A fé cristã conduz ao martírio

No princípio da era cristã os indivíduos, quando se convertiam ao cristianismo, estavam com isto, assinando a própria sentença de morte. Ser cristão era algo perigoso que colocava em risco a pessoa, sua família e seu status social. No Império Romano os cristãos eram chamados de hereges por sua recusa em prestar culto aos deuses pagãos.

Naquela época não existiam as grandes e suntuosas instituições cristãs. As igrejas não tinham CNPJ e nem status jurídico reconhecido na sociedade. Era só o grupo de pessoas, na sua maioria pobres, doentes, gente marginalizada, aqueles de quem o mundo havia esquecido, que se reuniam para adoração nalguma casa ou em qualquer espaço disponível. O sofrimento, as privações, o desconforto e, sobretudo, as perseguições eram parte integrante da vivência cristã (I Pe 4:12-14). No entanto, aquelas pessoas gozavam de um equilíbrio e de um vigor espiritual tão contagiante que através de seu estilo de vida, cada vez mais pessoas eram atraídas a Cristo.

Quero reafirmar, considerando todas as mudanças históricas e sociais que ocorreram daqueles primeiros séculos para cá, que a fé cristã continua nos desafiando à renúncia, ao auto-sacrifício até que Cristo retorne. Hoje somente algumas poucas nações ainda perseguem pessoas pelo fato de serem cristãs. Porém, mesmo em nossas sociedades ocidentais, onde se proclama a liberdade de expressão e de culto, o cristão é e continuará a ser “martirizado”, pois a lógica do Reino de Deus – que rege a vida cristã – é frontalmente contrária à lógica do mundo.

Estou considerando martírio num sentido amplo incluindo todas as práticas nas quais cristãos são discriminados ou colocados em condição de inferioridade ou discriminados por causa de sua fé. Apesar de não serem levados à fogueira, ou à crucificação, em nossos dias eles são desafiados a enfrentar outras situações que implicam em renúncia e sofrimento. Os exemplos são muitos: é a funcionária que é penalizada por não ceder aos assédios do chefe, e por isto demitida ou mantida em funções inferiores à sua capacidade; é o adolescente ou jovem cristão que, em nome de sua fé se recusa a participar de certas práticas - aceitas com naturalidade pelo grupo, mas incoerentes com a vivência cristã - e por isto é isolado da turma; é o comerciante que, por fidelidade a Deus recusa-se a fazer negociações desonestas e é massacrado pela concorrência... Enfim, há uma infinidade de situações nas quais cristãos estão sendo chamados ao martírio.

Isto, contudo, não significa que se deve manter uma atitude de passividade ante as forças da injustiça. Muito menos ficar cultivando síndrome de perseguição. Há muitos que fracassam por incompetência, por irresponsabilidade, por preguiça ou por falta de bom senso na condução da vida e vivem tentando justificar seus próprios erros e fracassos culpando supostas perseguições.

É possível que por sua fidelidade a Cristo você esteja enfrentando essa espécie de martírio. Não se desespere, pois, é necessário aos discípulos de Cristo passarem por isto para que sua fé seja purificada e seu caráter aperfeiçoado em Cristo. Em meio a toda tribulação deve bastar aos fiéis a suficiência da Graça que nos foi concedida. Além disso, você e eu podemos contar com as múltiplas promessas e a companhia constante do Senhor nos momentos mais desesperadores.