O PROBLEMA DO MAL E O PECADO NA FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO

VALTÍVIO VIEIRA

Formação do Autor: Curso Superior em Gestão Pública, pela FATEC – Curitiba – PR; Licenciado em Filosofia, pelo Centro Universitário Claretiano – Curitiba – PR, Licenciado em Ciências Sociais, pela UCB – Universidade Castelo Branco – Rio de Janeiro – RJ, Pós-Graduado em Ciências Humanas e suas Tecnologias; Contabilidade Pública e Responsabilidade Fiscal; Formação de Docentes e Orientadores Acadêmicos em Educação à Distância, e Pós-Graduando em Metodologia do Ensino Religioso, ambos pela FACINTER – Curitiba – PR.

SÃO BENTO DO SUL - SC

2012

O PROBLEMA DO MAL E O PECADO NA FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO

Dentro da filosofia, o mal é um tema que, com o passar dos tempos, muitos filósofos tentaram solucioná-lo. Muitos pensadores deram seus conceitos dentro da filosofia, principalmente através da metafísica. Outros pensadores se detiveram sobre o problema do mal dentro da teologia. Enfim, na historia da filosofia, o mal tentou ser solucionado através da fé e da razão. No final do século IV, Aurelius Augustinius, após sua conversão, apresenta um conceito para o mal, que é aceito para o resto da história.

O homem possui o ato livre ou à vontade, e através deste ato livre o homem tem a possibilidade de afastar-se de Deus e conseqüentemente do Bem. E este afastamento de Deus pode ser uma aproximação do homem com o mal “tal afastamento significa, porém, distanciar-se do ser Eterno” (AGOSTINHO, 1997, p.20).

Desta afirmação de Santo Agostinho, pode-se tirar o eixo central da sua tese principal para explicar o mal. E se o homem usa de sua liberdade, ele tem inteira responsabilidade, quando converte em pecado, ou então quando faz o mal.

Os bens materiais são belos e atraentes. Para o homem pode ser um deleite vivenciar estes bens e gozá-los, mergulhando-se inteiramente no mal e no pecado. “Esses bens são, sem duvida belos e atraentes, ainda que, comparados com os superiores e celestes, não passem de desprezíveis e imundos,... o ouro, a prata, os corpos belos e todas as coisas são dotados de um certo atrativo” (AGOSTINHO, 1997, p.20). O mal oferece ao homem uma vida prazerosa, do mal há uma aparência de bem. O prazer da carne é intenso e acaba em ilusão para o homem.

Apesar destes bens materiais serem inferiores e de baixa categoria, eles acabam por iludi o homem, levando-o ao pecado. Agostinho vivia em pleno pecado, longe da verdadeira felicidade, e se deleitando em prazeres. Enganar a si próprio. Antes de o homem praticar contra a própria vontade, algo que não gostaria de fazer, já sofre com os resultados. Esse sofrimento para Agostinho é o próprio mal.

Em algum momento, Agostinho chegou a concluir que buscava o mal de forma errada. E nesta busca a resposta do problema do mal, Agostinho não enxergava o problema do mal dentro do mal. O Santo queria ver o mal como se o mesmo fosse alguma coisa de positiva, ou se tivesse algo de bom, dentro do mal. Ele não compreendia que o mal é ausência do ser ou da perfeição.

Deus, que deu aos homens o livre-arbítrio para que o adorassem não por necessidade, mas na condição de homens livres, deu-o também aos anjos. Por isso o anjo faltou por orgulho à obediência a Deus, não prejudicou a Deus, mas a si mesmo: pois Deus sabe reduzir à ordem as almas que o abandonam, e sabe prover as partes inferiores de sua criação, por causa de sua miséria, que é justa (AGOSTINHO, in A Instrução dos Catecúmenos, p. 75-76).

O mal procede da vontade própria. O homem é a causa de todos os seus embaraços; e que estes constituem uma ilusão que é o mal, em outros termos, não se passa de uma aparência enganosa, o ser humano pelo seu querer, ou seja, pela sua própria vontade ou liberdade, que faz o mal “tinha a certeza de que sempre que eu decidia querer ou não querer uma coisa, era eu e não outro quem queria, e via cada vez melhor que aí estava a causa do meu pecado” (AGOSTINHO, 1997, p. 162). O ser humano deve lutar durante a sua vida contra o mal, pois sempre haverá a possibilidade de cometê-lo.

