3º QUARESMA “O zelo da tua casa me consome”

3º QUARESMA

“O zelo da tua casa me consome”

Palavra da Liturgia – João 2, 13-25

Neste dia celebremos a moradia de Deus, a mais digna que é a vida. Nenhuma estrutura deve jamais substituir ou prevalecer sobre a vida humana, ao contrário, deve estar a serviço dela.

Toda injustiça social é uma agressão ao templo vivo de Deus que é a vida humana. Esta dignidade é inalienável e deve ter total primazia.

Jesus entra no Templo de Jerusalém e com o chicote em mãos expulsou todos os comerciantes e todos aqueles que não respeitavam o local como casa de Deus.

O Templo de Jerusalém era o centro religioso e político de Israel. Era uma construção de impressionar e encantar pela beleza e pelas estruturas. Todo israelita precisava oferecer seus sacrifícios e para tanto tinha que comprar os produtos no Templo onde a moeda corrente era trocada pela valorizada moeda do templo, ou seja, especulação.

O povo mais simples era explorado. Nas festas tinha que comprar os pombos para oferecer em sacrifício. O dinheiro que entrava no Templo ficava com o sumo-sacerdote e sinédrio (tipo de parlamento daquela época).

Os grandes comerciantes por sua vez ofereciam propina para participarem dos negócios do Templo e o Sumo Sacerdote a aceitava.

Além de todas estas atitudes mencionadas acima, era comum o Sumo Sacerdote apropriar-se pela força das peles dos animais degolados que deveriam pertencer aos outros sacerdotes, vai aos sítios roubar o dízimo que lhes é igualmente destinado, ou usa a intriga, a chantagem e até o assassinato.

Conhece hoje algo parecido? Enormes Templos? Anúncios de Prosperidades? Distribuição de curas e milagres em troca de dinheiro? Falsos profetas cobrando uma fortuna para aparecer? Administradores e não mais pastores? Corrupção? Politicagem? Artistas da fé? Líderes com vida luxuosa a custa das ovelhas? Espetáculos? Lobos vestidos de pastores?

Também a distribuição dos locais determinados dentro do Templo eram injustos e preconceituosos. Perto do Santo dos Santos (onde se dizia que Deus ficava atrás de um véu) estava o Sumo-Sacerdote, depois, vinham os sacerdotes, depois vinham os homens israelitas e finalmente (lá no fundo do templo) as mulheres e fora do Templo os gentios (pagãos).

A santidade destas classes era medida pela aproximação do Santo dos Santos. Portanto as mulheres eram vistas menos santas ou mais impuras que os outros (com exceção dos gentios).

O Templo de Jerusalém era uma fonte religiosa e principalmente financeira para manter o sinédrio da época.

Entende agora o porquê desta reação abrupta de Jesus ao usar o chicote no Templo? Entende o porquê logo após o berro de Jesus na cruz o véu o Templo rasgou-se em duas partes? Deus não habita atrás do véu da mentira, Ele habita em vós, pois sois o templo do Espírito Santo!

Imagino Maria como boa israelita, entrando grávida ou com Jesus no colo no Templo de Jerusalém para as celebrações! Ela carregava no seu ventre o Santo dos Santos: Jesus! Portanto as mulheres estavam mais perto da santidade! Jesus filho de Maria a Arca da Aliança! Deus devolve a dignidade a quem pertence!

Ao rasgar o véu do templo onde se dizia que habitava Deus no Santos dos Santos, Jesus quis deixar bem claro que o lugar mais santo é a pessoa humana, de forma preferencial pela urgência, os mais sofridos e pobres. Comumente não procuramos Deus onde realmente Ele está.

Por isso Jesus anuncia que eles destruíram o sentido mais profundo do templo e que Ele com a própria vida resgataria toda nossa dignidade ao ressuscitar no terceiro dia oferecendo-nos o direito de sermos felizes.

Portanto nesta Quaresma fitemos nosso olhar, assim como Maria, em Deus que se faz presente no irmão e na irmã que está ao nosso lado! Urgentemente naqueles que mais sofrem.

Na presença perene de Jesus na Eucaristia quero ter comunhão com

meus irmãos. Que minha fé não seja interesseira a ponto de fazer da igreja um lugar de comércio. Que meu coração não seja tão duro e frio como o mármore do altar das igrejas.

Gilberto Ângelo Begiato

http://gilbertobegiato.blogspot.com

Gilberto Ângelo Begiato
Enviado por Gilberto Ângelo Begiato em 05/03/2012
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