Por Uma Religião

“Se conselho fosse bom, a gente não dava, vendia”. Isso é mais velho que a necessidade da cópula. Inerente aos animais. Entre eles, os humanos. O intercurso carnal é uma imposição da Natureza. É a forma com que se perpetuam as espécies. Houve talvez circunstâncias em que a cópula já foi considerada entre nós como um pecado. Tal como a masturbação. Não deveriam ambas ser tidas como pecado. E muito menos mortal. Designação absurda que só tem cabimento em cabeças que se acreditam fundamentalistas, mas que não passam de mentes destruidoras de vida e de alegria. Mentes doentias.

Deveria a cópula ser tida como uma Certidão de Inocência. Exatamente por ter feito parte das intenções primeiras do Criador. Se é justo supor os que nele acreditam. Um Criador que criou os seres para serem felizes. Muito embora, ao torná-los juízes de seu próprio destino, tenha deixado-os ao sabor de seus desatinos. E aí vem dando no que deu. O homem escolhe os seus próprios caminhos que, quando não acabam em encruzilhadas, chegam aonde não se tem saída. Ou onde não se tinha que chegar. De qualquer forma há o caminho de volta. Ou uma outra opção. O poder de decisão caberá ao homem, esse sofisticado animal que submete os outros aos seus desígnios. E faz o mesmo com outros homens a quem lidera. Muitas vezes é pior que a fera que tememos. Mas que temos condições de enfrentar (e até exterminar), por não ter a sofisticação e os recursos de que o homem dispõe.

Só que, diferentemente da fera indomável, quando um homem consegue reunir e liderar um grupo de homens que passa a acreditar inquestionavelmente em suas verdades, torna-se difícil a sua exterminação. E embora fisicamente ela aconteça, pode ser que suas idéias permaneçam por anos, por séculos. Alguns vão dizer que para sempre. Certamente é o caso de Jesus. Certamente hoje muito mais que um homem para muitos. Tal a sua grandeza espiritual. Mas, sem dúvida, fundamentalmente o homem que “morreu na cruz para nos salvar”. Buda, Mahatma Ghandi, Maomé e outros estariam nessa condição suprema de espiritualidade. Não tendo sido felizmente portadores de mentes doentias. Ocorre que só podemos sentir esses espíritos no ar. O que pode ser muita coisa. Mas não é tudo, diante da falta do apoio ou do amparo de suas presenças físicas. Ficando nesse intervalo a presença daqueles que se dizem seus representantes. E aí tudo muda de figura.

Só para exemplificar, citamos o caso daqueles que são favoráveis às discriminações homofóbicas em nome de Deus. Alegação hipócrita porque não se pode garantir que Deus tenha alguma coisa a ver com isso. A não ser a partir dos livros, bíblias e escrituras também feitas pelo homem e por ele alardeadas como sendo “em nome de Deus”. Como já houve (ou ainda há?) as discriminações de teor racista ou da cor da pele também realizadas em nome de Deus. Não nos esqueçamos do tempo em que os negros eram também escravos para os senhores da Igreja.

Por tudo isso, pode ser que seja inócuo dar conselhos. No entanto, diante de tantas realizações “perturbadas” ou perturbadoras do homem, é possível que possamos admitir como razoável, pelo menos, ter medo de religiões. De quaisquer naturezas. Porque muitas delas podem estar bem longe do que ensinaram os seus próceres. Que possivelmente nem tiveram a preocupação de batizá-las desse ou daquele nome. E se encontram inteiramente deturpadas pelos que se acharam ou se acham na condição de interpretar o que não aprenderam direito.

Nesse sentido, ainda sem querer dar conselho algum, talvez fosse preferível construirmos a “nossa” religião. A partir de gente como Noel Rosa, Gonzaguinha, Dom Helder Câmara, Assis Valente, John Lennon, Oscar Wilde, Cartola... E, claro, sem nos abstermos de toda a integridade espiritual de Jesus, Buda, Maomé, Madre Teresa de Calcutá, Mahatma Gandhi e muitos outros que estão sempre do nosso lado, embora nem sempre a gente consiga enxergar.

Maricá, 21/10/2012

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 21/10/2012
Reeditado em 27/10/2012
Código do texto: T3944819
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