Devemos lutar pelo resto da vida com a vontade para o mal que permanece em nós depois do batismo. O fato de que a vontade má permaneça em nós não é em si importante, não é preciso sentir-se culpado se a ela não cedermos. Como estamos inclinados a fazer por causa de nossa condição decaída, podemos, com ajuda da graça divina, emprugar nossos pecados pelo arrependimento e começarmos de novo. Chegaremos à perfeição por um processo de ativa cooperação com a graça de Deus. Não somos pedras que podem ser movidas passivamente, mas seres racionais e livres que devemos exercitar nossas vontades. (AGOSTINHO, in De Peccatorum meritis et remissione, p. 6)

A liberdade torna o homem responsável por seus atos, na medida que forem voluntários. A escolha da desobediência e do mal é o abuso da liberdade e conduz à escravidão do pecado, através de suas paixões mundanas.

As paixões são chamadas voluntárias, ou porque são comandadas pela vontade e porque à vontade não lhes opõe obstáculo, se o homem não quiser ele consegue pela sua vontade suportar e não cometer o mal ou o pecado. Santo Agostinho depois de toda sua vida de escravidão pelos prazeres argumenta.

Na verdade, é preferível ser escravo do homem a sê-lo da paixão, pois vemos tiranicamente exercer seu domínio sobre o coração dos mortais a paixão de dominar, por exemplo. Mas na ordem de paz que submete uns homens a outros a humildade é tão vantajosa ao escravo, como nociva ao dominador da soberba. (AGOSTINHO, in A Cidade de Deus II, p. 406).

Os vícios que são compostos pela soberba inveja, ira, luxuria, gula, preguiça e outros, escravizam o ser humano e o mesmo sempre faz o pecado. Através da soberba se peca muito contra Deus: recusa-se a graça de Deus e nega-se sua força. A pessoa não vive a caridade com o próximo, a pessoa faz mal a si mesma, pois se fecha em si mesma, nega a verdade de que todo ser humano, precisa de outro para viver.

Como podemos ver todos estes vícios, são causados pela vontade humana, mas Deus é bom, apesar de nossas maldades e mau uso das nossas vontades e liberdades. Mas Deus sempre nos dá e concede a liberdade de escolha, para aceitá-lo ou negá-lo ou recusar o seu amor, trocando-o pelos nossos vícios.

Ora, o vicio é contra a natureza e não pode senão prejudicar a natureza. Portanto, não seria vicio afastar-se de Deus, se não fosse conforme a natureza estar com Deus. A própria malícia da vontade é, pois, o poderoso testemunho da bondade da natureza. Mas como Deus é o criador soberanamente bom das naturezas boas.(AGOSTINHO, in De Disciplina Christi, p. 7)

Cada pessoa é responsável pelos pecados que faz, “as más ações ou pecados não seriam punidos em plena justiça, se não tivessem sido praticadas de modo voluntário” (AGOSTINHO, in A Cidade de Deus I, p, 36-37).

Resumindo a doutrina Agostiniana a respeito do mal. O mal é fundamentalmente a privação do bem. A realidade do mal contradiz a bondade perfeita de Deus. O mal é privação do bem, tudo que é, bem ou mal, não é substância, é bem.

O homem foi abandonado a si mesmo por que abandonou a Deus, comprazendo-se a si mesmo, e não obedecendo a Deus, não pode obedecer a si mesmo. Sua mais evidente miséria procede daí e consiste em não viver como quer. É certo que, se vivesse a sua vontade se julgaria feliz; na realidade, porem, não o seria se vivesse torpimente. (AGOSTINHO, in A Cidade de Deus, p. 166)

REFERENCIA

AGOSTINHO, Santo. O Livre-Arbítrio. Trad. Antonio Soares pinheiro. Braga: Faculdade de Filosofia, 1986.

_________________. A Cidade de Deus II. Trad. Oscar Paes Leme. São Paulo: Vozes, 2 ed., 1991

_________________. A Vida Feliz. Trad.Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 1998.

_________________. A Instrução dos Catecúmenos. Trad.Maria da Gloria Novak. Petrópolis: Vozes, 3 ed.,1984.

_________________. Confissões. Trad. Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus, 1997.

Valtivio Vieira
Enviado por Valtivio Vieira em 29/05/2012
Código do texto: T3694497
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