Varas de aveleira

Extraído do Jornal Momento Espírita de Bauru.

Varas de aveleira

Richard Simonetti

Conta-se que quando Lutero ouvia determinadas perguntas sobre a fé evangélica, respondia: Deus está sentado por detrás de uma aveleira com varas cortadas para aplicá-las aos interrogadores indiscretos.

Bela maneira de furtar-se a questões perturbadoras, irrespondíveis à luz dos princípios que esposava. Por exemplo: Por que, sendo Deus absolutamente justo e bom, permite que convivam na Terra:

Ricos e pobres…

Sãos e doentes...

Gênios e idiotas...

Bons e maus...

Santos e facínoras...

Sãos e doentes...

Atletas e paralíticos...

Não vale dizer que a origem desses desníveis está na combinação de elementos hereditários, no ambiente social, na educação, na cultura, na educação...

Essa explicação só serve para os materialistas. Sem Deus não importam as injustiças. Nem vale informar, como pretendia Lutero, que Deus tem seus eleitos, como se já nascessem com passaporte para o paraíso, dotados de valores espirituais que não favorecem o

homem comum. Essa explicação só serve para os ingênuos.

Se Deus tem favoritos, como fica a justiça?

Se pretendermos que haja equidade nas situações humanas, a única saída está na Doutrina Espírita, que mais cedo ou mais tarde, neste século ou em futuro remoto, será assimilada pelas religiões tradicionais. Isto por uma razão muito simples: Seus princípios enunciam os mecanismos que regem a evolução e o destino dos Espíritos, os seres pensantes da Criação. Com o Espiritismo aprendemos que não fomos criados no momento da concepção, nem todos ao mesmo tempo. Já vivíamos antes do berço; seguiremos vivendo depois do túmulo, como seres imortais destinados à perfeição, cada qual num estágio de evolução correspondente à sua idade e ao aproveitamento das experiências

evolutivas. Em nosso mundo convivem Espíritos de diferentes gradações etárias, o que explica a diferença de aptidões, tendências, vocações…

Espíritos bons são mais vividos, mais experientes, conscientes de suas responsabilidades.

Espíritos maus ainda não assimilaram a noção básica de que o Universo é regido por mecanismos de causa e efeito que sempre fazem repercutir em nós mesmos o que fazemos, para que aprendamos a distinguir o que devemos ou não fazer.

Faz parte dessa estrutura a reencarnação, que nos oferece incontáveis oportunidades de mergulhar na carne, para experiências compatíveis com nossas necessidades evolutivas.

No atual estágio, a carne funciona, basicamente, como uma lixa grossa que desbasta nossas imperfeições mais grosseiras. Doenças, dores e limitações físicas representam os elementos de

contenção e eliminação das tendências inferiores que desenvolvemos em nossa personalidade, em razão de nossa própria imaturidade.

Houvesse Deus de usar as varas de uma aveleira para impor castigos, certamente não seria para os questionadores que procuram uma explicação para a Vida. Seria destinada aos acomodados, aos que enveredam por caminhos de sombras, aos que se comprometem no erro, no vício, no crime...

Sabemos, no entanto, que esse Deus estaria bem próximo do Jeová da tradição mosaica, um déspota terrível, vingativo, que governa o Mundo com mão de ferro, sempre disposto a perseguir, até a quarta geração, aqueles que o aborrecem, como está na Bíblia (Êxodo,20:5).

O Deus que o Espiritismo nos propõe é aquele Deus revelado por Jesus, o pai de infinito amor e misericórdia que trabalha incessantemente pela felicidade de seus filhos.

Se varas de aveleira nos vergastam, frequentemente, não são empunhadas por Deus, mas por nossa própria consciência, a nos advertir que é preciso dar jeito em nossa vida, buscando um comportamento compatível com nossa condição de filhos do Eterno,

programados para a perfeição.