Quaresma: tempo de penitência

QUARESMA, TEMPO DE PENITÊNCIA

Na liturgia cristã, a palavra quaresma se refere ao período de quarenta dias que vai desde a quarta-feira de cinzas até o domingo de páscoa. É um tempo destinado pelos cristãos e ortodoxos à reflexão e à penitência. Oriundo da lascívia dos costumes pagãos, o carnevale, a festa da liberação da carne, consistia num conjunto de festas onde a censura e a ética iam para o beleléu, e cada um fazia o que tivesse vontade. Assim como ocorre ainda hoje.

Por conta de tanta orgia, foi instituída pela Igreja, ainda no período medieval, uma época de penitência pelos excessos praticados no carnaval. Excessos nossos e dos outros. Como a fase seguinte seria a da páscoa, a ninguém era lícito nela entrar sem uma purificação. As “cinzas” que os católicos recebem nesta quarta-feira, representam o fim do incêndio das paixões, que se rende ao desejo de conversão e temor a Deus. Tem origem nas cinzas que os antigos povos da Bíblia colocavam sobre a cabeça em sinal de penitência e arrependimento. Pois a quaresma, como tempo de contrição e de temor, nos dá muito que pensar. Nós costumamos nos queixar da desordem do mundo, de tanta coisa errada, violência, injustiça, opressão. E nós, o que fizemos para evitar isso? Lutamos, denunciamos, ou apenas cruzamos os braços, limitando-nos às queixas? Deus é pai, criador e construtor.

Se quisermos modificar o mundo para melhor, é só imitá-lo. As flores, por exemplo, ajudam as abelhas a fazer mel e a tornar as pessoas mais alegres. Será que nós não podemos ser flores na vida dos outros? Quem tem rejeitado a Jesus nesses dois mil anos de cristianismo? Os agarrados ao poder da autoridade, do prazer, da riqueza ou da posição social. Por causa desse comportamento, as pessoas sofrem, as famílias se desestruturam e o convívio se torna cada vez mais difícil. Todos têm “idéias próprias”; ninguém quer ceder um milímetro.

As imagens da tevê mostraram que o carnaval, em todos os quadrantes do Brasil, atingiu níveis incontroláveis de uma imoral liberalidade. A pouca roupa de algumas sambistas, a violência, os acidentes de trânsito, as intoxicações por conta das bebidas, as mortes e agressões, tudo retrata como que um desespero existencial de muitas pessoas, onde o álcool, a droga e a exacerbação dos sentidos para querer levar a limites nunca atingidos, como se a vida se resumisse àqueles momentos, em que o império da carne, o carnevale, fosse o tudo e o sempre. Por isso, cabe a penitência...

Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral