Nota de repúdio à matéria ‘A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico’ publicada pela jornalista Eliane Brum no dia 14/11/11 na coluna Sociedade da revista Época

Inicialmente, quero fazer uma breve apresentação da jornalista Eliane Brum. Esta é, além de jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de um romance - Uma Duas (LeYa) - e de três livros de reportagem: Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo). Foi codiretora de dois documentários: Uma História Severina e Gretchen Filme Estrada. Não há dúvidas da inteligência e da competência da jornalista Eliane Brum. Tenho inclusive o hábito de ler matérias que são da autoria de Eliane. Todas as segundas-feiras há um texto de Brum publicado na revista Época. Contudo, o que me espantou foi a acidez e a sagacidade do ataque verbal, lógico-argumentativo, feito pela jornalista Eliane Brum em relação aos evangélicos brasileiros, mais especificamente, aos evangélicos neopentecostais.

Como cidadão, como cristão protestante, mais precisamente evangélico neopentecostal, e como acadêmico de Direito, não poderia ficar calado perante esta matéria abusiva lançada nacionalmente. Para começar, embasando esta minha nota de repúdio à matéria ‘A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico’ publicada pela jornalista Eliane Brum no dia 14/11/11 na coluna Sociedade da revista Época, trago à tona o artigo 5º, IV, da Constituição da República Federativa do Brasil, o qual celebra a livre manifestação do pensamento. Sou livre para expressar o que penso da mesma forma que a jornalista está assegurada pela Constituição para expressar o que pensa, desde que não agridamos os direitos da personalidade alheia. Também é importante lembrar que vivemos em um Estado Democrático de Direito e aqui há a possibilidade de se discutir contrariamente ao que alguém expressa.

Quando vi o título da matéria não me espantei, mas quando vi o teor completo da mensagem fiquei extremamente decepcionado com a jornalista Eliane Brum. O texto começa com uma história de um taxista e de uma mulher que se diz ateia. Há um diálogo entre eles no decorrer da corrida e, no fim, quando se despedem, o taxista deseja que a mulher vá a uma igreja, e ela pede para que ele vire ateu. Passado esse relato, Eliane começa a comentar sobre o crescimento dos evangélicos neopentecostais e incita que ‘a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico’. Uma declaração deplorável de uma ilustre jornalista. Com esse comentário, ela aumenta a repulsa de muitos em relação aos evangélicos neopentecostais. Não fica só nisso. Eliane, certamente por desconhecer a doutrina cristã protestante, afirma que ‘O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno’. Com esta frase a jornalista está dizendo que, conforme os evangélicos neopentecostais, quem não vai à igreja e quem não paga o dízimo vai para o inferno. Talvez isso seja na doutrina da cabeça da eminente jornalista, pois existem doutrinas no cristianismo protestante que cuidam da ida à igreja e do dízimo. Estes assuntos não podem ser tratados de forma medíocre como muitos têm feito. É necessário um embasamento teológico para tal.

A jornalista Eliane Brum para amenizar o teor ácido do texto de sua respectiva autoria afirma que ‘Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro’. É interessante que as passagens anteriores e posteriores a essa declaração da jornalista mostram o contrário. Tanto o é que logo na passagem seguinte a jornalista indaga ‘Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas?’ Esta indagação é o ápice do absurdo. Não há no Brasil uma cultura de perseguição aos ateus pelos evangélicos. A jornalista mesma responde ‘Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista’. Agora, pergunto. Qual a prática social, econômica, política, religiosa ou cultural que não é constituída no modo capitalista? Vivemos sob a égide de qual regime? Qual é o sistema que controla o mundo hodierno? Se a jornalista tem tendência ou é adepta ao anarquismo ou ao socialismo, é importante observar que o capitalismo é o grande dominador das relações humanas no planeta Terra neste início do século XXI. Se Eliane quer que as relações humanas e religiosas deem-se em outro contexto, que sugira a criação de um novo sistema social. Isso não pode ser feito somente pelos religiosos. A mudança de sistema requer uma verdadeira revolução formulada por um grande grupo e não por uma minoria.

