TODOS OS SANTOS “Alegrai-vos”
TODOS OS SANTOS
“Alegrai-vos”
Palavra da Liturgia – Mt 5, 1 a 12
Neste dia celebremos a vida de santidade de todos os santos centralizada em única festa nesta solenidade. Dos que conhecemos, dos que veneramos e de todos os que passam despercebidos em nosso meio. E, por não ser feriado no Brasil neste dia a Igreja celebra no domingo depois do dia primeiro.
A vida e a história de todos os santos são o motivo de nossa Ação de Graças, pois a Graça de Deus foi vitoriosa não só em Cristo, A Cabeça, mas em todos os seus membros. Os santos são para nós exemplos de vida em Deus a serem imitados, mas principalmente nos mostram que é possível viver Deus em vida ou viver a vida de Deus.
Quais os caminhos a trilhar para alcançarmos a santidade e sermos felizes (bem aventurados) em nossa vida?
O evangelista Mateus através das Bem-Aventuranças relata a Graça em caminhar na santidade:
Os que têm um coração de pobre. Só quem tem um coração desprendido poderá entender e apropriar-se verdadeiramente do reino de Deus. Todos os pobres de espírito: aos pobres, aos desprezados e marginalizados pela sociedade e aos que souberam colocar sua confiança no Senhor. São os que têm a consciência da dependência de Deus. A palavra pobre recorda os ‘anawim’ do Antigo Testamento e da época de Jesus: são os que depositaram sua confiança em Deus enquanto última instância, porque a sociedade lhes negava justiça.
Os que choram (aflitos). Os que não experimentaram a alegria de viver porque não tiveram oportunidades iguais a todos. Para àqueles que carregam a dor do sofrimento e os compassivos que choram por aqueles que sofrem. Serão consolados pelo Deus de Jesus Cristo que é o consolador.
Os que são mansos. Os que são dóceis ao Espírito de Deus. Os obedientes a tudo o que Deus ordena em sua vida. Serão os verdadeiros possuidores da terra. Este reino começa aqui nesta terra e tem um sentido de que o homem pode se esforçar por um mundo melhor.
Os que lutam por justiça. Todos os que têm fome e sede de justiça. Num mundo tão desigual temos que tratar a justiça como se fosse alimento e água para o sustento. Assim como tenho sede de água e de comida e sacio esta sede e fome, assim também devo ter sede e fome de justiça e saciá-la até o fim. Um cristão autêntico só é de fato feliz, farto, pleno e preenchido de bênçãos quando ele promove a vontade e a justiça de Deus. E só será plenamente farto se antes for plenamente faminto e sedento por justiça.
Os que possuem a misericórdia. Os que sabem perdoar, que não guardam mágoa e rancor. Os que não condenam e não julgam o seu próximo. Quem não possui preconceito. Os que solidarizam e os que aprenderam a partilhar. Misericórdia é uma palavra composta por “miséria e coração”. É olhar para a miséria do outro com o coração e não com a razão.
Os que são puros. Àqueles que enxergam a presença de Deus no outro. Os que confiam na pessoa, mesmo que pareça ser impossível que ela mude. Para os semitas (povo da bíblia), o coração é a sede das opções profundas que marcam a vida inteira. Ser puro de coração é ter conduta única, em perfeita sintonia com o Reino. No Antigo Testamento, a pureza dependia de uma série de ritos mediante os quais as pessoas tinham acesso a Deus. Na nova Aliança, a pureza é sinônima de opção pelo Reino de Deus (=optar por Jesus) e de respeito pela vida das pessoas.
Os que são pacíficos. Que desejam e constroem a paz por onde anda. A paz (shalom) que propõe o Evangelho é a dignidade da vida em todos os sentidos. Não se trata de uma paz meramente pessoal, egoísta, mas também a nível social. Estes são chamados filhos de Deus.
Os que são perseguidos por causa da justiça. Os que são mártires porque defenderam com a vida a palavra de Deus e o irmão que sofre. Assim permanece a ideia de que “o justo deve sofrer a causa da injustiça”.
Enfim por todos os que são caluniados, todos os que sofrerem qualquer maledicência seja pela língua ou pelas ações por causa de Deus. Última bem-aventurança revela as tensões e conflitos enfrentados pelas comunidades siro-palestinenses no meio das quais nasceu o Evangelho de Mateus. No tempo em que o evangelho foi escrito, essas comunidades passavam por crise de identidade, com perigo de abandono do Projeto de Deus. Os conflitos vinham de fora: a sociedade estabelecida começou a difamar os cristãos, caluniando-os e perseguindo-os. Tornava-se difícil resistir diante das pressões e tribulações de toda espécie.
Na época de Jesus acreditava-se que os ricos, os poderosos, os abastados, os sadios eram os únicos abençoados por Deus; enquanto o pobre, o miserável, o doente era um amaldiçoado por causa do pecado.
O Sermão da Montanha é, portanto, uma visão revolucionária e visionária de Jesus.
Jesus emitiu um nítido chamado a seus discípulos para que fizessem uma saída moral e espiritual de uma sociedade dominada pelo orgulho e ambição. Jesus está dizendo a este grupo comum de homens e mulheres que eles foram marcados para preservar e iluminar o mundo.
Portanto o Sermão da Montanha não é uma norma ou uma nova Lei promulgada por Jesus. Mas acima de tudo uma constatação onde verdadeiramente o Reino de Deus se encontra.
Para acontecer o Reino é preciso de uma mudança de mentalidade, esta mudança exige uma revisão de ideias e atitudes e da reformulação de conceitos já bem conhecidos, porém tão poucos vividos.
O Sermão da Montanha deve ter impactado aquele povo do primeiro século. Uma fórmula para sucesso mais improvável poderia dificilmente ter sido imaginada. Eles assaltavam cada conceito da sabedoria convencional e deixavam o ouvinte chocado e perplexo.
Mudanças exigem perdas e aceitação dos erros. Exige enfrentamento de paradigmas. Eis um caminho que a sociedade não gosta de trilhar. Aceitar o novo já é um grande desafio, imagine então acolher o novo sendo ele conceitos antigos e tão óbvios? Seria como “assinar o atestado de ignorância”!
Quem passa por tudo isso aparentemente parece ser alguém sofrido, triste e derrotado. Pelo contrário é no fraco que Deus se faz forte.
Para entender é preciso ter uma visão espiritual, um espírito de santidade.
É mais fácil rotularmos certas ideias como fracassadas do que assumir decisões tomadas equivocamente.
Que Deus nos ajude a enxergar o que é essencial em nossa vida cristã. O santo faz a diferença! Neste quesito preciso muito da ajuda divina.
Gilberto Ângelo Begiato http://gilbertobegiato.blogspot.com.br/