristã vital. Todos que reagissem à ênfase da posição oficial das Igrejas eram chamados de pietistas .

Este movimento orientava os crentes que vivem Cristo no íntimo, em vez de enfatizar o formalismo doutrinário. Originou-se na Alemanha, com o trabalho de Phillipp Jakob Spene e August Francke, essa renovação da fé cristã que proporcionou abertura para as mulheres, as quais tinham novas oportunidades em posições de liderança. O pietismo exerceu grande influencia nos Estados Unidos, onde se tornou responsável em parte pelo Grande Despertamento. Esse reavivamento iniciou-se nas Igrejas reformadas da Holanda, espalhou-se para outros grupos, como os congregacionais, na Nova Inglaterra, onde produziu o pregador mais famoso da época, Jonathan Edwards. Foi um reavivamento que levou as pessoas à conversão em massa, mediante a pregação evangelista.

As mulheres desempenharam um papel de extrema importância nesse movimento porque os reavivalistas enfatizavam a necessidade de uma experiência pessoal com Deus. Todos os crentes, inclusive as mulheres, quantos houvessem nascido de novo pela fé em Cristo, deviam testemunhar aos incrédulos. Muitos acreditavam que esse reavivamento era um sinal dos tempos e aqueles acontecimentos extraordinários constituíam a regra, o que incluía a aceitação de mulheres pregadoras. Uma das mulheres a quem se deu à oportunidade de exercer a liderança durante o Grande Avivamento foi Sarah Osborn.

O despertar evangélico do século dezoito foi seguido de outro, semelhante, na primeira metade do século dezenove. Muitas pessoas estimaram que dois terços dos convertidos durante esse segundo processo de conversão eram constituídos por pessoas com idade inferior a trinta anos. Talvez por causa de maneira muito pronunciada, a era das pregadoras. Esta nova oportunidade para as mulheres tornou-se mais evidente nos países de língua inglesa, de modo especial nos Estados Unidos.

Esta nova ênfase no papel das mulheres produziu outros efeitos como à extensão das oportunidades educacionais as mulheres acima do grau elementar, de tal modo que elas poderiam ser mais eficientes na educação de seus filhos e na supervisão do lar. À medida que as mulheres iam obtendo mais cultura, liam a Bíblia e descobriam uma mensagem de justiça e de libertação. Então, começaram a sentir que Deus lhes havia dado talentos de liderança e de comunicação verbal, os quais elas poderiam utilizar em numerosas causas cristãs que iam além da acanhada esfera domestica. Percebe-se que o discurso teológico, quanto às diferenças entre ser homem ou ser mulher do ponto de vista da liderança, assume duas vertentes. Uma que confirma haver diferença, e mais uma vez se sustentando nas explicações naturais, em que o homem é quem naturalmente domina, decide e por isso deve ter cargos de chefia. Esses pré-requisitos garantem-lhe cargos de liderança, uma vez que é mais racional e objetivo. E em contrapartida, tomam a mulher como submissa, dependente, mais indicada, devido às suas habilidades naturais, para tarefas operacionais, o que lhe confere uma participação mais tímida dentro do ministério pastoral e da sociedade. Mas a mulher tem se revelado como autora da sua própria historia redefinindo a sua feminilidade.

Quanto à nova definição da feminilidade da mulher Clouse (1996, p.20) escreve:

Outro resultado dessa nova definição de feminilidade foi um senso de valor próprio e o desejo de fazer algo que ajudasse a formar a sociedade. Se a asserção de que as mulheres eram moral e espiritualmente superiores aos homens fosse correta, por que então, deveriam elas ser excluídas da liderança dom mundo? Tal atitude levou as mulheres a fundar sociedade missionária, a fim de divulgar o evangelho, e instituições beneméritas que cuidassem dos doentes e pobres.

No século XIX, as mulheres foram induzidas a pregar mediante a ação, ao trabalhar em movimentos que visavam reformas sociais, enquanto outras se envolveram no ministério, através dos canais normais das organizações eclesiásticas. Algumas mulheres bem conhecidas dessa época foram Phoebe Palmer (1807-74), Catherine Booth (1829-90) e Hannah Whitehall Smith (1832-1911).

No século XX, o crescimento do movimento pentecostal resultou em papéis mais proeminentes para as mulheres, no ministério, visto elas ganharem espaço na evangelização e na área acadêmica. Entretanto, o mesmo processo que causara o declínio da liderança feminina entre os grupos sectários, no século dezenove, repetiu-se entre os grupos carismático posterior. Entretanto, por essa altura, as Igrejas cristãs tradicionais – como a Metodista, a Luterana e a Episcopal – começavam a ordenar pastoras.