A passagem do texto ‘Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica’ é outro apogeu da intolerância. Um dos grandes problemas existentes no que diz respeito aos posicionamentos ideológicos é a generalização. Eliane Brum na passagem explicitada neste parágrafo generalizou e errou por isso. É uma tremenda falácia colocar todos os evangélicos como consumidores e todas as igrejas como shoppings da fé. Isso é um desrespeito, é uma afronta aos cristãos protestantes.

Outra declaração polêmica e terrível de Eliane é ‘Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões’. A jornalista aduz que os evangélicos são pessoas, no mínimo, intransigentes, ferozes. Ela erra novamente pela generalização e por este prenúncio. É interessante observar a seguinte passagem ‘Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”.’. Aqui há o zênite da aberração. Ela diz que seus amigos ateus têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil e que a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Ora, isso é um atentado à inteligência humana. Se é ateu, não pode se sentir ofendido quando alguém diz ‘Deus me livre’. Se não acredita em Deus, não pode se sentir ofendido com uma frase dessa. Sem falar que a pessoa que fala essa frase está pedindo um livramento para ela mesma e não para o ateu.

Eliane Brum finda o texto falando acerca da Igreja Bola de Neve e da Igreja Celular Internacional. A última frase da jornalista é ‘Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele’. Essa frase é extremamente perigosa. Quando ela diz ‘que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele’, é um prenúncio de uma censura à liberdade religiosa. Esta é ratificada pela Constituição Federal. Todo cidadão pode expressar sua religião sem ser constrangido por isso. Se a jornalista não quer ouvir alguém falando sobre religião, que se retire do lugar onde está. Não se pode cercear a liberdade de expressão do povo brasileiro!

Aos que me conhecem, sabem que eu já disse verbalmente e através de textos que já existe certa perseguição no Brasil aos cristãos protestantes. Isso é fato. Alguns pastores, como o ilustre homem de Deus Pastor Silas Malafaia, sabem muito bem do que estou falando. A perseguição tem aumentado e vai se intensificar devido ao crescimento quantitativo dos evangélicos neopentecostais neste país e devido ao cumprimento das Sagradas Escrituras. Entretanto, devemos continuar ratificando os valores cristãos, em especial, o amor a Deus e ao próximo. Sei que têm surgido muitas igrejas que se dizem cristãs protestantes, mas que na realidade são constituídas com fins meramente econômicos. Contudo, isso não é a regra geral. Ainda existem igrejas cristãs protestantes sérias e éticas no Brasil. Se há erros em algumas igrejas, o problema não está em Deus, mas nas pessoas, nos homens. Os homens são corruptíveis e é por isso que há corrupção em tudo que envolve o homem, seja na religião, seja na política, seja nas relações profissionais, entre outras áreas humanas. Deus não é problema, é solução.

Encerro esta nota de repúdio afirmando que estou atento a tudo e a todos. Não me calarei no que diz respeito à defesa da liberdade religiosa e de expressão neste país. Enquanto eu viver neste planeta, serei uma voz de protesto a tudo que for de encontro à liberdade humana. Não admitirei e lutarei, no sentido literal mesmo do verbo lutar, se for necessário, para que na República Federativa do Brasil não se instaure uma ditadura dominada por uma minoria, seja qual for a minoria. Estamos na Era dos paradoxos e são necessários o diálogo e a tolerância com o intuito de que a pacificação social seja mantida.

Para os que quiserem ler o texto da jornalista Eliane Brum, eis o link: http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/11/dura-vida-dos-ateus-em-um-brasil-cada-vez-mais-evangelico.html.

Fortaleza, 14 de novembro de 2011.

Autor da nota de repúdio: Saullo Pereira de Oliveira.

Saullo Pereira
Enviado por Saullo Pereira em 15/11/2011
Código do texto: T3337062
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