Misticismo e Ortodoxia “ESPÍRITAS”
"Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará." [A Gênese, Cap. I, item 5 – Allan Kardec]
Allan Kardec e os Espíritos Superiores fizeram com a Codificação Espírita, um trabalho inigualável. Eles construíram com apenas 05 obras básicas, o alicerce inabalável da descoberta da Verdade, e, qualquer que seja o tema, é possível encontrar nessas obras, alguma referência direta, ou indiretamente através de material moral para ponderar a respeito. Em outras palavras, nem tudo foi dito, mas tudo pode ser analisado com as informações contidas na Codificação.
Não foi a toa que o Codificador deixou claro o caráter progressista da Doutrina dos Espíritos, ao explicar, em A Gênese, que o Espiritismo não será ultrapassado, pois caminha de par com o progresso.
Infelizmente, como somos ainda imperfeitos, essa afirmação provoca um processo de extremos no Movimento Espírita (MOVESP), e como todo extremo, a falta de equilíbrio causa prejuízos ao nome do Espiritismo; afinal, um e outro são distintos, enquanto o Movesp é o modo como interagem os espíritas na prática administrativa da realidade espírita, o Espiritismo é rota filosófico-moral que seguem os espiritistas.
Quando Allan Kardec fez a assertiva acima mencionada, sua intenção era esclarecer que a Verdade e o Conhecimento surgem paulatinamente, conforme a humanidade torna-se apta a compreendê-las, seja por seu amadurecimento moral, seja pela ampliação de sua capacidade intelectual; e considerando que nos desenvolvemos constantemente em ambos os aspectos, não se pode limitar o Espiritismo do século XIX a um futuro sem progresso.
Embora essa afirmação, de modo algum o Espiritismo está ultrapassado. Nunca foram tão atuais as informações lá contidas, no entanto, o princípio da literalidade tornou-se verdadeiro verdugo do uso da razão estimulada pelo Espiritismo.
Para uns, pela compreensão literal do caráter progressista da doutrina, a crença é absorver qualquer novo conhecimento, criar uma miscigenação espírita que vivifique o que foi “ultrapassado” na palavra de Kardec, tentando incorporar ao Espiritismo terapias alternativas, metodologias suspeitas e conteúdos duvidosos de autoria e prática de pretensos “espíritas”. A empolgação surge como pano de fundo nas novidades ‘neo-espíritas’.
Para outros, a compreensão literal de que estando fora da Codificação e sem ter passado pelo CUEE (Controle Universal do Ensino dos Espíritos) não é Espiritismo, barra completamente toda possibilidade de progresso, pois tudo o que não se menciona com todas as letras nas Obras Básicas, deve ser rejeitado completamente, e isso inclui obras sérias que subsidiam a Codificação, como as de Francisco Cândido Xavier.
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, diz o ditado popular. O equilíbrio é o pai do sucesso, e todo extremo lhe corrompe as melhores intenções. Quando o Espiritismo fala de progresso, uma vez que não surgiu ainda no Movimento Espírita outra pessoa com a competência analítica de Kardec, estamos falando do desenvolvimento do PENSAMENTO ESPÍRITA, que nos torna mais aptos a análises críticas sem adulterar-lhe a estrutura – coluna mestra do Espiritismo – que é a Codificação.
Mas num extremo, o MISTICISMO, o qual se embrenha perigosamente no Movesp, mistura-se nos lábios dos mais empolgados ao nome Espiritismo, numa devoção exagerada e tendência a acreditar no sobrenatural, a apegar-se a ritos disfarçados de métodos e justificando como ‘ordens de mentores’, a inserção de aplicações não espíritas nos Centros. É assim que vemos CE’s aplicando radiestesia, cromoterapia, fitoterapia, cristalterapia, apometria, entre outras “ias” que foram criadas como alternativas de tratamento físico e espiritual.
“A Doutrina Espírita centraliza-se no amor e todas essas práticas novas, das mentalizações, das correntes mento-magnéticas, psico-telérgicas para nós espíritas merecem todo respeito, mas não tem nada a ver com Espiritismo. Seria o mesmo que as práticas da Terapia de Existências Passadas nós as realizarmos dentro da casa espírita, ou da cromoterapia ou da cristalterapia, fugindo totalmente da nossa finalidade. A Casa Espírita não é uma clínica alternativa, não é lugar aonde toda experiência nova vai ser colocada em execução.” (Trecho de Palestra de Divaldo Pereira Franco)
Observem que não se coloca em julgamento a utilidade destes tratamentos alternativos. Nem mesmo seu sucesso. Nem a idoneidade de quem os pratica. Apenas alertamos para que se deixe fora do Centro Espírita aquilo que não é Espiritismo.
No outro extremo, a ORTODOXIA restringe brutalmente qualquer passo adiante no conhecimento espírita. Por causa dessa declaração de Verdade, que é a qualidade do ortodoxo, não se aceita como obras e temas complementares, esclarecedores das informações da Codificação, nem mesmo o que provém de pessoas cujo tempo e atividade constante no Bem, provou idoneidade e seriedade absolutas, como por exemplo, Chico Xavier; porque nas obras básicas não se citou o nome “colônia” ou “umbral”, descartam-se sumariamente as informações de André Luiz ou Emmanuel; porque na Codificação não se falou de doação de órgãos, uma vez que a ciência médica ainda não havia se desenvolvido a tal ponto, recusa-se peremptoriamente a aceitar sua licitude.
Na ORTODOXIA, temos um conceito de que tudo aquilo que veio após Codificação Espírita, seja mera opinião, não importando a autoria, e como tal, não deve ser considerada. No MISTICISMO, tudo aquilo que veio após, pelas mãos de um médium e um espírito, é lícito.
Ponderemos! Não perdemos negando a possível veracidade de farto material manifestadamente idôneo que existe? Não defendemos a inserção das palavras “colônia” e “umbral” nas Obras Básicas, mas defendemos que se utilize as Obras Básicas para avaliar que se falou de muitas moradas, e entre elas estes dois estados podem estar inseridos – a diferença de nomes é mera forma para favorecer a compreensão.
Não perdemos absorvendo cegamente, sem critérios racionais, o que outras terapias espirituais utilizam, se contrariam os pilares do Espiritismo com ritos dos quais procuramos arduamente nos desapegar? Não perdemos aceitando informações que contrariam a lógica e a própria obra espírita, quando se fala de gravidez espiritual, por exemplo?
Obviamente tudo o que se disse aqui é opinião. Mas o bom de ter opinião é que para isso foi preciso refletir! Usemos a razão, não sejamos marionetes dos que ousam mais que nós.
Há muito se foi o tempo em que os detratores do Espiritismo, encarnados e desencarnados, faziam de tudo para nos afastar da doutrina. Hoje eles avançam para dentro das casas espíritas, vestem as camisas de trabalhadores e mentores, fazem-nos focar em novas terapias e ortodoxias, estimulam brigas por pensamentos diferentes, provocam exacerbado interesse pelo poder, alimentam vaidades e melindres, insuflam equívocos em forma de romances “água com açúcar”, enfim, agem em todas as frentes para que não façamos apenas o que é necessário: estudar para raciocinar, compreender para praticar ESPIRITISMO.
Fraternais abraços!
Vania Mugnato de Vasconcelos
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