Poder matriarcal: mulheres ministras e pastoras

Elas estão tomando o poder. Coincidência ou não, o século XXI, aos poucos, surpreende mundo afora à participação efetiva da mulher na sociedade, seja no espaço do trabalho, política e religião, deixando uma pergunta no ar: as mulheres estão tomando o poder? Discretamente - e com muita competência - uma nova geração de mulheres está chegando ao poder em sociedades nas quais isso era impensável até pouco tempo atrás.

Estudos recentes sobre a distribuição de autoridade no interior das Igrejas revelam a tendência de revisão dos constrangimentos à participação das mulheres na direção das comunidades pentecostais, destacando o crescimento do número de denominações com pastorado feminino e a multiplicação das igrejas fundadas por mulheres. Nesse sentido, cabe esclarecer que, embora a história do protestantismo indique a implementação do sacerdócio feminino no território brasileiro pela igreja pentecostal Evangelho Quadrangular em meados dos anos 1950, o impacto dessa iniciativa foi, entretanto, reduzido até os anos 90 do século passado, com pouquíssimas igrejas evangélicas adotando o pastorado feminino. Foi também nesta última década que surgiram novas estruturas eclesiásticas lideradas por mulheres.

Ainda que fortemente associada à expansão neopentecostal, a tendência de revisão do sistema de autoridade não está circunscrita ao segmento mais novo da tradição evangélica. Movimentos em favor da consagração de mulheres já podem ser percebidos tanto na Assembléia de Deus, uma das mais tradicionalistas e sexistas denominações do pentecostalismo clássico, quanto na comunidade Batista, que é a maior e mais popular igreja do protestantismo histórico em nosso país. Além disso, é importante deixar claro que nem sempre as mudanças nas hierarquias eclesiásticas resultam das reivindicações e da pressão das mulheres que as integram. Fatores de outra natureza, como por exemplo, o acirramento da competição religiosa e o reduzido número de homens para o sacerdócio podem favorecer a adoção do pastorado feminino em algumas igrejas. Assim, torna-se imprescindível o exame dos critérios e dos mecanismos mais comuns de ascensão das mulheres para se avaliar o impacto das propostas feministas de maior eqüidade entre os gêneros nas agremiações pentecostais.

Em se tratando de um fenômeno recente, a consagração de mulheres ao sacerdócio ainda necessita de uma pesquisa mais ampla e comparativa envolvendo as diversas denominações religiosas. Entretanto, as primeiras análises sobre o tema sugerem uma forte associação entre o sacerdócio feminino e o laço matrimonial, uma vez que a maioria das pastoras é casada com homens que ocupam cargos hierárquicos iguais ou superiores em suas denominações. As trajetórias de algumas das mais expressivas lideranças pentecostais revelam a importância dos vínculos domésticos e o papel decisivo dos homens no processo de ascensão das mulheres nas hierarquias religiosas. Restaria analisar os artifícios desenvolvidos pelos dirigentes do sexo masculino para garantir o controle sobre a atuação feminina no púlpito.

As mais importantes estratégias já identificadas nas igrejas que abandonaram a interdição das mulheres nos espaços de poder foram: a revisão na forma de conceber o ministério, que passou a ser um compromisso do casal, e a adoção nos rituais da “pregação de sermões em parcerias”. Atrelar a consagração das mulheres à concepção do ministério

Portanto, um grande questionamento tem ocupado o centro de debate entre protestantes ao redor do mundo, em décadas recentes nos Estados Unidos e Europa, que é a ordenação das mulheres como pastoras e diaconisas, assunto este que tem dividido opiniões entre igrejas e denominações. Entre evangélicos existem, de forma muito geral, duas posições básicas quanto ao assunto: os igualitaristas afirmam que Deus criou o homem e a mulher iguais: a subordinação feminina foi parte do castigo divino por causa da queda, com conseqüentes reflexos sócio-culturais. As mulheres têm direitos iguais aos homens de ocupar qualquer cargo de oficialato na Igreja. Os complementaristas entendem que desde a criação – e, portanto antes da queda Deus estabeleceu papeis distintos para o homem e a mulher, visto que ambos são peculiarmente diferentes, no entanto defendem a não ordenação da mulher ao oficialato eclesiástico, a questão está sendo discutida em termos teológicos através da Bíblia.

