O HOMEM SOB O ENFOQUE DIVINO

Como não tinha matéria nova sobre a Páscoa, achei que a presente, O Homem sob o enfoque divino que faz parte de livro meu já publicado, seria apropriado neste tempo de Páscoa que deve ser de reflexão:

Talvez seja muita pretensão do homem se arguir como o principal motivo da preocupação divina. Mas se retrocedermos pelos caminhos da história da humanidade, com boa vontade e com seriedade talvez os olhos da alma consigam penetrar neste mistério formidável que envolve a criação humana.

Comecemos, então por Adão, para seguirmos os caminhos de que nos fala a Bíblia. É a partir desse momento que começa a nossa grande interrogação, ou o mistério. Porque interessaria a Deus, ser infinito, criador do Universo, e senhor de todas as coisas criar o ser tão frágil chamado homem? Se já tinha criado outros seres, ainda que estes não fossem dotados de inteligência. Seria para ajudar a conservar o Planeta Terra e tudo o que dele faz parte? Mas afinal tem sido este homem através dos tempos, o seu maior predador. Mais, se Deus já era rodeado de seres superiores, os anjos, mais próximos de sua natureza divina, se é que assim podemos dizer, por que então o homem? Eis a pergunta.

Será que seus planos iniciais eram realmente estes? Ou seja, será que Deus queria fazer do homem, um ser imorredouro desde aquele instante em que sobre ele soprou o sopro vivificante, e o dotou de espírito? Tudo é mistério que transcende à nossa inteligência, e tudo nos leva a crer que com tais dúvidas havemos de morrer, socorridos ou reconfortados apenas na Fé. E é sob o prisma da fé, que temos que nos debruçar para tentar entender os sinais que Deus tem enviado à humanidade, que nos revela que não estamos sós, pois se nos formos ancorar apenas na ciência, não passaremos de deserto de incertezas, grãos de areia ao sabor dos ventos. E o maior de todos os sinais é sem dúvida a encarnação do próprio Deus sob aparência humana, seu filho Jesus Cristo, que por aqui passou, sofreu a maior humilhação que foi a morte de cruz, por amor à sua criatura, o ser humano.

Adão e Eva desobedeceram a uma ordem explícita, e a humanidade então, caiu em desgraça perante seu criador. É difícil entender todo este mistério? É com certeza...

Penso que Deus terá ficado num grande dilema, se é que Deus tem dilemas, perante o inusitado da súbita transgressão, da criatura que ele tenha planejado de quase perfeição, pois a fez à sua imagem e semelhança. Deus ser perfeito, após a transgressão deve ter desejado extirpar o mal pela raiz. Mas, justamente por ser perfeito, não poderia arrepender-se da sua obra, e a tal extremo não chegou. Começou então o grande drama e o mistério que transcende ao homem e, por ser mistério, extrapola a nossa inteligência. E, por que Deus terá achado que o homem valia a pena, ou quem sabe o porquê, arquiteta então o plano da Redenção da humanidade, através do sacrifício do seu próprio Filho, para consertar o que havia sido quebrado. Mas, então, se Deus é infinitamente bom, por que sacrificar seu próprio Filho? Mistérios. Desígnios de Deus, que extrapola a nossa compreensão, que é finita. Deus ao correr dos tempos tem caminhado com a humanidade dando-lhe sinais de sua presença e, de seu amor, especialmente nos momentos de suas maiores tribulações. Às vezes quando nos parece tudo estar irremediavelmente perdido, eis que a sua mão amiga vem em nosso auxílio.

Não o vemos, é certo, mas como ao vento, sentimos sua carícia e a força a nos amparar para continuarmos a nossa jornada. Ainda assim, continuamos a duvidar. Afinal somos seres humanos e seres pensantes.

É talvez “a ânsia de viver, defendendo-se das ciladas da existência, fugindo à dor e à morte”, como diria Ferreira de Castro, que o homem sente a necessidade de duvidar, ainda que lá do fundo de sua alma ele queira piedosamente acreditar.

Eduardo de Almeida Farias

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