O argumento teológico proposto pelos componentes da ordenação de mulheres é extraído de uma compreensão especifica da natureza ministerial. Os complementaristas declaram que os ministros ordenados exercem papeis que são apenas prerrogativas de homem, embutindo este argumento numa teoria especifica da Igreja (eclesiologia). O povo de Deus, em ultima analise, não pode separar as mulheres para o ministério porque a Igreja é estruturada hierarquicamente. Os homens oferecem a liderança às mulheres o apoio. Quando corretamente ordenada, a estrutura da igreja reflete os papeis que os complementaristas encontram na criação.

Embora a questão das mulheres no ministério não esteja ligada ao cargo ordenado, mais ligada a todo trabalho existente na comunidade, quebrando assim todos os paradigmas encontrados entre argumentos teológicos. O ministério básico do pastor é dirigido a uma congregação local, mas o cargo ordenado tem ramificações para a comunidade ampliada.

Acima de tudo o pastor (a) desempenha o cargo ordenado fazendo o papel visionário para o povo de Deus ao renovar, constantemente a sua visão do ideal comunitário, o desígnio de Deus em direção ao qual o grupo local deve canalizar as suas energias. A responsabilidade pastoral pode assumir um ministério mais formal, tal como exercido por funcionários das associações cristãs, ministro de área, capelães ou professores em faculdade de teologia. Esses papéis são extensões do cargo pastoral e as mulheres têm desempenhado um papel pastoral muito importante nesse sentido.

A ordenação para o cargo ministerial traz no seu contexto as tradições cristãs, onde se reconhece a importância de separar lideres para servir a comunidade da fé. Algumas tradições incorporam na vida da Igreja padrão específico para nomear lideres. Esse processo de separação ou de escolha de lideres tem sido uma característica central da vida da igreja durante a história do cristianismo. A ordenação cristã foi introduzida por Jesus Cristo quando o mesmo nomeou doze pessoas dentre seus discípulos para desempenhar um especifico na sua missão (Mt. 3: 13-14).

Os documentos bíblicos fornecem precedentes históricos para a ordenação. Podemos estar convencidos de que o ato da pratica da ordenação atende a uma importante função no programa da igreja para expansão e evangelização na comunidade assistida na historia do cristianismo. Como aconteceu no primeiro século, o Espírito Santo continua agindo sobre a vida das pessoas, tocando-as a exercer o ministério pastoral, como servos por opção, servindo a igreja conforme o plano de Deus para história humana. A ordenação é um ato pelo qual a comunidade reconhece e confirma a capacidade do homem ou mulher a exercer o ministério pastoral na igreja como discípulos de Cristo, a fim de cumprirem os propósitos de Deus no mundo. A ordenação é a confirmação de um chamado pessoal não se limitando somente ao homem mais também a mulher.

Saberes e relação de poder do gênero feminino na (s) Igreja (s)

Conhecer o universo feminino no campo da religiosidade, utilizando as fontes como imagem e discurso para formar esta discussão de agentes construtores da própria História. Macedo (1990) ao descrever sobre a construção do gênero nos alerta "ver o invisível é necessário olhar com mais cautela, desconfiando do que está em cena" e assim resgatar esse processo neste momento torna-se de suma importância para a formação de novos conceitos. A situação da mulher ao longo da história sempre foi uma posição de submissão, portanto precisamos fazer uma releitura desta historiografia, ou seja, desconstruir este discurso e construí-lo numa visão não somente do homem ou daquele que foi vencedor, Bidegain (1996, p 14), assinala:

Não é preciso esforço algum para se perceber a invisibilidade das mulheres na historiografia acadêmica tradicional, das mulheres de todas as classes sociais e grupos étnicos, justificando a exclusão sofrida por estes seres humanos, de todas as decisões que configuram a orientação da vida econômica, política e cultural.

Para escrever a história, são necessárias fontes, documentos e vestígios e tendo tantos agentes sociais contraditórios, as mulheres têm desafiado toda a lógica escrevendo a sua própria historia, dedicando horas e horas, anos e anos de suas vidas para as instituições, associações e organizações e para suas famílias. Ciente que o universo feminino muito embora faça parte de uma grande e poderosa organização, ou seja, o poder consciente ou não de passar aos seus filhos os conhecimentos, narrativas, como também determinar o ensino, elas ainda são impedidas de atuar na sociedade, igrejas, quanto nas associações.

Exemplificando: nos dias atuais à atuação das mulheres em cargos iguais aos dos homens com salários mais baixos. A situação da mulher ao longo da história sempre foi uma posição subalterna, incluindo sua entrada na estrutura religiosa, por meio dos conventos, mas sempre na subordinação de um bispo. Segundo Bidegain (1996 p 14):

Muito embora no Ocidente a história como disciplina tenha suas raízes na Grécia clássica, este tem sido um discurso que foi reelaborado de acordo com as perguntas, concepções do mundo, interesses e necessidades das comunidades em diferentes períodos históricos. Entretanto, sempre foi traço marcante a preocupação em escrever a história a partir da perspectiva dos que tiveram o poder, seja este econômico, político, cultural, do qual as mulheres, de modo geral, têm sido excluídas até este século.

As mulheres estão mais participativas nas atividades sociais e profissionais, dedicam-se, anos e anos de suas vidas para as instituições, por uma causa que elas acreditam como as Missionárias, que já no início do século XIX deixavam seus países em geral à Inglaterra e se viam aventurar num país tropical, considerado "selvagem", enfrentando todo tipo de preconceitos e evidentemente de doenças terríveis, muitas sem cura, sem remédios dependendo tão somente de sua crença e fé. Mesmo com todo o "avanço" intelectual, tecnológico o discurso feminino vem mostrando ao longo dos anos às transformações nos padrões de comportamento e nos valores relativos ao papel social da mulher. Um dado interessante consiste no fato das mulheres procurarem as instituições

religiosas mais tradicionais para que essas possam lhes auxiliar na melhor conduta de seus cônjuges e afirmação na sociedade. Bidegain (1996, p. 102-103) afirma:

As mulheres protestantes valorizam estas igrejas (pesquisa realizada no México) por que as ajudam a reformar os seus maridos e porque recuperam parte de seus salários que talvez fossem investidos nos "vícios". Não tem preocupação acerca de se seus esposos voltarão ou não para casa depois do trabalho ou se deixarão parte de seus salários nos botequins e bordéis.

Sendo assim, a religiosidade se apresenta como aliada da mulher, ou protegendo o seu espaço e a apoiando na melhoria de suas relações. As atividades religiosas libertam as mulheres do claustro doméstico, sentindo o amparo dos membros dessa comunidade religiosa, os homens em alguns casos acabam por concordar com as regras e ritos mesmo não freqüentando "religiosamente" essas igrejas ou instituições. O que reforça esse argumento é que as igrejas dispõem para seus membros de farta literatura, visando o fortalecimento da relação conjugal, quanto aos filhos, família, debate em reuniões e encontros, Segundo Bidegain (1996 p 104)

(a mulher) [...] Ao pertencer a uma igreja protestante, revaloriza a si mesma através dos cargos ou posições adquiridas na congregação religiosa, ou dos dons espirituais carismáticos. A aquisição de uma identidade mais positiva de sua pessoa permite-lhe confrontar-se e relacionar-se com os homens de sua família a partir de uma posição mais eqüitativa.

Podemos ver que a revolução da mulher dos séculos XIX e XX surgiu a partir do momento em que elas construíram seus espaços e estratégias de práticas cidadãs: as mais ricas e nobres tinham certa influencia política na vida da cidade, geralmente numa postura conivente com a política dos homens-chefe, e às vezes em oposição a eles na defesa da vida de pessoas ameaçadas em sua dignidade. As mulheres mais pobres e trabalhadoras exerciam sua influência nas cooperativas e sindicatos chamados de mulheres na defesa da vida e de direitos de outras pessoas, pois isso a liderança sempre existiu na vida das mulheres. E a sua identidade se fortalece no seu nascedouro na segunda Guerra Mundial, quando os homens validos partiram para as trincheiras e elas ficaram na retaguarda e dispostas a exercer o ofício desses homens nas fabricas, nos escritórios, nas universidades. As mulheres ocuparam com desenvoltura todos esses espaços, enfrentaram os desafios com coragem de assumir responsabilidade até as exigidas pelo primeiro sexo. Rápidas no aprendizado e estimuladas pela competição assumiram os mais sofisticados ofícios, apesar do preconceito e da desconfiança exercida pela sociedade patriarcal, tornando visível.

Mesmo com o avanço do aprendizado e conquistas homens e mulheres sofrem (e produzem) diferentes formas de dominação e discriminação. As desigualdades vividas no cotidiano da sociedade, no que se refere às relações de gênero, não se definiram a partir do econômico, mas, especialmente a partir do cultural e do social, formando daí as "representações sociais" sobre as funções da mulher e do homem dentro dos variados espaços de convivência, ou seja: na família, na escola, na igreja, na prática desportiva, nos movimentos sociais, enfim, na vida em sociedade.

Portanto são as mulheres, no entanto, que se constituem, predominantemente, no pólo subordinado na histórica relação entre os gêneros masculinos e femininos. Elas vêm, entretanto, lutando e se afirmando como seres de seu tempo, no próprio enfrentamento dos limites colocados à sua humanização. Nesse movimento vão criando e recriando modos de ser, de dar sentido às suas vidas e de produzir saberes.

O movimento feminista e a necessidade econômica têm colocado as mulheres em todos os trabalhos tradicionalmente executados pelos homens, ocupando o espaço publico de forma crescente e com muita competência.

Construção do espaço histórico do gênero feminino das mulheres ministras e pastoras.

Fins do século XIX: as transformações que a partir da década de 1850 começaram, lenta e contraditoriamente, a se delinear nos horizontes, tornavam-se mais profundas e definidas quanto à construção do espaço da mulher na sociedade.

As mulheres tecem a sua historia, conquistam com significativo sucesso os seus direitos com uma temporalidade variável de acordo com os países de origem.

Após a Reforma Protestante elas (as mulheres) alcançam o direito ao saber, não somente a educação, mas a instrução. Essa conquista se acompanha de um imenso esforço de apropriação: leitura, escrita, acesso a instrução.

Elas conquistam também o direito ao trabalho, ao salário, aos ofícios e as profissões, desempenhando bem, o seu papel. Segundo Perrot ( pg. 159, 2007 ):

O direito ao trabalho, ao salário, aos ofícios e ás profissões comporta dimensões que são, ao mesmo tempo, econômicas, jurídicas e simbólicas, com diferenças sociais evidentes. As classes populares necessitam do salário das mulheres, mesmo quando o consideram somente um trocado. A burguesia delega o lazer, o otium aristocrático, a suas mulheres, vitrines do sucesso e do luxo dos maridos.”Viver nobremente é viver sem nada fazer”, dizia-se no Antigo Regime. O que não é mais viável no capitalismo. As mulheres, pelo menos, guardarão ainda esse perfume da corte, esse estilo de vida mudano que cria a distinção. É por isso que seu eventual trabalho é recriminado; ele é sentido como um desconforto, a marca da decadência da família, uma vergonha social. As mulheres dessa classe tiveram de se esgueirar no mercado de trabalho, exclusivamente através dos serviços, ocupações adequadas á feminilidade.

Portanto diante de uma conquista tão importante na vida das mulheres que foi o seu ingresso a novas profissões, elas conquistam também os direitos civis e políticos. Direitos que derivam da dignidade inerente à pessoa humana. Cultural e historicamente a obtenção dos direitos civis constitui a base do sucesso do Movimento de Mulheres, nas últimas duas décadas, resultante do desenvolvimento social, cultural e legal que não pode ser observado entre os homens. A mulher, casada ou que viva em união estável, da classe média ou da classe alta, que tem bens a dividir, tem hoje uma situação patrimonial muito melhor do que no passado. Quanto aos direitos políticos às mulheres conquistam igualdade de condições com os homens, o direito de voto em todas as eleições, sem nenhuma restrição, como também elas serão, em condições de igualdade com os homens, elegíveis para todos os organismos públicos de eleição, constituídos em virtude da legislação nacional, sem nenhuma restrição, conforme decreto nº 52.476, de 12 de setembro de 1963.

Enfim o protestantismo teve uma grande influencia nas conquistas das mulheres, hoje se encontram mulheres líderes de igrejas (missionárias,diaconisas, ministras e pastoras).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BIDEGAIN Ana Maria. Mulheres: Autonomia e controle religioso na América latina - Petrópolis - RJ: Ed. Vozes, 1996.

CULVER, Robert D; FOH Susan; LIEFELD Walter; MICKELSEN Alvera; Mulheres no Ministério: Quatro opiniões sobre o papel da mulher na igreja: [et al.], - São Paulo: Mundo Cristão, 1996.

DEL PRIORE, Mary. História da Mulher no Brasil. São Paulo: Ed. Contexto, 2003.

DURANT, Will. A Idade da Fé. São Paulo, Ed. Record, 2002.

GRENZ , Stanley J. Mulher na Igreja, teologia bíblica para mulheres no ministério. Ed. Candeia, S.Paulo, 1998.

MACEDO, José Rivair. A Mulher na Idade Média. Ed.Contexto: S.Paulo, 1990.

PERROT, Michelle. Minha historia de mulheres. São Paulo, Ed. Contexto, 2007.

THOMASSET, Claude. Da Natureza Feminina, IN: História das Mulheres no Ocidente - Porto: PT: Ed. Afrontamento Ltda, 1990.

Miguel Braga
Enviado por Miguel Braga em 26/09/2009
Reeditado em 02/01/2018
Código do texto: T1832444
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